Denise Assis
O ano de 2018 já começa antecipando o calendário, levando o foco da política para o dia 24 de janeiro, data em que o TRF-4 irá decidir o destino do ex-presidente, Luiz Inácio Lula da Silva, líder nas pesquisas para as eleições de outubro. Até lá, vê-se nos espaços tradicionais de mídia uma verdadeira campanha pela sua condenação. Por exemplo, a entrevista do presidente de honra dos tucanos, FHC, concedida a um jornal de grande circulação, de São Paulo, e reproduzida em uma das revistas semanais, em que diz: “o país não vai tremer se Lula for condenado”.
É até possível que não trema, pois, o jogo explícito e escancarado de condenação prévia pode, mesmo, quebrar o fator surpresa. Mas eu não teria tanta certeza. O que FHC não leva em conta é que o fator rejeição a Michel e à sua política de extinção dos direitos do trabalhador tem afetado a vida nacional muito mais do que ele imagina, e indignado até os que bateram panelas para tirar a presidenta Dilma.
A leve recuperação das commodities lá fora, uma insignificante retomada da economia e um certo otimismo no ar (graças ao endividamento, no cartão, feito pelos brasileiros, no Natal), não significa que a população não perceba o índice absurdo de desempregados, e todas as dificuldades por que o país atravessa.
Enquanto a direita torce pela condenação de Lula, Freixo, o ex-candidato à prefeitura do Rio, aposta na desunião das esquerdas para tirar Lula do páreo e dar uma “arejada” na política, com a ajuda da turma da casa da Paula Lavigne. Para Freixo e uma parcela dos que se fragmentaram em candidaturas isoladas para a presidência, a cláusula de barreira, que ameaça os partidos menores de extinção, tem falado mais alto.
Em tempos normais de temperatura e pressão, quando a política corre seu curso, seria até compreensível que assim se comportassem em defesa do seu quinhão. O que causa espanto, no entanto, é que não se deem conta de que os tempos não são de normalidade. Estamos vivendo um período excepcional, em que temos na cadeira da presidência um governo ilegítimo, aprofundando a cada dia o golpe que perpetrou.
Não é possível que os vários segmentos da esquerda não percebam que quem foi capaz de, num país em crise aguda, investir bilhões em duas rodadas de leilões de medidas para salvar a própria pele e o direito de permanecer na cadeira, vá entregar o poder de bandeja para um partido que acabaram de golpear. Não estarão sendo por demais ingênuos?
O que mais se escuta, da boca desses cidadãos, é a expectativa de união das esquerdas “no segundo turno”. Alô? A direita golpista está entrando nesta eleição para ganhar, ou ganhar. E, para isto, não importam fraudes, e novos golpes. Será que esses que estão à espera do “segundo turno”, não se deram conta de que esta é uma eleição para ser definida no primeiro turno, e ponto?
Então, meus amigos, ou as esquerdas se unem agora, entendendo de vez que é uma questão de vida ou morte da defesa das ideias nas quais acreditam, ou vão morrer na praia, esperando Godot. Não haverá união das esquerdas no segundo turno, porque segundo turno não haverá.