(Foto: Divulgação)
O Cafezinho tem a honra de publicar um importante artigo do vereador David Miranda (PSOL-RJ), com denúncias e críticas à administração Marcelo Crivella, prefeito do Rio de Janeiro. Em se tratando da segunda maior cidade do país, é um assunto que interessa a todo país.
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Um ano de poder
Por David Miranda, vereador
Neste primeiro ano de administração, o prefeito do Rio se destacou por suas práticas antidemocráticas. O aval que Crivella recebeu dos cariocas nas urnas ganhou o contexto arbitrário do “eu sou o poder, falo o que eu quero e faço o que entendo como melhor”. Para fechar o ano, enviou à Câmara Municipal um pacotão com 18 projetos, a fim de que sejam aprovados sem serem analisados pelos vereadores. Assim, no escuro e no vapt vupt.
O que vemos é uma postura de desprezo pela população e de uso da mentira sistemática, com uma forte carga de desrespeito à diversidade, demonstração clara de comportamento fundamentalista.
Ao longo de 2017, o carioca se deparou com medidas inéditas de negação à diversidade. A última foi a crise do corte de verba para a procissão “Barco de Iemanjá”, comemoração que acontece na cidade há 13 anos.
Dessa maneira, o administrador do município tem gerado tensão e lançado grupos da sociedade contra outros. Não à toa, um dos primeiros alvos foi a Parada LGBT. Por meio de notas, os movimentos LGBT souberam, no início deste ano, que a prefeitura não iria oferecer ajuda financeira à Parada de Copacabana. Claro que não faltaram declarações públicas de uma parcela da sociedade contra a Parada enumerando razões homofóbicas.
Mesmo assim, o movimento organizado levou a Parada às ruas. No entanto, podemos assegurar que, devido a toda essa incerteza, o número de turistas no Rio que lotam hotéis na época da caminhada na Zona Sul foi menor do que nos anos anteriores.
Nem o tradicional carnaval escapou. Ao revelar redução de verba, Crivella semeou a falsa controvérsia: “É melhor investir no carnaval ou em creche?”. E as redes sociais passaram a atacar a festa do Momo. Nenhuma dessas críticas levou em conta o fato de o carnaval gerar lucro e empregos para a cidade. Já os carnavalescos estão até hoje sofrendo com a falta de apoio público às escolas de samba no ano que vem.
O decreto que transferiu para o gabinete de Crivella a concessão de licenças para os eventos religiosos na cidade gerou outras discórdias com os praticantes de religiões de matriz africana.
Usando o mesmo método, nos surpreendeu com os golpes à exposição de arte no MAR, assegurando que moradores do Rio não queriam “exposição imoral”, o que levou os
coordenadores do museu a suspender o evento.
Lembremos que, durante a campanha eleitoral, o prefeito prometeu não misturar religião com política. Sem demonstrar constrangimento, suas crenças são evidenciadas nas aparições públicas, em que confunde o cargo na prefeitura com o de bispo. Neste aspecto, temos ainda as nomeações de vários pastores para secretarias municipais e para a Comlurb em vagas de profissionais eminentemente técnicos.
O censo da Guarda Municipal em que havia um questionário sobre a religião dos guardas foi outro exemplo gritante do “valor da fé” na atual administração.
Crivella exercita outra prática inadequada ao cargo: desaparece habilmente da população e até dos vereadores, aos quais tem o dever de prestar esclarecimentos sobre os atos na prefeitura.
São tantos os exemplos, que vale começar citando as seis viagens que fez ao exterior – muitas com agendas religiosas – mas que o carioca não soube quando ele saiu do Brasil, nem tampouco foi informado sobre a data de seu retorno.
Porém, pelo Diário Oficial, descobrimos que ele próprio aumentara, em plena crise, em 47% o valor das suas diárias de viagem.
Em uma democracia, pressupõe a relação baseada em verdades, respeito e transparência entre representantes e representados, afinal os meios de comunicação e a sociedade como um todo têm liberdade de expressão para fiscalizar e cobrar atos dos políticos. Creio que mentiras, descasos, preconceitos e habilidades para agir às escondidas não serão tolerados pelo povo carioca em 2018. O Rio de Janeiro, cidade plural, tem um histórico de resistência popular e democrática muito forte.
DAVID MIRANDA (Primeiro vereador LGBT da Câmara Municipal do Rio – PSOL).