(Marum executando a dancinha – Folha de São Paulo)
Denise Assis
“Tudo está no seu lugar, graças a Deus/ Graças a Deus”. O samba que embalou a “dancinha” do deputado federal Carlos Marum (PMDB-MS), após a vitória da votação que impediu Michel de ser investigado em segunda denúncia, não foi uma escolha aleatória. Apesar de ter levado o seu compositor, Benito de Paula, à exasperação, por ver conspurcados os versos que fez em homenagem à mãe, definiram como nenhuma outra canção definiria o quadro político atual.
Ao assumir a Secretaria de Governo e ocupar o espaçoso gabinete no quarto andar do Palácio do Planalto, o deputado Marum só estará coroando um processo que vem costurando desde o início do golpe. Sua posse quer dizer apenas o seguinte: Eduardo Cunha está e sempre esteve no poder. A ordem de Michel, dada a Joesley Batista, durante aquela conversa que as jogadas judiciárias quis que acreditássemos que nós nunca ouvimos o que ouvimos e nunca vimos o que vimos, foi muito clara. “Tem que manter isto, viu”. E está mantido.
Em 30 de novembro, quando já se dava como certa a ida de Marum para um dos ministérios que o PSDB deixaria, fingindo abandonar o governo, o deputado, usando um jatinho oficial, (ele acabou ressarcindo os cofres, depois de denúncia na grande imprensa), rumou para uma visita “natalina” a Cunha, em sua prisão (?) em Curitiba. Não é difícil imaginar sobre o que conversaram. Poder, o jogo do poder, e como ficaria o poder, agora que Marum, seu defensor até a última hora, estaria transitando com ainda mais prestígio, pelos corredores do palácio.
A feição que o governo ganha com sua chegada lá tem a face do cinismo de uma república da impunidade, amparada por um judiciário cúmplice, que nos quer impor um faz de contas. Uma mala não é nada, olê, olê olá! Mais uma mala não faz falta, olê, meus cavaleiros!
Enquanto a mídia nos empurra o Natal da economia ascendente (???), – com o índice de desemprego batendo no teto -, a república de Curitiba se apressa em retirar o ex-presidente Lula da disputa eleitoral (se é que vão deixar que ela aconteça), e o grupo responsável pela urdidura do golpe se desincumbe das graves acusações. Seguem sob a batuta de Eduardo Cunha, ungido e garantido por Michel, blindando a turma governista das ameaças de aprofundamento das investigações, na base do “um por todos e todos por um”.
Até Marum, escalado como espadachim de primeira hora, tem lá seus entraves com a Justiça, em processo por improbidade administrativa, quando era presidente da Agência de Habitação Popular de Mato Grosso do Sul (Agehab), segundo reportagem do jornal “O Estado de S. Paulo”. Em denúncia do Ministério Público Estadual, aceita pela Justiça, Marun é acusado, juntamente com outros 13 réus, de causar lesão ao erário em valores estimados em R$ 16,6 milhões.
Isto posto, faz-se necessário evidenciar o seu prestígio, manter Cunha satisfeito, (viu), e garantir que a gangue dos acusados governistas tenha um horizonte tranquilo para 2018, quando então as atenções estarão todas voltadas para as questões eleitorais. Portanto, “tudo está no seu lugar. Graças a Deus.”