Já está mais do que evidente, para quem entende minimamente de comportamento eleitoral, que será impossível acharem algum candidato que possa vencer Lula em 2018.
Aliás, para poder impedir que Lula em 2018 vença no 1º turno, eles vão ter que colocar como candidatos todas as celebridades disponíveis: dois juízes pavões, um apresentador de TV, dois “gestores”, um santo, dois esquerdistas refinados, dois esquerdistas bravos, uma fada da floresta, um messias armamentista, um banqueiro ministro, um verde, um bando de pastores mui santos etc.
Será um zoológico de candidatos como nas eleições de 1989. Na prática, todos contra a vitória do Lula no primeiro 1º turno. Com muito esforço, muito dinheiro, muitos belos discursos e muitas mentiras, talvez consigam juntos impedir que Lula vença no primeiro turno. É o máximo que podem conseguir.
Eles sabem disso.
O golpe não foi dado para devolver o governo para o escolhido do povo e, assim, correr o risco de perder as “conquistas” que Temer ofereceu aos ‘donos do poder’. Por isso darão todos os golpes possíveis para impedir que Lula volte a ser presidente.
Haverá assim, pelo menos, mais 6 tentativas de golpe.
A primeira, todo mundo já sabe, será a condenação do Lula no TRF4, onde julga o compadre do Moro.
Enquanto isso, tentarão dar o segundo golpe, o do parlamentarismo ou “semipresidencialismo”.
O terceiro seria o que o genial Wilson Ferreira do blog Cinegnose chama de bomba semiótica. No caso, seria uma operação de sabotagem planejada teatralmente com a grande imprensa para ser divulgada de forma espetacular.
Algo que possa chocar a Nação tipo um assassinato ou uma queda de avião.
Isso pode ser contra inimigos ou aliados em potencial de Lula. Se for contra um inimigo seria algo que pudesse depois ser atribuído a Lula ou a algum apoiador. Se for contra um aliado pode ser algo que elimine uma base de sustentação fundamental a Lula e derrube a confiança de seus apoiadores. Esse alvo espetacular pode estar no Congresso, no judiciário, nas Forças Armadas ou ser alguém que tenha importância eleitoral. Pré-candidatos, juízes ou militares tendem a ser os alvos mais óbvios.
A quarta tentativa de golpe será a fraude eleitoral. O sistema de voto eletrônico brasileiro já convive com fraudes há muito tempo e nada pode ser feito contra elas porque o sistema é inauditável. Na prática, é possível escolher quem será eleito, sem nenhum vestígio legalmente comprovável de fraude. Além disso, quem vai investigar e julgar os acusados de fraude é o mesmo órgão que define todas as regras, administra todas as urnas, seus algoritmos e toda logística da eleição, Ou seja, quem podem fazer a fraude é quem vai julgá-la. E não é preciso pesquisar muito para saber de que lado esse órgão está. A fraude eleitoral em Honduras foi só mais teste antes de ser usado no Brasil.
A quinta tentativa de golpe será militar. Um golpe militar está sendo preparado no Brasil pelo menos desde 2013. Para isso adestraram uma parte da população para apoiar entusiasticamente tanto um golpe militar quanto qualquer tipo de saída através da violência. O fanatismo em torno da candidatura de Bolsonaro, adulado como “O Mito” por seus seguidores, é só uma evidência mais óbvia.
A sexta tentativa ocorrerá depois da reeleição de Lula em 2018. Será uma reedição do ‘Grande Cerco contra Dilma’ após a eleição de 2014. ‘O Grande Cerco contra Dilma’ já é uma figura clássica de golpe, quando se utiliza todas as armas simultaneamente contra um chefe de governo.
A sexta tentativa de golpe é a combinação das cinco acima citadas. Elas serão redirecionadas, no caso de não serem bem sucedidas, para ao menos produzir um Congresso e uma mídia mais hostil, um judiciário e um ministério público mais persecutórios e um clima de ódio, divisionismo e conflito civil ainda maior.
A sexta tentativa de golpe é a união de todas as armas golpistas articuladas para tentar colher pequenos recuos cumulativos por parte do futuro Presidente Lula a partir de 2019. Uma vez reeleito, à medida que Lula for cedendo espaços e recursos de poder, perderá a credibilidade frente aos apoiadores e capacidade de reação. Ao mesmo tempo, os recuos farão os inimigos se recuperarem dos desgastes do governo Temer e das derrotas em múltiplas tentativas de golpe.
É a única forma de impedirem que Lula reorganize seu novo governo a tempo de obter resultados, consolidando novamente uma fortaleza inexpugnável de popularidade. Se os inimigos de Lula puderem colher recuos, vacilações e quebras de promessas como colheram de Dilma em 2015, poderão novamente acumular recursos de poder e credibilidade junto ao povo para um golpe definitivo.
Todas essas tentativas de golpe acontecerão. É tão inevitável quanto uma picada em quem confia em escorpião. Os inimigos da vontade popular estão obcecados e tem à disposição todos os recursos necessários para promover esses golpes com, aparentemente, um mínimo custo ou risco.
Mas acredito que todos esses golpes fracassarão. Lula até agora teve muita sorte. Algo nos diz que essa sorte não acabará enquanto ele estiver defendendo as causas básicas do povo.
Todavia, sem um dispositivo amplo de defesa, cada golpe poderá causar grandes feridas e sofrimento. E não convém só contar com a sorte.
O antídoto aos golpes, um dispositivo amplo de defesa e reação contra esses golpes vai muito além de campanhas eleitorais. É preciso fortalecer vínculos sólidos com um conjunto de aliados mais amplo. Aliados que possam reagir contra cada uma das tentativas de golpe citadas, mas que sejam realmente leais, mesmo após as eleições.
Uma lealdade real só pode ser conquistada com a comunhão de ideais, caminhos, projetos e utopias. Hoje o PT ainda está oferecendo muito pouco nesse sentido. Está se baseando quase que apenas na recuperação das conquistas de seus governos.
Isso é insuficiente para conquistar partes importantes dos empresários produtivos, da classe média, do funcionalismo público, das forças armadas, da intelectualidade, dos outros partidos e políticos de esquerda, dos sindicatos, movimentos sociais recalcitrantes e dos jovens.
Todos esses setores se sentem parcialmente descontentes, não contemplados ou pouco entusiasmados com o simples retorno ao que foi o governo Lula. Promessas específicas a cada um desses setores tendem a ter um impacto pequeno porque carecem de credibilidade. Além disso, podem gerar contradições e objeções mútuas entre esses grupos ou, ainda, com outros grupos de aliados fiéis ou potenciais de Lula.
O antídoto a todos esses golpes é conseguir um discurso unificado que garanta aliados fiéis em todos os grupos citados acima e que, não por acaso, são base de apoio fundamental em todos os tipos de golpe.
Esse discurso precisa se alimentar de um arcabouço e uma narrativa que sintetize e unifique o interesse de todos esses grupos e ao mesmo tempo seja já conhecida, compreensível e crível.
Essa narrativa existe e é compatível com as propostas e história do Lula. É o nacional-desenvolvimentismo de Vargas, de Juscelino, de Jango, de Brizola e de parte dos militares nacionalistas. O nacional-desenvolvimentismo propõe altas taxas de crescimento, investimento pesado em tecnologia e infraestrutura, além de Estado e Funcionalismo Fortes. Essas políticas favorecem os setores mais receosos em relação a Lula.
Se Lula abraçar com credibilidade esse discurso, terá em mãos o antídoto que eliminará boa parte do isolamento e da indiferença em relação a ele nos grupos que podem desmontar os golpes vindouros antes que causem grandes danos. Essa credibilidade precisa ser conquistada por meio da atração de aliados leais que sejam historicamente ligados ao discurso e aos interesses beneficiados pelo nacional-desenvolvimentismo.
Caso contrário, será visto como um discurso meramente eleitoreiro.
Se nenhum desses golpes der certo – como os planos do Cebolinha para roubar o coelhinho da Mônica – Lula tomará posse em 2019 e fará seu melhor governo até 2022, quando o Brasil terá muito que comemorar no bicentenário de nossa independência!