O Cafezinho assina embaixo este corajoso editorial do jornalista Luis Nassif, e gostaria de acrescentar um recado às historiadoras futuras: nem todos se curvaram ao autoritarismo, ao fascismo, à violência, à covardia.
Somos radicalmente contra a prisão do casal Garotinho, uma prisão, como sempre, preventiva, antes que eles tenham chance de se defender.
Uma prisão covarde, seguida pelo silêncio cúmplice e covarde de uma imprensa antidemocrática.
Não sou e nunca fui eleitor dos Garotinho.
E talvez por isso mesmo, sinto-me no no dever de defendê-los, porque é muito mais nobre defender o diferente, aquele com o qual você não concorda, do que defender os seus amigos.
A prisão do casal é um ato de brutalidade e sadismo.
Aliás, sugiro à família Garotinho que não entre no jogo dos meganhas. Esqueçam um pouco o ódio que nutrem por outros grupos políticos do estado. Não é hora disso.
A hora é de unir forças contra o abuso de poder.
É o mesmo abuso de poder que roubou 54 milhões de votos, que está derrubando direitos sociais, e negando garantias consagradas há séculos.
Não caiam no jogo dos brutos.
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No blog GGN
O massacre do casal Garotinho, por Luis Nassif
SEX, 01/12/2017 – 01:02
Por Luis Nassif
Pouco sei da carreira política do casal Garotinho. Cada vez que escrevo sobre eles, amigos correm para sugerir cautela. Mas a perseguição que lhes é movida pelo sistema do Rio de Janeiro – Tribunal de Justiça, procuradores e Globo –, sob silêncio geral, é um massacre.
Garotinho é um político local que tentou um voo mais alto. Não conseguiu se transformar em um líder nacional, capaz de mntar alianças com os sistemas de poder – Judiciário, Congresso, mídia -, mas ficou grande demais para se abrigar nas asas de algum padrinho político, em partidos ou nos tribunais superiores. Não tem vinculação nem com esquerda, nem com direita, nem com intelectuais, nem com juristas. Não tem aliados nos partidos maiores, menos ainda na mídia.
Mesmo assim, é politicamente atrevido nos desafios que faz e fez. Já desafiou o Tribunal de Justiça do Rio, a Globo.
Com esse atrevimento – e essas vulnerabilidades – tornou-se um prato para esse pessoal. Podem aprontar o que quiser com seus direitos que não haverá gritos de revolta, manifestações dos órgãos de defesa dos direitos humanos, clamor dos juristas mais conhecidos ou a defesa do Gilmar Mendes. Não haverá manifestações internas, menos ainda as internacionais.
Leio, agora, que o bravo TJ-RJ tirou os direitos políticos de Rosinha Garotinho por 2 a 5 anos, pela acusação de ter usado recursos públicos para um anúncio no qual respondia a ataques a uma política que implementou em Campos. Seu advogado diz que é armação.
A prisão do casal Garotinho, a humilhação a que foram expostos por procuradores – que permitiram cenas da prisão no Fantástico -, a perseguição implacável da mídia, cobrando até a submissão de Rosinha às faxinas do presídio, mostram o Rio de Janeiro definitivamente como uma terra de ninguém.
É covardia dos eminentes magistrados, é covardia da Globo, é covardia de todos os que se calam, porque as vítimas não se enquadram a nenhum dos escaninhos do poder ou da oposição.
Defender Garotinho não enriquece currículos.
Por isso, mais do que os prisioneiros políticos da Lava Jato, a prisão do casal Garotinho é o maior desafio que os direitos individuais enfrentam nesse país sem leis.