Por Denise Assis
A insistência com que o ex-presidente FHC usa a terceira pessoa do plural: ”eles”, tem a gritante intenção de afastá-lo de tudo o que é ruim para a sociedade brasileira. A tentativa, quase infantil para uma mente que se pressupõe sofisticada, lembra a cena de briga entre dois irmãos que, no embolar de braços e pernas durante uma briga, quebram algo valioso da casa. E, quando a mãe aparece colérica na cena, um deles, o que saca mais rápido – sempre tem um – aponta o dedo e diz: ‘foi ele’.
Assim, de artigo em artigo, de entrevista em entrevista ele aponta incansável: ‘eles, os que aparelharam o Estado’; ‘eles, que implantaram a roubalheira’; ‘eles, que orquestraram o mal feito’; “eles”… Assim segue FH, majestático, com a doce ilusão de que num país sem memória, suas mãos estarão limpinhas, sua imagem preservada e suas investidas pelo mundo das sombras resguardadas das letrinhas impressas, que sempre o pouparam do principal, as investigações a sério, das denúncias que o rondaram.
Não se vê prosperar nenhuma investida mais determinada sobre as questões denunciadas pela ex-namorada. Não nos interessa em absoluto o seu desempenho na relação com ela, ou se rendeu ou não, o tal fruto que um providencial exame de DNA tirou do seu testamento, mas não de sua vida ou de sua “generosidade”. Não haverá um livro de história sequer, que levante suspeitas sobre a legitimidade da quebra da cláusula pétrea da Constituição Federal, onde se lia não ser permitida a reeleição. Com a total conivência de uma mídia implacável em outras situações, FHC deu uma cambalhota política e, sob suspeitas seguidas de depoimentos esparsos de “comprados”, quase se soube como chegou lá de novo. Mas fato é que aprovou a emenda da reeleição e a usou em causa própria, o que deveria valer apenas para o seu sucessor, não fosse ele senhor absoluto da situação.
Quando o mesmo se deu em Honduras, em 2009, houve comentarista político muito próximo ao ex-presidente, que esbravejava contra a atitude de Zelaya, de tentar modificar a Constituição do país, buscando uma reeleição. O então presidente hondurenho foi preso de forma arbitrária, em casa, em Tegucigalpa, ainda de pijamas, na manhã de 28 de junho de 2009 e colocado em um avião, com destino à Costa Rica. O Artigo 102 da Constituição de Honduras determina que “nenhum hondurenho pode ser expatriado ou entregue pelas autoridades a uma nação estrangeira“. A Assembléia Geral das Nações Unidas classificou a ação de “golpe”, mas por aqui, ninguém estranhou. Valeu para FHC, mas não era válido para Zelaya.
Pesquisa recente encomendada ao cientista político Antonio Lavareda, pelo próprio PSDB do ex-presidente FHC, demonstrou que 70% da população do país não levam em conta as opiniões emitidas por ele. Melhor assim. Enquanto FHC fala para a mídia que o cultua, o povo lhe dá as costas, e ao seu partido, mais perdido do que as balas que cruzam o céu carioca.