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Fascismo avança: professores da UFBA são ameaçados por causa de pesquisa

Eu gostaria de saber o que os ministros do STF, a procuradora-geral da república, o novo chefe da polícia federal e o ministro da justiça tem a dizer sobre isso? Os casos de ameaças a pesquisadores, abertura de inquéritos por motivos ideológicos, intimidação, censura, estão se avolumando dia a dia. Onde isso vai parar? Luis […]

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Eu gostaria de saber o que os ministros do STF, a procuradora-geral da república, o novo chefe da polícia federal e o ministro da justiça tem a dizer sobre isso?

Os casos de ameaças a pesquisadores, abertura de inquéritos por motivos ideológicos, intimidação, censura, estão se avolumando dia a dia.

Onde isso vai parar?

Luis Roberto Barroso, no dia em que vossa excelência cansar de fazer o jogo de Washington e resolver pensar um pouco nos problemas brasileiros, estaremos lhe esperando sem rancor.

Excelentíssima Carmen Lucia, no dia em que a senhora se cansar de prêmios da Globo, direcione sua atenção aos oprimidos e ameaçados de nosso país.

Será que o nosso judiciário, nossa polícia federal, nosso ministério público, agirão apenas depois que lerem um editorial da Globo lhes dizendo o que fazer?

***

No Correio 24 horas

Professora da Ufba é ameaçada de morte por causa de pesquisa

Mais dois professores foram coagidos; mestranda foi intimidada

Ao menos três professores da Universidade Federal da Bahia (Ufba) foram ameaçados – um deles de morte -, recentemente, por conta do teor de pesquisas que desenvolvem dentro da instituição. Além do trio de docentes, uma aluna do mestrado também foi ameaçada dias antes da apresentação de sua dissertação.

Parte dos casos foi denunciada pelo reitor da universidade, João Carlos Salles, nesta segunda-feira (20), quando divulgou uma moção de repúdio contra os ataques, a maioria deles feita através das redes sociais.

No comunicado, o reitor se manifesta contra “a opressão diante das tentativas de cerceamento de todo um campo de produção do conhecimento científico”, a qual ele atribui a uma onda de conservadorismo no país.


Foto: Evandro Veiga/Arquivo CORREIO

“Em episódios recentes, verificamos ameaças de morte e outros tipos de violência contra uma de nossas docentes, pesquisadora do Neim; a tentativa de impedimento de defesa de uma dissertação de Mestrado de aluno do IHAC (Instituto de Humanidades, Artes e Ciências), tendo que solicitar a segurança da própria Universidade; e a perseguição e ridicularização nas redes sociais de projetos de pesquisa e extensão que versam sobre essas temáticas”, destaca o reitor, em nota.

A professora citada, que teve o nome preservado pela instituição, recebeu as ameaças por desenvolver pesquisas relacionadas à divisão sexual do trabalho. Os ataques contra ela ocorrem há cerca de um mês. Além de lecionar, a vítima é pesquisadora do Núcleo de Estudos Interdisciplinares sobre a Mulher (Neim), grupo de estudos sobre gênero e sexualidade vinculado à graduação de Ciências Sociais.

De acordo com a assessoria da Ufba, a instituição tem tomado todas as providências para garantir a segurança dos envolvidos e a realização dos eventos científicos, aumentando, inclusive, a segurança nos locais em que a professora ministra aulas.

Ação na justiça

Segundo Maíra Kubik Mano, uma das 15 pesquisadoras do Neim, as mensagens são provenientes de diversos perfis em redes sociais. Ainda não se sabe, no entanto, quem estaria por trás das publicações. Por conta da situação, o núcleo pretende mover uma ação judicial contra os ataques que a servidora vem sofrendo.

O caso está sendo acompanhado pela Procuradoria Federal junto à Ufba, que recomendou que a professora prestasse queixa na Polícia Federal. Provas estão sendo reunidas para que, posteriormente, possam ser apresentadas à polícia.

Ainda segundo Maíra Kubik Mano, os ataques têm relação com a linha de pesquisa da vítima e à onda de conservadorismo que ocorre no país. “Essas ameaças estão diretamente vinculadas à questão da legitimação dos nossos estudos de gênero. Acho que esse ataque tem relação também com o que o nosso país tem vivido, revelando um nível de ódio impressionante, algo chocante que mostra como as pessoas estão fazendo uma associação muito rasa”, considera.

Ainda de acordo com ela, as pesquisadoras que expõem os resultados de suas pesquisas em encontros e debates se tornam mais vulneráveis a esse tipo de ataque.

Dissertação

No último dia 6, a Ufba precisou reforçar a segurança na porta de uma sala onde acontecia a defesa de uma dissertação de mestrado depois que a estudante que apresentava o trabalho foi ameaçada, através das redes sociais. O orientador do trabalho, professor Leandro Colling, contou que o tema da pesquisa era sobre sexualidade e diversidade de gênero na educação infantil.

Colling criou e coordena o grupo de pesquisa Cultura e Sexualidade (CUS) da Ufba, que discute sexualidade e diversidade de gênero. Ele acredita que nos últimos anos houve um aumento da intolerância no país, e que essas ações estão sendo potencializadas pela internet. O professor acredita também que as pessoas estão perdendo a vergonha de ser preconceituosas.

“O que aconteceu é que, antes, os machistas, racistas e homofóbicos tinham vergonha de expor seus preconceitos. Hoje, eles têm orgulho de agirem assim. Isso está sendo potencializado, em parte, pelas redes sociais e por esse momento político, mais conservador e fundamentalista, em que estamos vivendo. A sociedade está sendo mais complacente com esse tipo de atitude”, afirmou.

O professor afirmou que as linguagens artísticas e as universidades tornaram-se os principais alvos dos intolerantes, e que foram escolhidas por terem o poder de transformar o jeito das pessoas de pensar. Ele acredita que a melhor resposta ao preconceito é se organizar politicamente, e enfrentar a intolerância.

Pesquisa ameaçada

A diretora da Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas (FFCH) da Ufba, Maria Hilda Baqueiro Paraíso, relatou ao CORREIO que os ataques afetam o desenvolvimento das pesquisas acadêmicas. “Nós estamos sofrendo um movimento contrário à liberdade de expressão, de autonomia para tratar de assuntos relevantes na sociedade”, comenta.

Outras ameaças

A assessoria de comunicação do Sindicato dos Professores das Instituições Federais de Ensino Superior da Bahia (Apub) informou ao CORREIO que, durante uma assembleia com discentes, pelo menos três casos de ameaça contra professores foram identificados. Os educadores, ainda segundo a Apub, teriam relatado durante a reunião uma onda crescente de conservadorismo também dentro da instituição.

“Eles (professores) relataram um aumento de autoritarismo e da violência contra professores que estudam pautas relacionadas às questões de gênero e sexualidade. Todo tipo de violência acaba fazendo com que esses professores não tenham liberdade, não só para colocar seus pensamentos em sala de aula, mas, também, de desenvolver seus trabalhos acadêmicos”, explica Luciene Fernandes, presidente da Apub.

Levantamento de casos

Um levantamento para identificar novos casos de ameaça e violência contra professores está sendo feito pela Apub.

Entre os casos já identificados pelo sindicato está o de duas professoras – incluindo o da pesquisadora do Neim. Um outro caso envolvendo um professor está sendo apurado.

“Estamos fazendo esse trabalho de pesquisa e recolhendo os depoimentos para, possivelmente, divulgar um documento da entidade sobre esta questão”, informa a Apub.

Mais confusões

No último dia 13, a exibição do filme ‘O Jardim das Aflições’, sobre o filósofo conservador Olavo de Carvalho, um dos ícones da direita brasileira, terminou em confusão na Ufba, em Ondina. Houve empurra-empurra e bate-boca entre estudantes.


Uma lixeira demarcava a divisão entre os dois grupos durante protesto contra filme (Foto: Amanda Palma/Arquivo CORREIO)

Na ocasião, manifestantes de esquerda tentaram impedir a exibição do filme. Os estudantes pró-exibição afirmaram que a Ufba acabou cancelando o evento na sala onde o filme passaria, alegando que não havia autorização. O grupo então seguiu para projetar o filme na parede da biblioteca. A exibição começou por volta das 19h15, enquanto manifestantes contrários gritavam “fora, fascistas! fora, fascistas!”.

Na descrição do evento na internet, os organizadores usavam a frase “fazer da Ufba um lugar mais plural e livre”.

Veja vídeo da confusão, no dia 13.

E as tensões não ficam limitadas aos domínios da universidade. No dia 25 do mês passado, a Ufba divulgou uma nota de apoio ao Instituto Cultural Brasil-Alemanha (Icba), diante de manifestações contra a apresentação performática “La Bête”. Nela, o artista Wagner Schwartz manipula uma réplica de plástico de uma escultura e se coloca nu, convidando o público a fazer o mesmo com ele. Em São Paulo, a mesma apresentação causou polêmica e reações após envolver uma criança de 4 anos, que tocou o pé do artista, quando ele estava sem roupa.

Na nota de apoio ao Icba e na moção de repúdio às ameaças na Ufba, o reitor João Carlos Salles fala em “iniciativas obscurantistas” que vem “se estendendo contra eventos científicos, práticas culturais, artísticas e intelectuais, por meio não apenas de ataques virtuais, mas também de cancelamento de exposições e censura à peça de teatro”.

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Miguel do Rosário

Miguel do Rosário é jornalista e editor do blog O Cafezinho. Nasceu em 1975, no Rio de Janeiro, onde vive e trabalha até hoje.

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Comentários

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MARION CURTIS NUNES

24/11/2017 - 16h21

ESTUDAR SOMENTE PARA SEGUIR PADRÕES, Q NEM O CONSERVADORISMO FUNCIONALISTA DESSE PAÍS, É RETROCESSO CULTURAL, POIS O CONHECIMENTO NA VERDADE SERVE PARA PENSAR O DIFERENTE, O NOVO , JUSTO , ENFIM SÓ ASSIM O CONHECIMENTO NOS LEVA AO DIÁLOGO MUTUO.

Mar

22/11/2017 - 12h54

É inadmissível que um filme de Olavo de Carvalho esteja sendo exibido em um ambiente acadêmico. As pessoas confundem democracia, como liberdade para fazerem o que quer, até promover ideias que destroem a própria democracia. Isso não é democracia. Porém é digno de nota que o fascismo está muito presente entre os professores das universidades, principalmente nas federais. Conheço uma professora com doutorado de uma universidade federal que estava reclamando pelo fato de ter que ensinar para alunos de cotas e de baixa renda que estavam tendo acesso as universidades federais no governo Lula/Dilma. “Eu não sei nem como me adaptar para ensinar para estes alunos”, dizia ela, alegando que eles teriam menos capacidade de compreensão em relação aos filhinhos de papai que vinham da rede privada. Outro fato, foi um relato de um amigo que me disse que certa professora, também doutora que com recursos fornecidos pela universidade federal para fazer integração entre a faculdade e as comunidades quilombolas, simplesmente estava promovendo a festa halloween nesta comunidade, além de reclamar das medidas do governo petistas em favor desta comunidade. Ou seja, promovendo o processo de aculturação em favor do imperialismo norte americano. É necessário que os reitores bem intencionados fiquem atentos as posturas dos próprios membros da comunidade acadêmica e reprima estes atos.

    ari

    22/11/2017 - 19h16

    Respeita-se ideia que merece ser respeita. Nazi-fascismo tem de ser combatido de todas a formas possíveis. No caso do filme citado, não há o que contemporizar.
    Gosto sempre de lembrar que, nos anos 40, várias reuniões foram realizadas em Berlim e boa parte dos participantes tinham algum doutorado. Ali discutia-se a solução final.

Tânia de Martino

22/11/2017 - 12h07

A sociedade civil precisa se organizar para pressionar a banda boa do judiciário brasileiro a exercer alguma forma de convencimento sobre a banda ruim do judiciário, com vistas a uma aliança a favor de todo o povo brasileiro.
Não podemos permitir que meia dúzia fascistas aja impunemente!

JOÃO CARLOS AGDM

22/11/2017 - 10h50

É a destruição deliberada do Brasil.
Muitos colaboram por ignorância e falta de raciocínio. Precisam ser esclarecidos. Como? Não sei…
Outros colaboram por dólares, mesmo.
Se esquecem que, se vão ficar no Brasil, o desemprego e a pobreza/miséria levando a criminalidade atingindo níveis cada vez mais catastróficos pode apontar uma arma contra eles no próximo túnel, no próximo sinal.
Ou… a domicílio…. onde tiverem residência.
Como dizem os alemães, você não deve pensar que está bem se o seu vizinho está mal….

    Carlos

    22/11/2017 - 19h33

    Lúcido comentário

    C N Morais

    23/11/2017 - 08h18

    “Você não deve pensar que está bem quando seu vizinho está mal”. Isso é socialismo puro. É quase o oposto exato do mote do WASP, o típico classe média americano: “a grama do vizinho é sempre mais verde”, o que significa, subjetivamente, que meu vizinho é meu adversário. Vou lutar mentalmente para fazer de sua frase o farol de meus pensamentos. Muito obrigado!


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