O golpe é racista: violência e desemprego atingem mais pardos e negros

O golpe, como ficou claro desde o início, foi também racista.

O flagra do âncora William Waack, desnudou o “esprit de corps” da Globo, cuja biografia corporativa deveria ser uma ironia com o livro de seu diretor de jornalismo. Deveria ser: “Somos todos racistas”.

Dentre os 54 milhões de eleitores que tiveram seu direito político violado por um processo de impeachment forjado nos porões do crime, a maioria eram pardos e negros.

Assim que roubou o poder, Michel Temer montou um ministério composto exclusivamente de homens brancos.

Nenhum jovem, nenhum negro, nenhuma mulher.

Todos muito ricos, naturalmente.

E agora, que o golpe arreganha seus dentes para a população, as principais vítimas são sobretudo os pardos e negros.

Segundo o IBGE, o nível de desemprego entre os negros é particularmente alarmante.

Pardos e negros formam 64% dos desempregados do país.

Entre pardos e negros, o desemprego é de 15%, contra 10% para os trabalhadores brancos.

Se considerarmos fatores como a qualidade do emprego e a subocupação, a situação é muito pior para pardos e negros.

Os negros tem os piores empregos, sofrem com a sub-ocupação e suas crianças e jovens tem menos oportunidades para sair dessa situação.

Nessas circunstâncias, a postura de um William Waack é particularmente revoltante. Mas não é só William Waack.

E o que falar da última manifestação racista de Ives Gandra, um dos principais juristas em favor do impeachment?

Será que ele não conhece nenhum desses números? Os jornalistas que o entrevistam não o advertem?

Será que Gandra não viu o último mapa da violência, que mostra que 76% das vítimas de execuções policiais em 2016 foram… negros?

***

No site do IBGE.

Pretos ou pardos são 63,7% dos desocupados

17/11/2017 | Última Atualização: 17/11/2017 08:53:19

De acordo com a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNAD Contínua), divulgada hoje pelo IBGE, no terceiro trimestre de 2017, dos 13 milhões de brasileiros desocupados, 8,3 milhões eram pretos ou pardos (63,7%). Com isso, a taxa de desocupação dessa parcela da população ficou em 14,6%, valor superior à apresentada entre os trabalhadores brancos (9,9%).

A taxa de subutilização – indicador que agrega a taxa de desocupação, de subocupação por insuficiência de horas (menos de 40 horas semanais) e a força de trabalho potencial – teve comportamento semelhante. Para o total de trabalhadores brasileiros, ela foi de 23,9%, enquanto que para pretos ou pardos ficou em 28,3%, e para brancos em 18,5%. Das 26,8 milhões de pessoas subutilizadas no Brasil, 17,6 milhões (65,8%) eram pretas ou pardas.

66% dos trabalhadores domésticos no país são pretos ou pardos

No terceiro trimestre de 2017, pretos ou pardos representavam 54,9% da população brasileira de 14 anos ou mais e eram 53% dos trabalhadores ocupados do país. Mas, apesar de serem a maioria, a proporção de pretos ou pardos ocupados (52,3%) era inferior à da população branca (56,5%). Além disso, o rendimento dos trabalhadores pretos e pardos foi de R$1.531, enquanto o dos brancos era de R$2.757.

O percentual de empregados pretos ou pardos do setor privado com carteira assinada (71,3%) era mais baixo do que o observado no total do setor (75,3%). Dos 23,2 milhões de empregados pretos ou pardos do setor privado, 16,6 milhões tinham carteira de trabalho assinada.

Quando observada a distribuição da população ocupada por grupo de atividades, é possível perceber que a participação dos trabalhadores pretos e pardos era superior à dos brancos na agropecuária, na construção, em alojamento e alimentação e, principalmente, nos serviços domésticos. Os pretos e pardos representavam 66% dos trabalhadores domésticos no País.

25,2% dos trabalhadores pretos ou pardos atuam como ambulantes

A PNAD Contínua mostrou, ainda, que, no Brasil, somente 33% dos empregadores eram pretos ou pardos. Já entre os trabalhadores por conta própria, essa população representava 55,1% do total. Mais de um milhão de trabalhadores pretos ou pardos atuavam como ambulante, totalizando 66,7% dessa ocupação. No terceiro trimestre de 2017, 25,2% dos trabalhadores pretos ou pardos atuavam como ambulantes, em 2014 esse percentual era de 19,4%.

Para o coordenador de trabalho e rendimento do IBGE, Cimar Azeredo, indicadores como esses revelam quão desigual é o mercado de trabalho brasileiro. “Entre os diversos fatores estão a falta de experiência, de escolarização e de formação de grande parte da população de cor preta ou parda. Isso é um processo histórico, que vem desde a época da colonização. Claro que se avançou muito, mais ainda tem que se avançar bastante, no sentido de dar a população de cor preta ou parda igualdade em relação ao que temos hoje na população de cor branca”, destaca.

Texto: Mônica Marli
Arte: Helena Pontes
Imagem: Arquivo IBGE

Miguel do Rosário: Miguel do Rosário é jornalista e editor do blog O Cafezinho. Nasceu em 1975, no Rio de Janeiro, onde vive e trabalha até hoje.
Related Post

Privacidade e cookies: Este site utiliza cookies. Ao continuar a usar este site, você concorda com seu uso.