Não se enganem.
As conduções coercitivas e prisões da nova etapa da Lava Jato no Rio perfazem mais um capítulo do regime de exceção.
Em primeiro lugar, o que isso tem a ver com a Lava Jato?
Por que a operação, que não tem nada ver com um posto de gasolina do sul do país, nem com desvios da Petrobrás, leva essa marca?
Isso não é um problema menor. A Lava Jato tenta se tornar uma instituição à parte da sociedade brasileira. E isso é extremamente perigoso.
De qualquer forma, o modus operandis é o mesmo: uma jogada combinada com a mídia.
Números fabulosos são lançados à opinião pública: as isenções ou reduções fiscais teriam custado cento e tantos bilhões de reais aos cofres.
Não importa que isso não faça sentido: o importante é gerar manchetes que signifiquem a condenação dos réus.
Ora, se redução de imposto desse prisão no capitalismo, então a coisa ficaria difícil para Ronald Reagan, família Bush e Donald Trump, os ídolos dos coxinhas do Ministério Público.
Eu sou contra reduzir impostos de grandes empresas. Porém sou mais contra ainda esse tipo de postura fascista do sistema de justiça, que apenas provoca instabilidade, miséria social e fechamento de postos de trabalho.
Não há mais investigação. O trio MP-polícia e justiça, unidos numa “força-tarefa”, primeiro prende, e só depois começa a investigação.
Depois de prender, tudo fica mais fácil. Com ajuda da mídia, começam a levantar todos os podres dos políticos, o que, convenhamos, é a coisa mais fácil. Pena que a mídia só levante os podres dos políticos nessas circunstâncias, ao invés de fazê-los antes deles se elegerem.
Moreira Franco, por exemplo. É mais sujo que pau de galinheiro, mas a mídia não diz nada sobre ele, porque é o responsável número 1 pelo programa de privatizações do governo federal.
Enquanto a repressão às manifestações populares cresce no Rio de Janeiro, junto com o avanço dos grupos de extermínio, enquanto o governo do estado suspende serviços de saúde, educação e investimentos em infra-estrutura, a Lava Jato chega para causar ainda mais instabilidade e paralisia.
Além, é claro, de criar mais uma cortina de fumaça. Quem vai protestar contra o fim dos direitos trabalhistas se Picciani foi preso?
Investiguem Picciani, mas sem sensacionalismo midiático, sem prisão “preventiva”, sem abusos de autoridade!
O terror implementado pelo regime de exceção vigente no país paralisou o país.
Nenhum servidor se arrisca a assinar um documento, a tomar qualquer decisão.
Segundo fontes do BNDES, a instituição hoje está trabalhando para responder a meganhagem do Tribunal de Contas da União (TCU), que repete as mesmas perguntas, e parece ignorar as respostas. Independentemente das exaustivas respostas e documentos apresentados pelo BNDES ao TCU, o Ministério Público abre inquéritos sucessivos, sempre copiando, ipsis literis, os questionamentos do TCU, como se estes nunca tivessem sido respondidos. Daí os servidores do BNDES terão que responder, aos procuradores, todas as perguntas já respondidas ao TCU.
E dá-lhe condução coercitiva em servidores do BNDES.
E dá-lhe busca e apreensão.
Não importa se não encontram nada. O show tem de continuar. Enquanto isso, o governo Temer vai secando o BNDES, roubando todo o dinheiro do banco para pagar, adiantado, juros aos bancos. É uma operação ilegal, uma pedalada monstruosa, desta vez não para ajudar beneficiários do Bolsa Família, como fez Dilma, mas meia dúzia de bilionários detentores de títulos públicos.
O que faz o TCU, o mesmo TCU que foi tão duro com Dilma? Aprova, chancela, legaliza os crimes de Temer.
Por isso, reitero, tomem muito cuidado com esses movimentos da Lava Jato. Daí não vem, jamais, nada de bom para a sociedade e para a democracia.
A ditadura militar também perseguiu inúmeras lideranças conservadoras, inclusive golpistas, como Carlos Lacerda.
A história se repete. Não como farsa, mas como tragédia mesmo.