Por Ricardo Azambuja, colunista do Cafezinho
O dia 30 de setembro de 2015 entrou para a história como a data que marca o fim do domínio americano no mundo unipolar formado ao término da guerra fria. Neste dia, a força aeroespacial russa entrou na Síria em defesa do governo de Bashar al-Assad contra os terroristas do Estado Islâmico e outros grupos de oposição armados e apoiados pelos EUA e seus aliados. O sucesso dessa intervenção no conturbado Oriente Médio levou a uma mudança no equilíbrio de forças a nível global, trazendo de volta à cena geopolítica uma Rússia moderna e eficiente em termos estratégicos e militares.
O Ocidente, pego de surpresa, tentou segurar o urso. Usou e abusou de recursos sórdidos. Campanhas midiáticas disseminando mentiras sobre a guerra na Síria. Apoio disfarçado a grupos terroristas como o Estado Islâmico e a Frente al Nusra. Sanções econômicas à Rússia, com as mais variadas justificativas, da anexação da Criméia (desejada por 90% da população) a não comprovada influência russa nas eleições americanas.
Os EUA não se conformaram em ver seu poder desafiado por Putin, o líder estrategista russo garimpado no serviço de inteligência soviético da extinta KGB. De nada adiantou. A Rússia estabilizou o conflito sírio, silenciou os aliados dos americanos e angariou simpatizantes no mundo afora. Aos EUA, restou a derrota na guerra síria e a despedida como donos do mundo.
Uma novela global sem prazo para acabar com a entrada de novos protagonistas em busca de seu quinhão num mundo multipolar. O discurso do líder chinês Xi Jinping no 19º Congresso do Partido Comunista da China, semana passada, foi em tom elevado na defesa da soberania. Não só isso. A força aérea chinesa executou exercícios de bombardeio perto de Guam, colônia e base militar dos EUA no Pacífico. Audácia inimaginável em outros tempos.
Rússia e China estão confiantes no enfraquecimento dos EUA, ao mesmo tempo em que constroem novas alianças e bases militares além de suas fronteiras. A união destas novas potências em exercícios militares conjuntos e na “derrubada do dólar” nas transações comerciais entre si e com outros países, como Venezuela e Irã, redesenham o cenário global.
O mundo está se movendo e mudando sua estrutura geopolítica. Não há mais espaço para apenas um país dar as cartas. Isso é positivo para a humanidade, haja vista que no período em que os EUA exerceram essa função pouco se evoluiu e muito se guerreou. Países foram destruídos por guerras forjadas para gerar lucros absurdos às indústrias de armamentos e de combustíveis fósseis americanas. Que o digam Iraque e Líbia.
Por outro lado, ao perder força no Oriente Médio e Ásia, os EUA aumentam sua influência na América Latina, com a receita de sucesso do “combate à corrupção” aliada a golpes jurídico-midiáticos para depor governos e políticos que não lhes são subservientes. Uma forma bem mais fácil de apropriar-se das riquezas e empresas nacionais privatizadas de outros países.