Waack, Huck e Globo: a cara escarrada do racismo da elite brasileira

(Imagina, Kamel)

Por Pedro Breier

William Waack, Luciano Huck e Globo têm tudo a ver, como diz o manjado slogan.

Eles são a representação perfeita do racismo da elite brasileira.

Waack, apresentador do Jornal da Globo, é conhecido por seu reacionarismo estridente. Costuma, inclusive, dar palestras em convescotes da direita liberal, como o fórum da liberdade (que nome!).

O racismo implícito das suas posições conservadoras tornou-se absolutamente explícito com a divulgação de um vídeo em que Waack, minutos antes de entrar no ar quando cobria a eleição dos EUA, ouve uma buzina na rua e diz o seguinte: “tá buzinando por quê, ô seu merda do cacete? Não vou nem falar, porque eu sei quem é… é preto. É coisa de preto! Com certeza!”. Waack e o comentarista riem do absurdo proferido pelo apresentador.

A avalanche de críticas, ontem, fez com que a Globo o afastasse do Jornal da Globo, com uma nota dizendo que Waack é “um dos mais respeitados profissionais brasileiros” e que a Globo é “visceralmente contra o racismo”.

Balela.

A Globo é a grande perpetuadora do abismo social entre brancos e negros no nosso país, ao atacar impiedosamente qualquer governo que tente, nem que seja minimamente, reduzir esse abismo.

Há um episódio, contado no Tijolaço, no qual Roberto Marinho, ao ser perguntado por Brizola sobre o que achou do projeto dos Cieps, responde o seguinte: “Olha, governador, se o senhor quer construir escolas, está muito bem. Mas não precisa disso tudo. Faça umas escolinhas… Pode até fazê-las bonitinhas, tipo uns chalezinhos…”.

Nesta simples frase do fundador da Globo está embutida a razão do racismo – a ideia tão abominável quanto ridícula de que alguns são superiores a outros por causa da porcaria da cor da pele – ainda se manter vivo em pleno 2017: a elite econômica não quer que os negros e pobres tenham educação de qualidade ou ingressem no ensino superior porque isso encarece a mão de obra.

Não há peão de obra ou empregada doméstica barata se esse pessoal começar a estudar. Uma classe social rouba o tempo da outra à preço vil, como diz o sociólogo Jessé de Souza. É egoísmo, burrice e mesquinharia em estado puro.

Falemos agora sobre Luciano Huck, o candidato a presidenciável da Globo.

Quando Daniel Alves comeu uma banana após ouvir insultos racistas em um jogo na Espanha, a agência de publicidade de Neymar lançou uma campanha, como se tivesse partido espontaneamente do atacante brasileiro, com o mote “Somos todos macacos”.

Huck entrou na campanha e na sequência lançou uma camiseta com a frase estampada ao lado de uma banana por R$ 69.

O episódio chamou a atenção para a sua marca de roupas e descobriu-se que na coleção vendida pelo apresentador apareciam camisetas infantis com os dizeres “Vem ni mim que eu tô facin” e camisetas para adultos onde constava “Salvem as baleias, eu salvo as sereias” e “Quando um não quer, o outro insiste”.

Huck quase completou o bingo das opressões ao tentar lucrar não apenas em cima do racismo, mas também da sexualização de crianças, da gordofobia e da cultura do estupro. Loucura, loucura, loucura.

Não é à toa que Huck e Waack são duas das estrelas da Globo.

Como bom funcionários modelo, seguem à risca a linha dada pelos patrões.

Posam de respeitados apresentadores cheios de preocupações com o Brasil, mas na verdade representam uma das piores faces da elite brasileira.

Waack vacilou ao escancarar o que deve ficar velado. Ali Kamel não deve ter gostado nada de mais uma desmoralização para o seu bizarro livro cuja capa ilustra este post.

O racismo serve muito bem aos interesses econômicos da nossa elite. É um dos grandes sustentáculos do status quo.

E ainda pode ser usado para posar de bom moço – e ganhar algum – vendendo camisetas.

 

Pedro Breier: Pedro Breier nasceu no Rio Grande do Sul e hoje vive em São Paulo. É formado em direito e escreve sobre política n'O Cafezinho desde 2016.
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