(O ex-pupilo de Alckmin se enrolou sozinho. Foto: Leon Rodrigues/SECOM)
Por Pedro Breier
Ciro Gomes afirmou, em palestra recente, que Doria será “carta fora do baralho” da eleição presidencial até dezembro. O pré-candidato do PDT à presidência explicou, em entrevista à Folha, por que falou isso:
Porque ele não é do ramo. Torrou o orçamento de São Paulo, queimou as pontes todas. Perdeu o “timing” para fazer acordo por dentro e ser eventualmente candidato a governador. Colidiu com o cara que o inventou. E passou para a população a ideia de que é um carreirista, que só pensa em si, que não tem nenhum compromisso com nada e com ninguém. E saiu para fazer uma ilusão de ótica, passear por aí, receber título de cidadão não sei por onde, tudo factoide, deixando a grande e grave responsabilidade – que seria a decolagem dele – aqui, descuidada. Ele não é do ramo. Como eu sempre disse, é um farsante. Em dezembro, se o Datafolha fizer outra pesquisa, está completamente deslegitimado.
O único erro no diagnóstico de Ciro parece ter sido o mês do descarte de João Doria. Estamos em outubro e tudo indica que a aventura megalomaníaca de concorrer à presidência do país “miou”, como dizem os paulistas.
A gestão do gestor na prefeitura é um desastre. Sair viajando por aí para construir sua candidatura à presidência realmente pegou muito mal. Sua última grande jogada de marketing, por exemplo, apelidada de “ração para pobres”, está em vias de ser abandonada.
No afã de passar uma imagem de que não é político tradicional e não tem medo de se posicionar, Doria responde a quase tudo que é perguntado, deixando evidente seu desprezo pelos direitos dos trabalhadores. Depois de apoiar a reforma trabalhista e a previdenciária, Doria defendeu, na semana passada, a posição da bancada ruralista sobre trabalho escravo.
O apoio a notórios corruptos como Michel Temer e Aécio Neves é outro fator a minar a imagem de “gestor não político”. Nos últimos dias Doria disse que a decisão do Senado que restabeleceu o mandato de Aécio traz “paz e tranquilidade” e ainda apoiou a permanência do mineiro na presidência do PSDB.
A Folha, fiadora da candidatura de Geraldo Alckmin, estampa em seu portal quase que diariamente alguma matéria detonando Doria. A de hoje é sobre as relações suspeitíssimas entre o prefeito de São Paulo e as empresas que fazem “doações” à prefeitura (aqui). Até o MBL se afastou de Doria para aproximar-se de Bolsonaro.
Depois de tudo isso, a aprovação à sua gestão caiu e a rejeição aumentou. O prefeito e seus aliados perceberam que a maré mudou e já cogitam um acordo com Alckmin para que Doria concorra ao governo do estado.
João queimou a largada e será muito difícil reverter a situação. Se ainda resta alguma dúvida, reparem no último grande apoiador da candidatura Doria: ele mesmo, Michel Temer, que disse, na última sexta-feira, que “ninguém pode impedir Doria de disputar a presidência”.
Quando o presidente mais impopular da história é o único a ainda bancar a sua candidatura, chegou a hora de baixar a bola e tirar o time de campo.