Foto: José Patrício
Em palestra em Londres, Marina Silva não explica apoio a um Golpe com tantas implicações negativas à causa ambiental
“Eu quase dormi na sala”, me disse uma companheira de esquerda ao sairmos. “Sim, ela é entediante”, disseram outros mais tarde, que nem mesmo na palestra estavam.
Falávamos do mesmo evento? Aparentemente sim, Marina Silva, no “Brazil Institute” do King’s College, em Londres. Um dos mais importantes centros de estudos sobre o Brasil no Reino Unido.
Primeira regra de qualquer guerra: conhecer o inimigo.
Não, Marina não foi chata ou entediante, foi sim boa oradora empolgando a plateia acadêmica com a sua erudição e ideias atraentes.
Marina, a menina da selva, mostrou bem porque é igualmente a Darling das elites e dos banqueiros, técnicos da ONU e donos de pequenas ongs ambientais.
Marina conta sua história de pobreza e violência nas florestas do Acre citando Lacan, Satre e Freud, fala das civilizações gregas e romanas, e com um sorriso maroto, diz que a crise civilizatória atual (maior do que as anteriores porque globalmente abrangente) é resultado de seu sucesso e não de suas falhas.
Marina, entremeio conhecimento clássico e saber Amazônico, avança com suas próprias ideias e vaticina: a sustentabilidade tem mais dimensões que as citadas pela a ONU e que a crise da insustentabilidade ambiento-sócio-econômica advém das dimensões por ela identificada: falta de sustentabilidade política, ética e estética.
Marina a pensadora.
Enquanto Lula fala prático, simples, Marina fala de subjetividades, tramas, identidades plasmadas e o tecer do ser.
Lula, o não-erudito, mostra sua rudez em voz rouca, traz soluções e fala do agora e do já. Tem as mãos sujas pelo ‘fazer’.
Marina, ser limpo, vislumbra longe.
Lula tem seu passado presente para formar o futuro dos outros.
Marina diz ter seu passado superado para criar um futuro seu.
Mas a existencialista Marina, na urgência da luta ambiental, parece ter se desfeito também dos conflitos e polaridades, das malícias e desonestidades dos outros.
Superado o seu passado, superado também as lutas histórica-sociais de brancos e negros, ricos e pobres, norte e sul.
Banqueiros e empresas petrolíferas, think-tanks e centros acadêmicos estrangeiros todos benvindos para a construção do novo amanhecer terrestre.
Todos, com suficiente ‘maturidade’, como ela própria, para entender que o mundo anda em perigo e que o já-já do atual precisa logo-logo virar o Agora.
Precisa, portanto, será.
Marina não vê ironia no fato de que aqueles que financiam ‘projetos ambientais’ – pífios investimentos de empresas e indivíduos milionários – fazem no dia a dia o lobby pró-óleo e buscam persistentemente o lucro através da produção cada vez maior de bens de consumos supérfluos e de vida curta, jogando suas responsabilidades trabalhistas nas mãos de empresas de terceirização inescrupulosas.
Parece não perceber as vantagens do marketing que anuncia a altos brados atos voluntários pseudo-altruístas cujo objetivo é aliciar o público conscientizado em questões ambientais.
Afinal, melhor gastar alguns dólares em doações escolhidas do que outros a mais em impostos sem fim. Não é Marina?
Ela parece não ver o paralelo entre as ações destes endinheirados com um assalariado que passa, deixando algumas moedas nas mãos de um mendigo, satisfazendo seu próprio ego, sem resolver o problema mais amplo.
Foi Marina capaz de rebater questões sobre alianças com Aécios e apoios a Golpes?
Pois é…
“Como é que eu iria saber que haveria concorrência entre os partidos para ver quem era o mais corrupto?” explicou Marina Inocente.
E acusou PT, PSDB e PMDB de se unirem para acabar com a Operação Salva a Jato.
Na mente de Marina, Dilma e Temer se convergem.
Corrupção? Tudo culpa das chapas ‘Dilma-Temer’ ou ‘Temer-Dilma’, sei lá, como nos demonstrou claramente as cruzadas pela Salvação Nacional de Moro e Dallagnol.
Mas Marina não explica e ninguém pergunta como é que a defensora de seringueiros, indígenas e quilombolas fez tão grande erro político-estratégico que pos em risco aquilo e aqueles pelo qual lutou a vida inteira?
Trocou conhecidos colegas partidários de décadas para aceitar promessas de velhas raposas de direita?
O que explica jogar no lixo anos na frente do Ministério do Meio Ambiente, cujo ponto alto foi a redução do desmatamento em 80%, por uma aposta no ‘impeachment’?
Marina teve sua função – a de ser mais uma ‘liderança’ a dizer que entre corruptos tanto faz. Que Lula, Dilma, Temer e, como reconhece agora, Aécio são todos iguais.
Todos iguais.
Semana passada Temer mudou as regras sobre o trabalho escravo (mais uma para o saco de maldades) e o Brasil não é mais referência em relação a este tema, diz a ONU.
No mensalão (sorry, a compra de votos) do Temer, ruralistas forçam a revogação de terras indígenas. A violência contra os pobres, os negros, os sem poder no geral aumenta em velocidade escandalosa.
E o que Marina tem a dizer sobre os retrocessos nas políticas ambientais? sociais?
Mas Marina está no éter.
Lá de cima, ela vislumbra as soluções para o enlameado Brasil atual. No ar rarefeito que respiram as elites suas ideias leves flutuam, empolgam, dão voltas ao mundo.
Porque ela, Marina, a da radicalidade de um modelo terrestre sustentável, não espanta, não dá medo, como dá o velho barbudo sindicalista com suas ideias defasadas…
Por que será?