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Felipe Coutinho: petróleo, mico e passaporte

Petróleo, mico e passaporte Por Felipe Coutinho* Qual país se desenvolveu exportando petróleo por multinacionais estrangeiras? Qual país, continental e populoso como o Brasil, se desenvolveu exportando petróleo em troca de dólares? O petróleo brasileiro do pré-sal é um mico, do qual precisamos nos livrar o mais rápido possível? Ou o pré-sal é um passaporte […]

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Petróleo, mico e passaporte
Por Felipe Coutinho*

Qual país se desenvolveu exportando petróleo por multinacionais estrangeiras? Qual país, continental e populoso como o Brasil, se desenvolveu exportando petróleo em troca de dólares?
O petróleo brasileiro do pré-sal é um mico, do qual precisamos nos livrar o mais rápido possível? Ou o pré-sal é um passaporte inédito para o futuro?

O petróleo é uma riqueza natural do Brasil. Desde a chegada dos europeus nossas riquezas foram exploradas, o mais rapidamente possível, em benefício de interesses estrangeiros. Foram extraídos da forma mais eficiente para um projeto colonial, aos menores custos para as elites de Portugal, Inglaterra e Estados Unidos.

Todos os ciclos beneficiaram uma pequena casta entre os brasileiros, aqueles responsáveis pela gestão do projeto colonial. Dos senhores de engenho e feitores aos executivos das multinacionais, donos dos meios de comunicação e banqueiros. Esses caboclos transitam através de portas giratórias e ocupam cargos públicos na gestão colonial e neocolonial, dos “homens bons” da Colônia aos executivos das agências reguladoras da Nova República.

A cobiça estrangeira em relação ao petróleo brasileiro é acentuada porque não há substituto para o petróleo barato de se produzir, mas ele acabou e a humanidade vive as consequências econômicas e sociais deste fato. As informações da indústria mundial, o investimento em Exploração e Produção (E&P) e a produção agregada desde 1985 evidenciam o aumento do custo médio de se encontrar e produzir cada barril adicional de petróleo, com severas consequências para a indústria e a sociedade. (Coutinho, O fim do petróleo barato e do mundo que conhecemos, 2017)

Quem pensa que a Petrobras está quebrada, que a produção do pré-sal é lenta, que o pré-sal é um mico e não tem valor ou que a exportação de petróleo por multinacionais pode desenvolver o Brasil, está sendo enganado. É vítima da ignorância promovida pelos empresários da comunicação, políticos e executivos à serviço das multinacionais do petróleo e dos bancos. (Coutinho, A construção da ignorancia sobre a Petrobrás, 2017)

O petróleo do pré-sal pode ser como o pau brasil, a madeira, o ouro e a prata, explorado, esgotado, com prejuízos sociais, ambientais e lucros privados de mais um projeto colonial de sucesso. Ou não, pode ser uma oportunidade para o aumento da produtividade do trabalho no Brasil, em benefício da maioria. Podemos planejar o uso do petróleo, em atividades industriais produtivas, agregar valor ao petróleo cru, nos apropriar e distribuir a renda petroleira.

O petróleo brasileiro do pré-sal não é mico, tampouco passaporte inédito ou um bilhete premiado. É mais uma oportunidade de desenvolvimento que pode ser aproveitada ou desperdiçada. Pode beneficiar a maioria ou, como sempre até aqui, favorecer a uma minoria à serviço do bem-sucedido projeto colonial.

* Felipe Coutinho é presidente da Associação dos Engenheiros da Petrobrás (AEPET)
http://www.aepet.org.br/
https://felipecoutinho21.wordpress.com/

Referências
Coutinho, F. (2017). A construção da ignorancia sobre a Petrobrás. Fonte: https://felipecoutinho21.files.wordpress.com/2017/02/a-construcao-da-ignorancia-sobre-a-petrobras_por-felipe-fev17.pdf
Coutinho, F. (2017). O fim do petróleo barato e do mundo que conhecemos. Fonte: https://felipecoutinho21.files.wordpress.com/2017/09/o-fim-do-petrc3b3leo-barato-e-o-novo-mundo.pdf

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Miguel do Rosário

Miguel do Rosário é jornalista e editor do blog O Cafezinho. Nasceu em 1975, no Rio de Janeiro, onde vive e trabalha até hoje.

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João Batista Kreuch

19/10/2017 - 08h28

Muito oportuna essa reflexão. Estamos sempre às voltas com essa desgraça de colonialismo.
Eu até acrescentaria que o caso do Pre-sal, pela possibilidade de debate que permite sobre a construção de um país, pode ser uma oportunidade de formação de consciência política, coisa que nunca conseguimos fazer acontecer de forma ampla, estrutural. Permanecemos superficiais e pouco entendendo de geopolítica e de manipulação.

Gilvan Araújo da Silva

15/10/2017 - 13h46

Muito bom comentário. Esta matéria que ser amplamente difundida paro o povo já que a grande mídia trabalha para o grande capital.


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