(Foto: Renascença-Sapo)
Por Ricardo Azambuja, colaborador do Cafezinho
Barcelona foi às ruas neste 1º de outubro de 2017 votar no referendo de autodeterminação convocado unilateralmente pelas autoridades catalãs. Contra a lei. Lei baseada nos artigos 116 e 155 de uma Constituição retrógrada, apoiada por uma Corte Constitucional a serviço de Madri. O primeiro artigo refere-se à implantação dos estados de exceção e sítio na Espanha; e o segundo a “compelir a (comunidade autônoma) a cumprir (…) obrigações, de modo a proteger os (…) interesses gerais”. Os catalães, em sua maioria, vêm essas leis como uma forma de perpetuar a subserviência de Barcelona à Madri.
Mas o fantasma do franquismo voltou a assombrar as manifestações na Espanha. A vontade do povo catalão em manifestar sua opção pela independência foi reprimida com violência. Mais de 840 pessoas ficaram feridas. Idosos e crianças não escaparam do que foi considerado pelo porta-voz do governo catalão, Jordi Turull, uma selvageria da polícia espanhola, digna dos tempos obscuros do ditador fascista Generalíssimo Franco. O caso será levado a tribunais internacionais, segundo Turull. Já o primeiro ministro espanhol Mariano Rajoy chamou o referendo de “encenação”.
A Catalunha busca há muito tempo independência da Espanha, acusando Madri de restringir sua autonomia econômica e cultural e de distribuir recursos injustamente no país. É a segunda região mais populosa da Espanha e principal contribuinte para a economia nacional, representando quase um quinto do PIB do país na última década, de acordo com os dados da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico. Além disso, a região autônoma representa 25% de todas as exportações espanholas e 23% de toda a indústria.
Segundo o cientista político Jordi Pacheco i Canals, presidente do Colégio de Cientistas Políticos e Sociólogos da Catalunha, a insatisfação do povo catalão com o governo espanhol vem aumentando desde 2011, quando o direitista Partido Popular assumiu o poder na Espanha. “O PP não tem base eleitoral na Catalunha. Seus resultados aqui sempre foram muito pobres e por isso não corresponde às demandas da Catalunha e não se preocupa com elas. Isso provoca uma sensação de insatisfação democrática e política em relação à Espanha.”
Diante da decisão em manter o referendo, a Guarda Civil já havia efetuado detenções de membros do governo catalão e conseguiu fechar centenas de locais de votação. Mas isso não impediu que os catalães saíssem maciçamente às ruas para votar. “Se o número de votantes que votarem sim à independência corresponder à metade do número das eleições passadas ao parlamento da Catalunha (2,1 milhões de pessoas), o referendo será legítimo”, afirmam os organizadores.
O referendo já foi concluído. A contagem de votos, porém, “será longa e difícil” de acordo com as autoridades catalãs. O chefe do governo regional da Catalunha indica que deverá declarar independência da Espanha. “Neste dia de esperança e sofrimento, os cidadãos da Catalunha ganharam o direito de ter um Estado independente sob a forma de uma república”, disse Carles Puigdemont em um pronunciamento televisionado, cercado por membros de seu governo. Madri não concorda com esse desfecho e fará tudo para evitá-lo.
Adoracion Bou Baudi
29/10/2017 - 16h45
De acordo com comentário anterior, a questão separatista é antiga na Espanha. As discórdias se perpetuam graças ao autoritarismo, e falta de diálogo do governo central na Espanha.
Luis Reyes Gil
24/10/2017 - 09h07
Ótimo artigo.
A situação Catalunha/Espanha é complexa e muito antiga, mas a matéria destaca muito bem logo no no início, o seu elemento principal, que continua o mesmo: a violência e a truculência do franquismo e do poder econômico.
Abraços
Antonio Passos
02/10/2017 - 07h06
O separatismo é uma questão que deve ser analisada com cuidado. Um país se desenvolve como um todo e não se deve creditar méritos apenas a uma região. Desde riquezas minerais até a mão de obra, os recursos se distribuem por uma nação de forma extremamente complexa para, de repente, determinada região decidir que é mais importante, mais rica e por isto ter o direito de se separar. Claro que isto não justifica a violência observada na Espanha.