Carta a Antônio Palocci
Prezado companheiro Palocci,
Em primeiro lugar, gostaria de dizer que, do ponto de vista humano, entendemos sua carta. Somos, como é de costume em nosso partido, solidários com o ser humano, principalmente quando este encontra-se sob tortura física ou psicológica. Pagamos inclusive, como você bem sabe, um preço alto por defendermos as bandeiras do direito, da constituição, e mesmo dos difamados direitos humanos, que no Brasil do retrocesso passou a significar “defesa de bandidos”, graças aos Bolsonaros que agora estão ao seu lado.
Do ponto de vista político e histórico, porém, apesar de entendermos o ser humano Palocci, nos decepcionamos é claro com o ser político, com o ser histórico. Nos decepcionamos com o que você poderia ter sido e não foi, com o que você poderia ter representado e não representou. Sem rancores, mas foi de fato uma decepção.
Não nos decepcionamos por você ter optado pela única saída que no curto prazo lhe devolveria a vida. Isso como dissemos, entendemos. Mas pela forma Palocci, pela forma.
Tentamos mesmo entender um companheiro que se curva à tortura. Mas é difícil entender um companheiro que aceita como condição para uma saída, invalidar toda sua vida, toda sua história, e com isto tentar comprometer todo o futuro de um país. Tudo em nome de benefícios próprios. A sua renúncia a tudo que ajudou a construir, auxilia os carniceiros do Brasil a continuarem o desmonte do futuro de todo uma nação. É claro que sabemos que não depende só de você, mas sabemos que tentam te usar como uma bala de prata para condenar o Brasil à escravidão, ao retrocesso, ao estado de submissão às grandes corporações financeiras que afinal, como você bem sabe, tem conduzido todos esses processos. Você tentar se tornar essa bala de prata Palocci, é o que realmente nos decepciona.
Ao ler sua carta, não identificamos ali suas palavras. Identificamos palavras de um marqueteiro, de um comentarista da globo ou de um “procurador Lava Jato”, ávido por fama e por destruir as conquistas sociais de todo um país. Afinal como você bem sabe, é disso que se trata. Afinal como você bem sabe, estamos falando não só da prisão de um ser humano, mas da condenação de todo um país que um dia, não só sonhou com a diminuição da desigualdade social, como virou exemplo para o mundo com realizações fantásticas.
Respondendo sua carta Palocci, Lula não é Deus para nós, e nosso partido não é uma seita. Lula é para nós no máximo um bom cristão. Um dos melhores que, aliás, andam por estas terras. E talvez justamente por ser um bom cristão siga o mesmo calvário do enviado filho de Deus, quando ousou clamar por uma sociedade mais justa e fraterna. Lula é perseguido como Jesus Cristo não por ser uma divindade, mas por condições limitadas da própria natureza humana, que passados 2017 anos de sua morte, continua a não entendê-lo, e continua a condenar os homens que falam em igualdade social. É disso que se trata como você bem sabe.
Nosso partido, como você bem sabe, não é e nunca foi uma seita Palocci. Você mais do que ninguém sabe que esse termo não é seu, e que sempre foi utilizado pelos tipos Bolsonarianos, Aecistas e afins, para invalidar um partido que foi responsável pela ascensão social de mais de 40 milhões de brasileiros que em nosso governo saíram da miséria. A utilização midiática do termo “seita do PT” é a melhor demonstração do quão pequeno você se fez para alcançar o benefício de uma delação encomendada.
Você sabe que essas palavras não são suas, como não é mais seu o sonho de construir um país melhor. Hoje, corre de braços abertos para quem há muito flerta; o mercado financeiro. Você concordou em trocar o futuro de todo um país por um benefício pessoal e tem agora como único sonho se tornar uma bala de prata. É isso que diferencia você de um ser humano do tamanho de Lula, que tem vários defeitos, mas não aqueles que você aponta.
O seu pagamento está a caminho Palocci. Em breve, tentar incriminar um homem que mudou a vida de milhares de pessoas e inspirou o mundo, lhe renderá liberdade e dinheiro. Não comparamos Lula a Jesus Cristo, mas inevitável comparar a sua atitude com a de um delator bíblico. Já naquela época usavam delatores e juízes para destruírem sonhos de um mundo mais justo. Isso parece ser da natureza humana e parece ter mudado pouco de lá pra cá.
Continuaremos como partido, acreditando em homens do tamanho de Lula, que nos inspiram a continuar acreditando em sonhos que por vezes se mostraram possíveis. Entendemos que nem todos tem tamanho – humano mesmo – para se sacrificar pelo outro, ou para se sacrificar por um país. Entendemos. Mas entendemos também cada vez mais o tamanho e a importância de um ser humano como Lula.
Que um dia você volte a se inspirar nas boas pessoas que andam por esse mundo. Você, de uma forma ou de outra, já esteve ao lado delas.
Deputado Federal Reginaldo Lopes (PT-MG)