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Eleição alemã revela sinais de crise da pós-democracia; resta saber quem surgirá daí

Por Theófilo Rodrigues A recente eleição alemã revelou uma crise da pós-democracia. Crise aqui entendida em seu duplo sentido: como possibilidade de risco, mas também como abertura para novas oportunidades. Pós-democracia é o conceito utilizado por autores como Chantal Mouffe e Jacques Rancière para descrever as sociedades liberais contemporâneas onde a aparência da disputa política […]

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Por Theófilo Rodrigues

A recente eleição alemã revelou uma crise da pós-democracia. Crise aqui entendida em seu duplo sentido: como possibilidade de risco, mas também como abertura para novas oportunidades.

Pós-democracia é o conceito utilizado por autores como Chantal Mouffe e Jacques Rancière para descrever as sociedades liberais contemporâneas onde a aparência da disputa política existe, mas o conteúdo é o mesmo: um tecnicismo liberal que não ofusca o establishment.

Nas sociedades pós-democráticas os partidos disputam eleições, o que confere um caráter aparentemente democrático para a política.

No entanto, seja qual for o partido eleito, sabe-se de antemão que as políticas adotadas serão as mesmas.

Essas legendas que atuam de forma muito semelhante, embora apresentem-se supostamente em campos opostos, foram definidas por cientistas políticos como Peter Mair e Richard Katz como “partidos de cartel”.

A eleição de 2013 na Alemanha talvez tenha sido um marco da consolidação pós-democrática dos “partidos de cartel” no país.

Naquela ocasião, a chapa CDU/CSU de Ângela Merkel obteve 311 cadeiras dentre as 631 possíveis no parlamento. O Partido Social Democrata, SPD, conquistou o segundo lugar com 193 cadeiras.

Desse resultado surgiu a chamada “Grande Coligação”: uma aliança entre CDU/CSU e SPD para formar a base de sustentação do terceiro governo da chanceler Merkel.

Para exemplificar a estranheza que uma coalizão desse tipo causa no eleitor, podemos imaginar o que um paulista acharia de uma aliança entre PT e PSDB para governar o estado de São Paulo.

A “Grande Coalizão” foi algo semelhante; um marco da pós-democracia, onde todos os atores políticos pareciam ser iguais.

Foi a fadiga dessa “Grande Coalizão”, dessa pós-democracia, que foi revelada pelo resultado eleitoral de ontem na Alemanha.

A última projeção feita pelo The Guardian mostra a nova distribuição das cadeiras no Bundestag, o parlamento alemão: CDU/CSU com 218 cadeiras, SPD 138, AfD 87, FDP 68, Die Linke 60 e Verdes 60.

Ou seja, os dois principais partidos que formavam a “Grande Coalizão” tiveram suas bancadas reduzidas.

Alguém poderia argumentar que a pós-democracia na Alemanha continua inabalada, na medida em que, ao mesmo tempo em que houve a redução de CDU/CSU e SPD, a eleição deste ano trouxe para o parlamento o partido liberal, FDP, com uma significativa bancada.

Como o programa do FDP não é muito distante daquele que a “Grande Coalizão” já aplicava, então o consenso do tecnicismo liberal estaria intacto.

O argumento estaria correto se a novidade fosse apenas a entrada do FDP no Bundestag.

Mas, como já sabemos, não foi só isso. Essa eleição também teve como resultado a entrada da AfD, partido de extrema direita – por alguns chamados de neo-nazistas – ao parlamento.

Uma parcela do eleitorado alemão mais conservador, que antes estava na CDU/CSU, deslocou-se para a AfD.

Mas seria um erro de interpretação social e de estratégia política acreditar que o partido é todo formado por apenas esse perfil de eleitores.

Representante de um populismo de direita, a AfD busca agregar o conjunto de eleitores mais pobres, insatisfeitos com as políticas da “Grande Coalizão”.

Para esses eleitores, o acolhimento de refugiados no país e a política de abertura comercial do Euro, foram os responsáveis por suas dificuldades financeiras.

Aqui está a chave do enigma: historicamente esses eleitores estiveram mais próximos da social democracia, do SPD.

Mas o apoio dado pelo SPD para Merkel em 2013 os afastou. “São todos iguais”, dizem esses novos eleitores da AfD.

O SPD percebeu o que estava ocorrendo e até tentou afastar-se de Merkel no ano passado, mas já era tarde demais.

Agora, passado o baque, os social-democratas anunciam que não formarão governo com Merkel: esperam reverter expectativas e recuperar seu eleitorado para as próximas eleições em 2021.

Se o SPD se tornou mais do mesmo para os eleitores, o mesmo não poderia ser dito do Die Linke, partido de esquerda que manteve oposição aberta ao governo de Merkel nos últimos anos.

O Die Linke preservou o mesmo tamanho que já havia conquistado em 2013. Mas perdeu a terceira posição que mantinha no parlamento.

Hoje, se há um partido que pode disputar esses eleitores insatisfeitos com a “Grande Coalizão” e que apoiaram o AfD é o Die Linke.

Para isso o partido precisará readequar sua narrativa para articular as demandas desses insatisfeitos.

Se a AfD representa o risco da crise da pós-democracia, o Die Linke é a oportunidade.

Em outras palavras, cabe ao Die Linke decifrar o enigma da crise da pós-democracia na Alemanha.

Theófilo Rodrigues é professor do Departamento de Ciência Política da UFRJ.

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Theo Rodrigues

Theo Rodrigues é sociólogo e cientista político.

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Comentários

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Irion

26/09/2017 - 22h15

Se o nazismo se alastrar novamente na alemanha, vamos ter que chamar os russos, mais uma vez, para darem outra surra nos alemães nazistas! (todo nazista é intelectualmente obtuso e moralmente subdesenvolvido)

Virgens Kamikazes

25/09/2017 - 19h36

Eu acho muito perigoso relacionar a democracia ao regime liberal. Como se democracia só fosse possível no liberalismo.

Da mesma forma, é um erro afirmar que o que houve no pós-guerra no Ocidente foi um regime democrático ou, pelo menos, uma hegemonia da democracia representativa. O benefício do tempo nos mostra que as eleições que haviam na época eram entre candidatos pré-selecionados pelas burguesias locais. Isso no Primeiro Mundo; no Terceiro Mundo, nem isso houve: foi uma sucessão de ditaduras liberais brutais e extremamente repressivas.

Claro, pode haver o fim da democracia liberal no Primeiro Mundo. Mas o fascismo é o cachorro louco do liberalismo, não seu adversário. É um erro interpretar a ascensão da extrema-direita na Europa Ocidental, Japão e EUA como o fim ou uma interrupção da democracia — isso pressupõe que havia uma em primeiro lugar.

João Carlos

25/09/2017 - 15h24

Se não surgir um partido de corruptos como o Partido dos Trabalhadores eles já estarão no lucro !

    João Carlos AGDM

    25/09/2017 - 18h44

    Cabeça vazia, idiota, não tem nada que dizer, mostra como é imbecil e expõe sua imbecilidade em site de esquerda. Onde não vai ser ouvido, óbvio…
    É idiota mesmo…

jossimar

25/09/2017 - 14h43

Nunca imaginei que o Trump tivesse um rato como mascote.


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