O senador Roberto Requião (PMDB-PR) conversou com um de nossos editores, o jornalista Wellington Calasans, sobre a polêmica envolvendo o ex-presidente Lula e uma procuradora, que tentou humilhar o depoente porque ele, por vício de linguagem, chamou-a de “querida”.
Calasans, que mora na Suécia, país onde todos os pronomes de tratamento foram abolidos, conversou com Requião sobre um projeto de lei do senador para que, no Brasil, sigamos a mesma linha, de maneira a materializar a igualdade democrática que já consta em nossa constituição.
Assista a entrevista!
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Abaixo, a transcrição:
Roberto Requião quer acabar com as falsas excelências
Por Wellington Calasans, Colunista do Cafezinho
O senador Roberto Requião (PMDB – PR) protocolou na sexta-feira (15) um Projeto de Lei que “estabelece normas sobre o tratamento protocolar escrito e oral, destinado ou referente aos detentores de cargos públicos”.
Em entrevista exclusiva para O Cafezinho, Requião deixa claro que os agentes públicos não são excelências e devem ser respeitados pelos bons serviços que prestam à sociedade.
O projeto de Roberto Requião põe fim ao complexo de inferioridade manifestado com ares de superioridade por alguns agentes públicos desconectados com a realidade moderna.
É o fim das falsas excelências. Agora todos serão “você” ou “senhor(a)”, seguindo o modelo sueco. Para o senador paranaense, o caso recente da procuradora que exigiu do ex-presidente Lula ser chamada de Doutora foi a gota d´água. Assista ao vídeo onde o senador Requião dá mais detalhes do projeto.
Leia a íntegra da entevista, um trabalho voluntário de transcrição da leitora do Cafeinho, Camila Govedice
Wellington Calasans – É mais um projeto para o fim da carteirada?
Senador Roberto Requião – Não, Wellington. O fim da carteirada no Brasil é o Projeto de Abuso do Poder que eu fui relator. Era um projeto que dormia aqui há 9 anos no Senado Federal. Eu fiz um relatório acabando com isso e responsabilizando os abusos dos agentes públicos, de todos os agentes públicos, desde o fiscal municipal até o fiscal da Receita Federal, os juízes, promotores, delegados de polícia e parlamentares. Acabar com essa prevalência do sujeito que tem um múnus público e se vale disso para vantagens pessoais ou para se julgar superior a todos os outros. Esse projeto, apenas põe um fim à questão do tratamento. Esse pessoal todo, no Ministério Público, no Judiciário e outros agentes públicos, se acham com o direito de serem tratados como excelência. Isso é um resquício da monarquia. Eles se atribuem verdadeiros títulos nobiliárquicos e num interrogatório, eles humilham o interrogado, que é um cidadão igual a eles. Cabe a eles só, como servidores públicos, prestar um serviço de qualidade e respeitar os outros. E o respeito que é devido a eles deve derivar da qualidade do serviço que preste e do respeito que tem pelos outros.
Wellington Calasans – Seria algo como na Suécia?
Senador Roberto Requião – Na verdade, Wellington, nós nos inspiramos na legislação sueca. Tem que acabar com os títulos nobiliárquicos. O tratamento é o “senhor” e “você”, “tu”, no Brasil tem o “tu” e o “você”. Não tem por que títulos nobiliárquicos (excelência, magnifico reitor), eles se consideram altezas. Não, eles estão prestando um serviço público e devem ser respeitados, como eu disse, pela qualidade do serviço que presta e pelo respeito com que tratam as outras pessoas.
Wellington Calasans – Será que haverá reação a este projeto?
Senador Roberto Requião – Claro, a reação é e vaidade deles. Essas corporações públicas são alçadas a eles por um concurso público, então, é um menino, uma menina concurseiros, eles fazem concurso para tudo, eles não estão muito interessados na espécie e na qualidade do serviço que irão prestar, mas no salário e nas vantagens que conseguirão com o emprego que conseguem. E no dia seguinte querem se considerar superiores a todas as pessoas e receber tratamentos especiais. Excelência, por que um juiz concursado, que era um estudante de Direito ontem, se transforma em Excelência no dia seguinte ao concurso? Não, não é assim e é isso que nós queremos acabar. E eu insisto, estamos instaurando aqui um costume sueco de respeitar o povo.
Wellington Calasans – A sua expectativa é de reduzir a hierarquia?
Senador Roberto Requião – É, esse projeto surge com a reação daquela procuradora que lá em Curitiba ao interrogar o Lula e ser chamada por ele por um vício de linguagem (o Lula chama todo mundo de querido, querida), deu-lhe um esbregue, como se diz aqui, um esporro e exigiu respeito. Na verdade, isso é uma reação de um complexo de inferioridade, uma coisa rigorosamente absurda e o juiz intervir: “Ou chame ela de senhora procuradora ou de doutora”. Doutora do que? Que doutorado ela fez? E mesmo que tivesse feito um doutorado, por que teria que ser chamada de doutora? Ela é uma agente pública interrogando um cidadão num processo legal e o respeito tem que ser mútuo. Então eu resolvi tomar essa medida inspirado na Suécia para achar com essa pretensão, esta arrogância de um agente público e estendi isso para todos os agentes públicos, como você pode ver acessando o meu site, o meu facebook onde está transcrita na integralidade a proposta de lei e a justificativa que eu apresentei.
Wellington, obrigado. Obrigado a você, obrigado ao Cafezinho. Você tem um órgão maravilhoso dessa comunicação fora do esquema comercial possibilitando que a gente converse com muita gente.
Um abração, mais uma vez, parabéns e conte com a gente aqui no Senado da República.
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