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Janot, de Moros à Ícaro, substituiu as flechas por asas de cera

Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil Por Tadeu Porto Nunca escondi que acho tanto o juiz Sérgio Moro quanto o procurador Deltan Dallagnol dois atores políticos de capacidade intelectual muito aquém da figura histórica que representam. Em outras palavras, o Brasil parou na mão de uma equipe medíocre, fraca mesmo, que não passa de um monte de […]

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25/07/2017- Brasília- DF, Brasil- O procurador-geral da República, Rodrigo Janot, durante reunião do Conselho Superior do Ministério Público Federal (MPF) para analisar a proposta de orçamento do MPF para 2018 Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil

Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil

Por Tadeu Porto

Nunca escondi que acho tanto o juiz Sérgio Moro quanto o procurador Deltan Dallagnol dois atores políticos de capacidade intelectual muito aquém da figura histórica que representam. Em outras palavras, o Brasil parou na mão de uma equipe medíocre, fraca mesmo, que não passa de um monte de clichês ambulantes incapazes de discutir, efetivamente, os dilemas no país.

Mas nunca pensei isso do Rodrigo Janot, o Procurador Geral da República. Talvez seja o velho bairrismo mineiro que não me deixe enxergar possíveis defeitos do meu conterrâneo, mas Janot sempre me pareceu ter certo controle da situação, claro, dentro dos limites possíveis que essa conjuntura maluca oferece.

E é por isso que estranhei, e muito, a foto onde Rodrigo aparece com o advogado de Joesley Batista, Pierpaolo Bottini, um dia depois de pedir a prisão do seu cliente, num ambiente tosco, de maneira mais tosca ainda (óculos escuro em ambiente fechado e mesa escondida entre engradados de cerveja).

Imagino que Brasília deve ter milhares de lugares para encontros reservados e, mesmo que não haja, pessoas importantes como o PGR e o escritório de advocacia do maior exportador de carne do mundo sempre têm interlocutores para fazer esse papel.

É mais estranho ainda que tudo ocorra há três dias do julgamento no qual o STF irá decidir, a pedido de Temer, se Janot é suspeito, ou não, para levar o caso JBS a frente. Um “erro” desse é muito conveniente para que o supremo declare a suspeição do Procurador Geral, da maneira que o Presidente usurpador quer [tipo um pacto, com supremo, com tudo, saca?].

Se tivesse que apostar, eu chutaria que Janot fez de propósito, seja por chantagem, suborno ou pois vislumbrou uma maneira de suavizar sua futura derrota. Contudo, se ele está mesmo no desespero que aparentou quando saiu, aos prantos, de uma reunião com Lúcia e Fachin às vezes pode ter cometido tamanho amadorismo. Nesses tempos de reviravoltas diárias na narrativa política, tudo é possível (quase tudo, Moro absorver o Lula é impossível).

Enfim, se há algum certeza na foto (além de que Janot é um bom mineiro e escolheu um risca faca tradicional) é de que a imagem do procurador se derrete com tamanha imoralidade e que, a seguir nesse ritmo, a operação Lava-Jato poderá ir junto.

Bom, existe também outro fato concreto acerca do ocorrido: o mineiro só está sendo chutado da mise-en-scene brasiliense pois, depois de ajudar no impeachment da Dilma, se esbarrou no suprassumo do já falido presidencialismo de coalizão, com o legislativo mais achacador da história (palavras de Cid Gomes), o supremo mais acovardado (palavras de Lula) e o executivo que dispensa apresentações.

Vale relembrar, aqui, o papel crucial que Janot teve no Golpe 2016: prevaricou acerca das inúmeras ilegalidades que o impeachment apresentou; segurou a denúncia contra Cunha que poderia jogar tudo por água abaixo e alimentou a mídia com vazamentos seletivos e cirúrgicos, no tempo certo para desgastar o PT e seu alto escalão.

É inimaginável pensar que enfrentar Cunha, Temer, Aécio & Cia seria como confrontar o “republicano” PT. Um partido que não teve coragem nem mesmo de escolher alguém alinhado com o seu pensamentos ideológicos para os cargos institucionais que lhe cabia, se entregando ao corporativismo do voto local, não pode ser considerado um adversário forte no campo burocrático (FHC com um só ministro, Gilmar Mendes, faz estragos até hoje no país).

Enquanto o MP sob o comando do pão de queijo disparava flechas e mais flechas sobre o Partido dos Trabalhadores, Rodrigo era rei, incontestável, paladino da Ética e da Moral e grande herói nacional. Foi só arrumar malas de dinheiro que atingia Temer e Aécio que o as asas do procurador começou a derreter.

Afinal, uma coisa é ajudar a desconstruir um partido que a mídia e o mercado – por interesses próprios e escusos – querem derrubar, outra coisa, muito diferente, é pensar que vai derrubar o sistema todo só com algumas flechas institucionais.

Se Janot escolheu ou não colar as penas de sua asas com cera para voar em direção ao sol, ou mesmo deixou três flechas guardadas para dispará-las simultaneamente e voltarmos aos tempos do caos, a história irá esclarecer como a ciência desnuda uma mitologia.

O fato é que a queda do Procurador parece ser mais um aperto no torniquete que fará a sangria perder vazão até que seja definitivamente estancada.

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Tadeu Porto

Petroleiro e Secretário adjunto de Comunicação da CUT Brasil

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Comentários

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Beba Monteiro

12/09/2017 - 22h16

A dupla JG (Janot e Globogolpe) tem três tarefas bem definidas no roteiro do golpe: 1) Levar a termo o intento de sacrificar Temer para salvar o golpe contra democracria e os direitos do povo. 2) Colocar o Botafogo da Odebrecht no lugar do Michel Fora Temer, para manter a agenda entreguista, privatista e demolidora de direitos. 2) Destruir Lula e o PT para dar vida longa ao golpe contra a democracia e os direitos do povo, chegando ao ponto de desviar a atenção da opinião publica com acusações sem provas, para tirar o foco das malas recheadas de dinheiro e aeronaves com cocaína encontradas com os golpistas de Plantão.

Reginaldo Gomes

11/09/2017 - 10h45

MOLHAR AS PALAVRAS

O janot pediu uma pinga com cynar de quebra gelo, para a ceva estupidamente gelada descer macia na goela; porção de torresmo , assim a troca de idéia pro acusador e réu se entender fica mais descontraída.

Luiz Côrtes

11/09/2017 - 12h33

A última flecha de Janot para Temer !!!!

Victor Fernandes

11/09/2017 - 12h03

Alguém acredita no Supremo…?

PEDRO PAULO SALAZAR SANCHES

11/09/2017 - 07h12

BANDIDÃO SELETIVO É SO MAIS UM PROCURADOR GERAL CORRUPTO NÃO TENDO NADA COM O BRASIL INCLUSIVO SOCIALMENTE E SOBERANO.

TEM QUE SER EXONERADO COMO TAMBÉM O ROBERTO GURGEL E ANTONIO FERNANDO DE SOUSA OS ANTERIORES E PRESOS.

Ednaldo Wanderley

11/09/2017 - 09h11

Ednaldo Wanderley

11/09/2017 - 09h11

Felipe

11/09/2017 - 01h01

Alguém avise ao analfabeto do Tadeu Porto que antes de nome masculino não há crase.

INGRID MULLER XAVIER

11/09/2017 - 00h08

Boa noite, excelente artigo! Merece revisão por alguns deslizes
1. Parágrafo 5 : “ocorreu há 3 dias” 》 ocorreu a 3 dias
2. Parágrafo 11 : “procurador começou” 》procurador começaram
Sobre o “bairrismo mineiro” que creio ser uma impressionante forma de cegueira , uma vez que incapacita perceber:
1. Que o tão elogiado JK foi uma das figuras mais deletérias de nossa história
1.1 Em aliança com os EUA patrocinou a indústria automobilística desativando toda a malha ferroviária
1.2 E isso já seria o suficiente para execrá-lo eternamente. Ao criar uma capital no meio do nada simplemente desmobilizou a participação popular. Se a capital do país contasse com uma população numerosa dificilmente teria havido o golpe militar e talvez, sequer o último golpe, o parlamentar de 2016
2. Uma nuvem de esquecimento permite o endeusamento de Tancredo Neves
Esquece-se que Tancredo traiu as “diretas já” ao fazer um acordo espúrio de bastidores para sair ao palco presidente. Embora não se comprove, há quem diga que caiu numa esparrela e foi morto para dar lugar a quem estava de fato destinado ao posto.

    Paulo Lima

    11/09/2017 - 15h40

    Não podemos desviar o foco. Janot, Moros(Dallagnóis), à (la) Ícaro, subiram aos céus na “cera” das asas da Globo, cuja credibilidade também se derrete. Presenciamos um espetáculo de horrores que os bastidores das disputas políticas pelo butim do golpe não conseguem esconder mais. A gravidade das falhas deles, dos beneficiários do golpe, é que nos cabe examinar com atenção, para demarcar e fortalecer nossas posições. Abaixo o golpe!

Calebe

10/09/2017 - 23h25

Não nos esqueçamos do episódio do Janot com o senador Collor, quando tentou crescer para cima do senador foi “peitado” e devidamente adjetivado, virou gatinho e nunca mais tocou no assunto é voltou a atacar os inimigos de sempre.

Antonio Passos

10/09/2017 - 22h53

Eu acho até elogio chácara moro e dallagnol de medíocres. Figuras históricas já sou obrigado a concordar, seus nomes farão parte de nossa história, em lugar muito pior, mas muito pior mesmo, que o de Joaquim Silvério dos Reis.

Luis Campinas

10/09/2017 - 22h48

?

Luis Campinas

10/09/2017 - 22h46

Bom texto! Acho sim que tudo é possível e que Janot pode ter participado deste ato no boteco para sair menos mal do que poderia, caso fosse investigado mais a frente. Seria pior por exemplo, uma confirmação de que a grana da JBS, que foi absurdamente expressiva, tenha destinos outros que seu novo advogado, saído da sala de Janot. Janot não é só um cara sem compromisso ideológico com os governos do PT ou ao menos com boa identidade de propósitos com estes e sequer com quem o bancou no último minuto do segundo mandato (Aragão) ele é ruim também tecnicamente e lealdade parece não ser uma qualidade que preze. Quem faz o que ele fez com Genoíno e Dilma…Quem segura uma placa na mão pra delírio de coxinhas é…Janot tá mais pra Moro mesmo! Aliás, o espanhol poderia ajudar muito contando sobre grana a mais também lá nas delações de Curitiba. Quem sabe fique aí um modus operandi praticado tanto em Brasília como em Curitiba. Se o Guardian fizesse uma visitinha na Espanha…Já pensou?


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