Foto (arte): Glauber Barreto
Por Tadeu Porto
Recentemente, os doutores do Instituto de Economia da Unicamp, Ana Luiza Mattos, Flávio Arantes e Pedro Rossi escreveram um excelente texto sobre o “pacto da austeridade” que se criou no país após o Golpe de 2016.
Não pude deixar de pensar algo um pouco além do texto: o pacto é uma imposição da agenda entreguista e neoliberal, como também é, indubitavelmente, o pilar principal (quiçá o único) que sustenta a política nacional.
Tirando a agenda de contrareformas, a Nova República ruiu, acabou, está liquidada. Não há nada que a mantenha em pé, a não ser o desejo desesperado de atender ao mercado – principalmente o internacional – numa agenda austera que penaliza a população brasileira em detrimento da elite política e econômica nacional.
Assistimos o fim da era da pós Constituição de 88 pois é impossível um sistema político se sustentar com tamanha suspeição e descrédito, como acontece atualmente com a estrutura republicana nacional.
Todos os órgãos do Estado brasileiro, a essa altura do campeonato, estão desmoralizados. Uma pesquisa do Ipsos/Estadão do mês passado mostrou isso claramente e, com as recentes trapalhadas de Janot – a delação da JBS – e de Sérgio Moro – o padrinho que negociava delações – a Lava-Jato (uma soma de Polícia Federal, Ministério Público e judiciário que hoje em dia pode ser considerada um braço do Estado) acabou perdeu ainda mais força do que a queda de prestígio demonstrada pela referida pesquisa
Soma-se esse desastre a má imagem das Forças Armadas, que ainda pagam caro pelo o Golpe de 1964, e a desmoralização completa do Legislativo de Cunha, do Executivo de Temer e do Judiciário de Mendes e temos, no quadro geral, um país com suas instituições totalmente desacreditadas.
Ademais, as constantes denúncias acerca dos “penduricalhos” que o alto escalão do serviço público nacional tem piora ainda mais a imagem de deputados, ministros, procuradores, desembargadores, juízes, senadores e afins. [Detalhe: hoje a mídia dá mais destaque a esses itens pois cumpre o papel de demonizar o Estado e abrir espaço para uma agenda de mercado, contudo, não deixa de ser infâme os privilégios dessa casta burocrata].
Tudo isso cria um quadro insustentável, onde os principais atores de uma democracia representativa passam por forte desconfiança por parte da própria população que estes deveriam representam.
Podemos observar, por exemplo, como a própria Lava Jato vem perdendo força. Uma delação como a de Palocci, quadro de alto escalão do Partido dos Trabalhadores, teria um efeito muito mais atômico se fosse há um ou dois anos, quando a opinião pública confiava cegamente nas instituições de investigação e julgamento. Por muito menos, com a Dilma nominando o Lula como ministro, a Globo tentou derrubar o governo convocando pessoas para as ruas ao vivo no mesmo dia da nomeação.
Aliás, falando na imprensa, até mesmo a mídia perde cada vez mais prestígio (apesar de ainda ter muita força e ser o poder mais influente atualmente) o que se pode notar na enorme desmoralização que O Globo sofreu pela a capa canalha que tenta atribuir, por imagens, um dinheiro ligado a Geddel aos presidentes Lula e Dilma.
Enfim, o Brasil caminha a beira do abismo, num caos gigante e provocado por uma elite que não sabe perder nem uma rodada de purrinha. E nessa batida, sabendo que não há maneira da Nova República resistir a tamanha desmoralização, não nos resta muita escolha a não ser protagonizar a mudança que o país precisa, ou então estaremos fadados a mais um ciclo de derrotas para a população.