(A capa da The Economist que irritou os EUA)
Por Pedro Breier
Na última sexta-feira ocorreu, em São Paulo, um ato político e cultural pela paz na Venezuela, com a presença e análise de conjuntura de Guilherme Boulos, Gilberto Maringoni e João Pedro Stédile, dentre outros.
Celso Amorim, chanceler do nosso país quando éramos respeitados no mundo todo, em um passado não tão distante, também estava presente. Ele brincou que não foi convidado mas quando ficou sabendo do evento resolveu ir de penetra, pois está muito preocupado com a situação da Venezuela. Vejam que interessante este trecho da fala que Amorim fez no ato:
Se havia alguma dúvida de qual o lado certo na questão da Venezuela, a ameaça do uso da força pelo Trump resolve a questão. Mesmo que ele não concretize, é um incentivo a terroristas para que comecem a usar a força. A ameaça do uso da força é algo que por si só justificava uma reunião da Unasul para repudiar isso. Ameaçar um país da América do Sul com o uso da força é algo gravíssimo, algo que eu nunca vi.
O ex-chanceler brincou sobre a evidente verdadeira motivação para as invasões dos EUA, a busca por recursos naturais, especialmente o petróleo: “Quem quiser acredite em coincidências. Eu só acredito em teorias conspiratórias.”
Amorim citou também uma capa da revista The Economist de 2010 sobre a ascensão da América Latina, cuja manchete era Nobody’s backyard, algo como “Não é quintal de ninguém”. A imagem da capa, que abre este post, mostrava o mapa das Américas invertido em relação ao mapa-múndi tradicional. A reportagem está neste link.
Segundo o ex-ministro dos governos Lula e Dilma, esta capa incomodou os Estados Unidos a tal ponto que os serviços secretos norte americanos, os quais têm forte rivalidade entre si, se uniram para atacar a América Latina de formas variadas. O resultado foram golpes de Estado com participação subterrânea decisiva dos EUA, como em Honduras, Paraguai e Brasil, e agora a ameaça explícita à Venezuela.
Celso Amorim destacou, ainda, que a política externa brasileira, no período em que o país virou um heavy player na geopolítica internacional, sempre foi no sentido de buscar a paz entre os países e que, quem é pela paz, não importa a orientação ideológica, tem a obrigação de posicionar-se contra a ameça de Trump de atacar militarmente um país latino-americano.
Como falou Celso Amorim, é algo inédito e muito grave. O que interessa a eles nós, assim como o Oriente Médio, temos: petróleo. A desculpa para a invasão é o de menos. É só dizer que é para “defender a democracia” e pronto.
A submissão odienta da direita brasileira aos EUA chegou ao seu ápice com a falta de qualquer reação à ameaça de Trump. Se não for por solidariedade, que seja por questão de estratégia e sobrevivência: não levantar-se contra uma ameaça dessas a um país vizinho é abrir a porteira para que os EUA façam da América Latina o seu novo Oriente Médio, caso desejem.