(Foto: Ricardo Stuckert)
Depois de toneladas de capas de revistas, manchetes sensacionalistas, editoriais, colunas furibundas, o MPF conclui que Lula era inocente no caso da delação de Delcídio do Amaral.
O caso revira um dos episódios mais sórdidos do golpe: a própria prisão de Delcídio, seguida de chantagem para que delatasse Lula e Dilma.
Delcídio mentiu e foi solto. Daí passou a frequentar a grande mídia, repetindo suas mentiras.
Essa é a justiça brasileira, uma justiça de exceção, reacionária, classista e, sobretudo, golpista, sem compromisso com valores democráticos.
A participação da justiça brasileira no golpe desmoralizará a instituição por muitos anos. Não é por outra razão que o PGR não consegue derrubar Michel Temer ou prender Aécio mesmo com flagrante de malas com 500 mil reais.
Ninguém mais respeita a justiça brasileira, o que é um perigo para a jurisdição em todo mundo, conforme já alertou Luigi Ferrajoli, ao denunciar a Lava Jato.
Quando eu souber de processos judiciais contra políticos, em qualquer lugar do mundo, não irei levar tão a sério como o fazia antes, porque terei em mente o exemplo do Brasil.
Isso mostra como o desrespeito à jurisdição num país gera riscos para o Direito em todo mundo.
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No DW
Ministério Público Federal pede absolvição de Lula
Ex-presidente foi acusado por Delcídio do Amaral de tentar comprar silêncio de Nestor Cerveró. MPF conclui que acusação é falsa e solicita a perda dos benefícios da delação premiada do ex-senador.
O Ministério Público Federal (MPF) em Brasília pediu nesta sexta-feira (01/09) a absolvição do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva no processo sobre a suposta tentativa do petista de obstruir o andamento da Operação Lava Jato. Ele foi acusado de tentar comprar o silêncio do ex-diretor da Petrobras Nestor Cerveró.
A suposta tentativa de Lula de obstruir a Justiça foi apontada pelo ex-senador Delcídio do Amaral em sua delação premiada. Segundo o procurador da República Ivan Cláudio Marx, não há provas de que o ex-presidente participou dos supostos crimes imputados pelo delator nos depoimentos.
“Para o procurador, ao contrário do que afirmou Delcídio do Amaral – tanto na colaboração quanto no depoimento dado à Justiça –, o pretendido silêncio de Cerveró, que à época cumpria prisão preventiva, não foi encomendado ou interessava a Lula, mas sim ao próprio senador”, diz uma nota do MPF.
Por Delcídio ter mentido nos depoimentos, o Ministério Público solicitou ainda que o ex-senador perca os benefícios concedidos com base na delação premiada. De acordo com o procurador, Delcídio escondeu a origem dos recursos que teriam sido providenciados supostamente para comprar o silêncio de Cerveró.
“No entanto, atribuiu falsamente a Lula a ordem para a prática do crime. Assim agindo, escondeu do Ministério Público Federal sua real função de chefe no esquema referido, angariando benefícios que não receberia se a verdade prevalecesse”, sustentou o MPF.
O órgão pediu ainda a absolvição do banqueiro André Esteves, que também foi acusado por Delcídio de participar do suposto esquema criminoso. O MPF solicitou, porém, as condenações do pecuarista José Carlos Bumlai e de seu filho Maurício, do advogado de Cerveró, Edson Ribeiro, e de Diogo Ferreira, ex-assessor de Delcídio.
Essa foi a primeira ação na qual Lula se tornou réu, em julho de 2016. O processo foi aberto com base na delação do ex-senador, preso em novembro de 2015, justamente por tentar obstruir as investigações com a compra do silêncio de Cerveró. Delcídio teria oferecido 50 mil reais para a família do ex-diretor, além de um plano de fuga para que Cerveró deixasse o país.