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Milagro Sala enfim sai da prisão

(Imagem-Patria latina) Milagro estava sentada em frente ao Tribunal Federal de Jujuy, explanava sobre a perseguição do atual governador do Estado e então senador naquela dia de 16 de outubro de 2009. Naquela data, lideranças populares externaram sua indignação verbalizando a Gerardo Morales suas demandas e reclamações. Esta imagem retrata um pouco a realidade recorrente […]

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(Imagem-Patria latina)

Milagro estava sentada em frente ao Tribunal Federal de Jujuy, explanava sobre a perseguição do atual governador do Estado e então senador naquela dia de 16 de outubro de 2009. Naquela data, lideranças populares externaram sua indignação verbalizando a Gerardo Morales suas demandas e reclamações. Esta imagem retrata um pouco a realidade recorrente em nossa história, uma representante nativa dos povos americanos, diante de um tribunal que visa defender um governador que mantem a elite a dominar os necessitados do norte da Argentina. A colonização italiana e espanhola que superava quarenta por cento da sociedade argentina no começo da república, avançou contra os indígenas da Patagônia e os nativos de Tucomán, Salta e Jujuy. Os anos mudaram, mas a ação é a mesma. Diante da acusação de “ameaças coercitivas, dano agravado e escracho” encontrou a voz tranquila e ponderada:

“Morales me persegue por eu ter organizado os pobres… é totalmente mentira, ele está indignado com uma dirigente que milita pela dignidade dos setores necessitados (…) sinto que sua perseguição de oito anos que venho sofrendo é por sentir-se molestado por que os “negros”, podem se organizar (…) não me vão sacar o que penso, me podem calar, mas não o meu pensamento (…) não me podem envolver em algo que não fiz. Se tivesse feito, organizado, eu não estou acostumada a fazer que outros paguem (…) Sinto muito o rancor de Gerardo Morales, ele não resolve os problemas dos “jujeños”, persegue vendedores ambulantes e paga 300 mil pesos a contratados políticos para me acusarem. Venho pedir aos senhores juízes que formem uma conclusão independente”. (1)

Seguindo a máxima do judiciário que serve ao poder, Milagro foi condenada a 3 anos em dezembro de 2016, voltando a prisão que estava recolhida desde janeiro. Mas, como acontece com os verdadeiros líderes de movimentos sociais, quando são perseguidos, sua dimensão se majora.

A organização “Barrial Tupac Amaru” se consolidou como um movimento hegemônico dos setores populares e informais. Apesar de estar presente em 15 dos 23 provinciais, com 60.000 filiados e milhares de trabalhadores empregados, ela se faz mais forte no estado de Jujuy. O nome Tupac Amaru é devido ao líder indígena do vice reinado do Peru, do século XVIII, que protagonizou a maior rebelião contra o império espanhol. A sua ação protagônica origina-se no fato que o movimento suplanta a problemática do desemprego, lidando com as questões de socialização e a defesa da mulher, inclusive a maioria de sua gestão é do sexo feminino. Apesar da gestação da organização política advir dos anos noventa em contra ponto ao paradigma neoliberal estabelecido, atinge um destacado patamar com a chegada ao poder de Néstor e Cristina Kirchner. As parcerias com o governo vão permitir desenvolver as cooperativas de habitação e estrutura social. Dentro deste contexto, o ¨Tupac Amaru¨ demostra que mesmo recebendo um volume importante de recursos estatais, não implica em perder mobilização interna, mantendo sua independência e processos decisórios via conselhos e assembleias.

Milagro Amália Ángela Sala fez da sua luta política a defesa da integração indígena e o reconhecimento oficial das diferentes culturas da Argentina. Foi deputada estadual eleita em 2013, mandato que renunciou quando foi eleita parlamentar no “Parlasul”. O fato mais impressionante nesta história é que a parlamentar e líder comunitária esteja presa por ter solicitado uma audiência com o então governador eleito, Gerardo Morales, aliado do presidente Macri. O objetivo era tratar de projetos das cooperativas que já eram uma realidade. Diante da negativa, a população em assembleia, decidiu acampar pacificamente a frente do palácio na esperança de uma reunião. A justiça argentina para avançar contra Milagro e servir o governador, usou a premissa da “convicção” e nenhuma prova para culpabilidade de uma pessoa que não participou de nenhuma animosidade ao mandatário do executivo.

Ninguém pode estar presa por atirar ovos! (2) Assim a presidenta legítima do Brasil, Dilma Rousseff, em palestra na Universidade Metropolitana de Buenos Aires definiu a situação da líder “jujeña”,e solicitou garantias para os direitos adquiridos contra desigualdade. A ação de Sala lhe rendeu apoio internacional, como do Papa Francisco, Nicolás Maduro, Evo Morales, Rafael Correa, Cristina Kirchner e Lula. A pressão mundial fez a ONU lançar olhares a sua detenção, declarando e ratificando o caráter arbitrário deste processo (3). Dois meses depois, em 31 de julho, Francisco Eguiguren, presidente do Conselho Interamericano de Diretos Humanos declarava: “a permanência da deputada no cárcere colocava em risco sua vida”. (4)
Nesse cenário emerge um pouco de justiça, mesmo que envergonhada. Um dos juízes que condenara a parlamentar concede a prisão domiciliar, mas o interessante é observar que não permite na sua residência, e sim numa casa depredada (5) do movimento ¨Tupac Amaru¨. Por fim, no dia 24 de agosto, após um mutirão, seus advogados informam a justiça da condição favorável para habitação. Ontem, 31 de agosto, enfim Milagro foi levada para uma casa que não é sua ,para cumprir uma prisão ¨domiciliar¨.

Este conjunto de fatos pode nos levar a pensar que retratamos apenas a história Argentina, mas ela suplanta esta seara. Ela diz respeito ao paradigma de que o detentor do Estado procura, inclusive com conivência da justiça, cercear as demandas da base da população que possam incomodar os endinheirados. Ela pode ser embate de etnia, da renda, da cultura, ou principalmente da sobrevivência.
No palco atual, os brasileiros que sofreram um golpe de estado e tiveram de explicar ao mundo que não foi impeachment, falar de Milagro é falar de nossa história inacabada. Milagro tem o olhar do indígena, do sertanejo, do operário, do¨ Quechua¨, do ¨Aymará, do ¨Guarani¨, do ¨Criollo¨, do ¨Mapuche¨, do ¨Inca. Milagro tem nossos olhos. Precisamos falar de Milagro Sala!

LINKS
(1) http://tn.com.ar/politica/en-50-minutos-milagro-sala-se-defendio-acuso-gerardo-morales-y-le-pidio-los-jueces-que-no-se-dejen_760467
(2) http://www.urgente24.com/260144-dilma-rousseff-pidio-por-milagro-sala-y-no-quiso-hablar-de-odebrecht
(3) http://www.infobae.com/politica/2017/05/18/la-onu-volvio-a-calificar-como-arbitraria-la-detencion-de-milagro-sala/
(4) https://www.nodal.am/2017/07/francisco-eguiguren-presidente-la-cidh-milagro-sala-permanencia-prision-pone-riesgo-vida/
(5) https://www.pagina12.com.ar/56905-milagro-en-prision-domiciliaria

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Tulio Ribeiro

Túlio Ribeiro é graduado em Ciências econômicas pela UFBA,pós graduado em História Contemporânea pela IUPERJ,Mestre em História Social pela USS-RJ e doutorando em ¨Ciências para Desarrollo Estrategico¨ pela UBV de Caracas -Venezuela

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Comentários

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Fernando

01/09/2017 - 21h14

Viva Milagro!

rodrigo

01/09/2017 - 11h34

MILAGRO , PERSEGUIDA NA ARGENTINA , A HISTÓRIA É A MESMA NA AMÉRICA LATINA.

lu

01/09/2017 - 11h26

ótimo texto,abordagem perfeita e adequada!
Parabéns O cafezinho
Milagro é uma perseguida


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