O Brasil no mercado das almas
A Folha publica hoje uma reportagem sobre empresas brasileiras, vendendo às pressas seus mais valiosos ativos, por causa da Lava Jato. Tudo é visto como positivo, inclusive a virada nos investimentos. Antes, o capital internacional vinha, em sua maioria, para a indústria. Hoje, vem para o setor de serviços públicos: eletricidade, transporte, tratamento de água.
“Os serviços captaram 66% desse total, bem acima do atraído pela indústria (28%) e pelo agronegócio (6%).Há apenas dois anos, quando os ingressos estrangeiros no setor produtivo estavam no mesmo nível, a indústria ficou com a maior parte desses recursos (60%), e os serviços captaram apenas 30%”, diz a matéria.
Um outro trecho da matéria mais desinforma do que informa:
“Por país, o ranking do Banco Central mostra que os EUA responderam por 27% das transações ocorridas até julho, seguido por um grupo curioso que reúne Países Baixos, Ilhas Virgens Britânicas e Luxemburgo”.
A matéria não informa as mudanças nessas participações sobre o ano anterior. A observação sobre um “grupo curioso” dos Países Baixos, Ilhas Virgens e Luxemburgo não me parece muito informativa. Um dos entrevistados pela matéria diz uma coisa igualmente “curiosa”:
Andrade diz que esses países se encontram no topo da lista porque oferecem, legalmente, benefícios fiscais para que empresas transitem por eles. São lugares de passagem, mas acabam entrando no levantamento do BC como a origem dos recursos.
O tal Andrade usou palavras delicadas para se referir a paraísos fiscais, onde se concentra o grosso do dinheiro sujo no mundo, que ali encontra maneiras de ser “lavado”.
O “feirão” Brasil, então, será uma ótima oportunidade para que esses recursos, hoje em risco por causa do aumento do cerco internacional à lavagem de dinheiro, sejam legalizados.
Não creio, porém, que será muito vantajoso para o Brasil ser comprado por grupos internacionais especializados em lavagem de dinheiro.
O Cafezinho foi atrás dos números.
Como se vê, os EUA elevaram em 165% o volume de investimentos no Brasil, fazendo sua participação, que era de 13,7% em 2016, saltar para 27% em 2017.
França e Itália também elevaram seus investimentos no país.
Abaixo, a tabela mostra que setores, especificamente, estão atraindo o interesse dos investidores.
O grosso é o setor de serviços, que respondeu por 66% dos investimentos. Mas o setor de serviços é amplo: inclue tecnologia, entretenimento, etc. Mas nada disso interessou aos estrangeiros.
O interesse deles se concentrou no serviço público de transporte, eletricidade e água. 53% dos investimentos estrangeiros em serviços foram destinados para esses três setores.
São áreas onde há monopólio (ou seja, não há concorrência) e, com um pouco de lobby, pode-se elevar as tarifas até o limite do suportável pelo povo sem produzir revolta popular.
É uma situação fortemente favorável à corrupção, porque teremos setores privados, desesperados por lucro, tomando conta de serviços essenciais cujos preços são determinados pelo setor público.