(Foto: Ricardo Stuckert)
Reitor exalta Lula, mas pede fim do ‘modelo conciliatório’
Segundo Jairo Campos, que chegou a ser ameaçado por causa da homenagem a ex-presidente, “é hora de construir um caminho coletivo, pautado nos movimentos sociais organizados e no poder popular”
por Redação RBA publicado 23/08/2017 17h48, última modificação 23/08/2017 17h52
São Paulo – Na cerimônia de entrega do título de Doutor Honoris Causa ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva em Arapiraca (AL), o reitor da Universidade Estadual de Alagoas (Uneal), Jairo Campos, exaltou os feitos do petista, mas também cobrou o fim do modelo “conciliatório” em eventual retorno à presidência da República.
“Tenho aprendido na minha vida pessoal e profissional e ao longo de uma história aos rigores do Rio Grande do Norte, onde nasci, e de Alagoas, onde escolhi viver, que algumas pessoas chegam ao poder e apenas governam. Outras não só governam, mas fazem história. Esse momento é indiscutivelmente um desses momentos históricos”, disse Campos em seu discurso. “Sinto-me feliz em homenagear o homem que mudou a cara do Brasil e soube, mais que qualquer outro, gravar o seu nome nos anais da história da República. Uma história que não se apaga com a caneta revestida do Judiciário, ou de vozes camufladas pelas ondas da grande mídia bancada pelo grande capital e a serviço de seus interesses.”
Entre as realizações citadas pelo reitor como base para a homenagem a Lula, foram destacadas em especial as relativas à educação. “Quero agradecer, em nome da população alagoana, pelo Reuni, que democratizou o acesso às universidades públicas; pela lei das cotas, que viabilizou milhares de vagas das universidades públicas para os estudantes das escolas públicas e para os pobres. Antes, eram vagas abocanhadas pela classe média alta. Filho de pobre, hoje, pode fazer Medicina, Odontologia, Engenharia, ser professor”, ressaltou.
“Conte conosco, querido Lula, na sua luta contra os tubarões do capitalismo, que não medem esforços para tentar desconstruir o legado que deixaste, mas não passarão. Não daremos a nenhum tubarão a alegria de ser homem”, disse. Jairo Campos chegou a ser ameaçado de morte após anunciar a titulação, ainda que o processo para aprovação da outorga tenha começado em 2011, depois do fim do segundo mandato do ex-presidente, com tramitação em todas as instâncias do Conselho Universitário.
Possibilidade real de governo popular
Embora tenha pautado a maior parte de sua fala nas realizações do governo Lula, o reitor da Uneal cobrou do ex-presidente “uma grande mudança de paradigma”. “Não podemos estar à mercê do capitalismo financeiro internacional. É hora de construir um caminho coletivo, pautado nos movimentos sociais organizados, no poder popular, e ninguém melhor que o senhor para reconstruir o país nesse sentido”, ponderou.
“Não é preciso ser doutor para saber que o poder vem do povo, e que pertence a ele. O povo derruba gigantes e elimina fronteiras, mas é preciso sacudi-lo, acordar o povo”, defendeu Campos. “Estamos com você. Sua popularidade e aceitação têm demonstrado isso. Mas é preciso que diga não às alianças espúrias e construa uma plataforma social verdadeiramente popular”, pregou.
O reitor ainda cobrou um compromisso para que sejam combatidos os retrocessos promovidos pelo governo Temer. “Iremos às ruas quantas vezes for necessário em nome de uma possibilidade real de um governo popular, que diga não ao desmonte do Estado, ao extermínio da nossa Previdência, à terceirização em massa, à lei da mordaça aos professores, às políticas neoliberais, aos organismos internacionais que nos medem com a réguas dos seus interesses, aniquilando as singularidades e identidades brasileiras.”
Jairo Campos citou outros momentos sombrios da história e em que “vossa excelência também sempre esteve presente”, e disse estar pronto para “lutar por um modelo alternativo”, que deveria ser liderado por Lula. “Mas carecemos da certeza de que não teremos mais um vice golpista e de lograrmos êxito de que todas essas medidas de retrocesso serão revisitadas”, provocou. “Esperamos um modelo que não seja mais apenas conciliatório, mas que seja revolucionário.”
Ao fim, Campos ofereceu apoio ao ex-presidente diante do que considera ser uma perseguição. “Acredite, Lula, a despeito de toda espécie de injustiça que tem sofrido, a mentira não passará e a verdade prevalecerá.”