Foto: Ricardo Stuckert
O PT, o Partido de Todos os Erros, tem agora mais um mea culpa para a sua larga lista de meas culpas: o fato de que Lula não ‘fez’ um sucessor.
As elites intelectuais, que foram desertando o partido quando se depararam com os conflitos e contradições da impossibilidade de se manterem puros na prática política, e que desbandou em massa com o surgimento do mensalão, assistiram impassíveis o desenrolar do impeachment.
Cheios de desdém, sentados em suas cadeiras de couro, em escritórios enlivraçados, cuspiram um “bem-feito” do canto das bocas ao ver o desmoronamento do Partido, seus líderes desgraçados, encarcerados.
Quando, nos últimos momentos, se deram conta que o impeachment era golpe, se desesperaram, ensaiaram um retorno à política, mas já era demasiadamente tarde.
Agora assistimos a grupos de direitos humanos se chocarem com o rápido aumento nos números de jovens negros mortos nas periferias e cadeias, e nas zonas rurais, com sem-terras e indígenas massacrados.
Ambientalistas atônitos e impotentes face à falta de pudor dos ruralistas.
Educadores e sanitaristas mal acreditam que políticas gradualmente incrementadas e aperfeiçoadas desde a Constituição de 1988, sejam descartadas e enterradas sem cerimônia.
Desevenvolvimentistas-nacionalistas se encontram boquiabertos face ao saque da Nação.
E, frente a tão descarado assalto ao Estado, alguns, limpando as migalhas de pão de seus colos, botando o copo de vinho meio tomado na mesa-escrivaninha, levantaram de suas cadeiras para tentar algum tipo de re-ação em nome da nação, do povo, dos pobres, da educação, da cultura e da ciência, da igualdade, dos direitos humanos, da justiça, da verdade, seja lá qual causa motiva mais alguns que outros.
Mas Lula, o Sobrevivente, impedido participação no governo Dilma (Seria este ‘Lula, o Negociador Nato’ ou ‘Lula, o Corrupto que atende às necessidades de todos’?), sua vida íntima eviscerada, condenado pela justiça, vendo todo o seu legado político-social esfacelado em poucos meses, decide que vai se candidatar de novo à presidência.
Entra ‘Lula, o Salvador da Pátria’, em caravanas por um mítico Nordeste onde Canudos se ergue enlameada de um açude ressecado.
António Lula Conselheiro, beijado, abraçado, bajulado, tumultuado por um povo sedento por amor, é claro (e não por materialidades terrenas, como educação e saúde).
Morra ou não morra Lula ascende ao Céu Brasileiro.
Os intelectuais, ateus, semi-ateus espiritualistas, religiosos corretos se retorcem enojados.
E não foi o vinho nacional que não caiu bem.
Foram as movimentações fervorosas de um Povo, que não poderia jamais entender Política, só Populismo.
Um Povo que só poderia ver o bolsa-família como uma dádiva do Pai-Lula, e não como política de transferência de renda.
É.
Porque, em suas mentes, mesmo com toda a seriedade do Progresso dos Positivistas, e suas Ordens Militares e Empresariais, nunca conseguiram transformar o Povo Macunaímico em Cidadãos Ativos e Motivados como os das Nações Modernas do Norte.
Antes das Caravanas, nossos articulistas, atrasados eles mesmos na ação, se indagavam:
Cadê o Povo nas ruas?
Mas até em termos de participação popular existem regras sobre que tipo pode ou não pode, que participação é válida ou inválida.
É bonitinha quando em versos velados e cômicos, em letras de marchinhas e sambas de carnaval. Ou, em sua versão atual, memes internéticos.
É correta quando clamam por altos valores abstratos de direitos humanos.
Mas quando aquele Povo, que nunca se vê na mídia, saídos de amontoados, escondidos como formigueiros, para dar apoio a um líder massacrado, aah isso não pode.
Isso faz as elites engasgarem: Não, não e não! Forma de participação errada. Não está no Manual da Modernidade.
Mas quem foi que transformou Lula em Messias?
O PT dos Erros, não tem outro líder.
Esqueçamos o fato de que todos os potenciais do partido, inclusive a malfadada Dilma, foram derrubados.
Dizem até que o Marinho da Globo teria se encontrado com o próprio Lula para que ele tomasse o lugar de Dilma em 2014.
Esqueçamos o canibalismo Tucano, que em sua fome por poder, jogou fora ética, decência e a democracia tão amada das elites mundiais, acabando sem líder ou liderança.
Esqueçamos o fato que o atual PMDB não estava apto para tomar conta sozinho nem de uma barraquinha de festa de São João.
Fomos politicamente decapitados.
Sobrou… Bolsonaro? Dória? Moro? Kim Kataguiri e os MBLs?
Mais um reviravolta nos estômagos intelectuais.
Esqueçamos também a ganância de ideólogos de direita, que (ainda!!) acham que podem promover a maior revolução de Estado já vista durante um interregno de caos e falta de democracia, porque o Povo… aah o Povo.
E o que queremos deste Povo?
Quando não participam são alienados, se não protestam são ingratos.
Políticas sociais são mamação do Estado e se o Povo gosta, é populista.
E quando sai para saudar o Lula – o único presidente que implantou políticas sociais de maneira que nem o velho Vargas fez – é messiânico.
Lula, o ex-retirante, está querendo virar Deus.
E porque Lula, o ex-sidincalista, não formou sucessores, vamos cumprir a sina que já nos fora delineada:
Virar Venezuela – O destino de qualquer pais latino americano que ouse contemplar o Povo.
Tudo culpa de Lula em seu outono de patriarca e, é claro, do PT.