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Carta de um trabalhador do Setor Elétrico aos demais companheiros de luta

Por Tiago Bitencourt Vergara Estamos em 2017, ano pós-golpe parlamentar/jurídico/midiático ocorrido em 17/04/2016. Desde que tudo começou tínhamos a sensação de que de alguma forma, nós do setor elétrico seríamos duramente afetados. O fantasma da privatização promovido na Eletrosul no período FHC, marcou a vida profissional de muitos trabalhadores que foram demitidos, perseguidos e tiveram […]

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Por Tiago Bitencourt Vergara

Estamos em 2017, ano pós-golpe parlamentar/jurídico/midiático ocorrido em 17/04/2016. Desde que tudo começou tínhamos a sensação de que de alguma forma, nós do setor elétrico seríamos duramente afetados. O fantasma da privatização promovido na Eletrosul no período FHC, marcou a vida profissional de muitos trabalhadores que foram demitidos, perseguidos e tiveram suas vidas totalmente desconfiguradas naquele período.

Em poucos, lutamos contra o golpe com unhas e dentes. Mas ele aconteceu, perdemos aquela batalha triste de Abril de 2016. Sofremos intensamente quando a presidenta eleita Dilma Vana Rousseff foi afastada por uma corja golpista e corrupta. Os desdobramentos da Lava Jato, operação policial e judicial que acabou com a soberania do nosso país, chegou nos aliados do temer e o golpe foi iniciado. O golpe, teve como um dos pilares a intenção de parte dos parlamentares de se salvarem da cadeia e isso está registrado na história recente e triste do nosso país.

Depois, estes mesmos poucos, lutamos contra a PEC da morte, desmonte das leis trabalhistas, dos correios, da Petrobras, direitos dos quilombolas e contra tantos outros malefícios que este governo sem legitimidade está implantando no nosso país.

Agora, estamos lutando pelo setor elétrico, neste momento em que a onda de choque do golpe atinge nossas empresas como um tsunami atinge o litoral. Gostaria de dialogar de forma franca e aberta informando o que realmente acontece, oferecendo a oportunidade de contraponto ao que a mídia corrompida difunde diariamente contra nós.

O que o setor privado quer implantar no país, é um modelo onde o estado mínimo é a principal característica. O desmonte do setor elétrico é primordial para que consigam eliminar a possibilidade do estado regular, controlar e proteger o setor de energia elétrica, pilar principal da soberania do país.

É mentira que a MP579 editada pela presidenta Dilma acabou com o setor elétrico. A MP579 veio para prorrogar as concessões das empresas do governo que venceriam em 2015, causando uma desoneração forçada de igual ou maior tamanho da que foi feita. Tal prorrogação impediu que o setor sofresse com um desmonte já em 2015.

Naquela ocasião, o governo federal cortou a receita das empresas proporcionando uma redução de tarifa para a população. Tal redução só não foi tão percebida devido à crise hídrica ocorrida em 2014, que forçou o setor a usar o potencial termelétrico que custa bem mais caro.

Hoje, o modelo sancionado pelo presidente Lula em 2004, através da lei 10.848/2004, está baseado em três pilares: modicidade tarifária, universalização e garantia de fornecimento.

A modicidade tarifária é praticada através de vários mecanismos que permitem forçar o custo para baixo, sendo o preço praticado o menor possível. São realizados leilões de usinas e de linhas de transmissão, onde vence quem oferece o menor preço. No período de 2002 a 2014, as empresas do grupo Eletrobrás foram as que mais ofereceram deságio para o setor elétrico, aumentando a eficiência ano após ano através da competência, experiência e vontade que desse certo de todos os empregados das suas subsidiárias.

A universalização é garantida pelos programas sociais do estado, que através de subsídios, garantem energia para as populações mais distantes dos grandes centros. A agricultura familiar foi amplamente fortalecida e beneficiada neste período com programas como Luz Para Todos que erradicou em Santa Catarina a falta de acesso das pessoas a energia elétrica. As concessionárias também recebem subsídio, sendo a energia garantida a todas as pessoas de baixa renda.

A garantia de fornecimento, é realizada por programas de investimento como PAC, financiamentos do BNDES e de um planejamento que permite que o setor ande na frente da demanda necessária para o crescimento e consequente desenvolvimento do nosso querido Brasil.

O governo golpista, quer através de duas consultas públicas MME 5/2017 e MME 33/2017, legitimar de forma rápida e rasteira a total alteração neste modelo de eficiência e sucesso no Brasil. Cabe ressaltar que as consultas públicas não terão o caráter a que se destinam, sendo consideradas somente como cumpridoras formais. A pretensão do governo é editar uma medida provisória alterando todo o modelo, que carecia de ajustes, mas não de uma transformação tão profunda e desastrosa.

A alteração proposta acaba com a modicidade tarifária, colocando no lugar a liberdade de mercado e comercialização. Esta medida irresponsável vai afetar todos os brasileiros e brasileiras que dependem da energia elétrica. A energia com o preço liberado e controlado tão somente pelo mercado, pode subir a exemplo da Argentina onde passou a custar 700% mais. Com o aumento do preço da energia, poderemos ter racionamento em escolas, hospitais, universidades, aumento dos preços de tarifas de todos os demais serviços que dependem da energia elétrica para se viabilizarem. Só para se ter uma ideia, a energia será comercializada em uma “bolsa de energia” e o preço será definido hora a hora ao longo do dia. Exemplo mais parecido com isso é o da Colômbia, onde o preço é por dia, ou seja, cada dia da semana o preço tem um valor diferente do outro. Será um desastre. Imagine-se tomando banho de madrugada porque a energia no horário chamado de ponta 18h às 22h tenderá a custar mais por causa da elevada demanda neste período do dia.

A universalização é atacada quando o governo através desta MP inconsequente, acaba com o os subsídios, sejam eles da natureza que for. As concessionárias e cooperativas, que atendem a população mais carente e as famílias que vivem longe dos grandes centros urbanos serão afetadas, uma vez que a viabilidade da sua sobrevivência depende destes incentivos.

Com o preço liberado, a bolsa de energia implantada, a energia sendo precificada por hora e as empresas sendo vendidas para o mercado, terá sido implantado o caos energético neste importante recurso tecnológico e estratégico para o país.

Outra medida catastrófica é a liberação de toda pesquisa desenvolvida no CEPEL até então para o setor privado. O conhecimento gerado pelos profissionais ao longo de anos de pesquisa será liberado sem qualquer custo ao setor privado, sendo considerado um saque à nação e ao povo brasileiro. Bem sabemos o valor incalculável do conhecimento. Esta entrega significa mais que isso, significa mais um ataque ao patrimônio nacional.

A privatização da Eletrobras, anunciada pelo ministro de minas e energia do governo golpista dia 21/08 terá como efeito imediato o aumento da energia para a população. Cerca de 20% a 30% da energia custa R$11,00 para ser gerada nas empresas estatais, dependendo da hidrologia do país. Cerca de 20% da energia custa em torno de R$40,00 pelo MW gerado nas empresas estatais. Com a venda para o mercado esta energia passa a custar R$200,00 pelo menos. É só verificar o preço no mercado livre de energia.

Precisamos mobilizar nossa população para defender a soberania, o preço, o patrimônio do povo e os empregados que garantem o funcionamento deste importante serviço para a população brasileira.
Nenhuma alteração deve ser realizada de forma tão profunda e por mais acertada que fosse (que não é), poderia causar danos irreparáveis no setor elétrico.

#NenhumaEmpresaAMenos
Tiago Bitencourt Vergara
Florianópolis, 23 de Agosto de 2017.

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Miguel do Rosário

Miguel do Rosário é jornalista e editor do blog O Cafezinho. Nasceu em 1975, no Rio de Janeiro, onde vive e trabalha até hoje.

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Comentários

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Orlando Filho

24/08/2017 - 15h27

A privatização da Eletrobras e a Casa da Moeda são apenas o gatilho para as 2 piores privatizações que estão a caminho. Todo o solo brasileiro e a Petrobras, esta uma bandeira usada em todo carnacoxinha.

Gustavo Horta

24/08/2017 - 09h29

Não à Privatização do Setor Elétrico pretendida pelos genocidas econômicos que usurparam o poder traindo a Nação!

E AGORA ENTREGARÃO A ELETROBRAS…HAJA CU.
HAJA ESCULACHO
HAJA ESCULHAMBAÇÃO
HAJA ESCRACHO
HAJA ARREGAÇO
HAJA BACANAL

EITA BORDEL ESTE BRAZZILLL!

“Bem vindos ao inferno. Bienvenido al infierno. Welcome to The Hell.”
> https://gustavohorta.wordpress.com/2016/05/12/bem-vindos-ao-inferno-bienvenido-al-infierno-welcome-to-the-hell/

Renata Zampaglione

24/08/2017 - 10h25

“Reduzir a capacidade do governo de manipular o setor para fins políticos”
FALSO. Agora, os benefícios políticos serão concedidos aos políticos de forma indireta, pelos megaempresários titulares da empresa.
“O prejuízo da empresa deixa de ser um problema do contribuinte”.
FALSO. Como qualquer produto existente no mercado, o prejuizo da empresa é repassado no valor do produto, de forma a favorecer a lógica do lucro. Se isso fosse verdade, o transporte público tenderia a ter uma diminuição do seu custo, em vez de aumento, por ser um setor privatizado.
“(…)diminui o apadrinhamento político”
FALSO. O político deixa de apadrinhar, para ser apadrinhado pela empresa.
“Melhora o ambiente do país ao desarmar bombas do governo, permitindo mais investimentos”.
VERDADE. Porém, os investimentos crescem, pois os grandes empresários passam a ter grandes vantagens financeiras, o problema, é que esse lucro é construído, normalmente, em cima dos mais pobres.
“Gera ganhos ao governo, diminuindo o problema fiscal e a conta que você paga da crise”
VERDADE. PORÉM quem sai ganhando é o governo (em especial a classe política) e os empresários. Se pagam altos impostos, é porque o lucro é alto. E se o lucro é alto, é porque a população está pagando caro pelo produto/serviço.

Renata Zampaglione

24/08/2017 - 10h25

Temer tendo reuniões as madrugadas com Aécio Neves. sabia que tinha dedo podre desse verme!

Manoel R.de Mello Jr

24/08/2017 - 01h06

O POVO BRASILEIRO PRECISA PARAR DE SER OMISSO E SUBMISSO,DA MESMA FORMA QUE O NOSSO STF ESTA HOJE,COM RELAÇÃO AO QUE ESTA OCORRENDO NO BRASIL,NESTE MOMENTO DE VENDA DOS ATIVOS DE NOSSO PAIS , BANCADO PELO BANDO DE POLITICOS INESCRUPULOSOS ,CANALHAS E GOLPISTAS FDP’S , QUE ASSALTARAM A NOSSA REPUBLICA DEMOCRATICA .
O POVO BRASILEIRO PRECISA TOMAR ATITUDES MAIS DRASTICAS , CONTRA ESTES DESMONTES OU SENÃO VAMOS FICAR COM A IMPRESSÃO E A CERTEZA DE QUE O POVO NÃO GOSTA DO BRASIL E QUE SERA MUITO DIFICIL E IMPOSSIVEL VIVER EM PLENA DEMOCRACIA.

Henrique Mello

23/08/2017 - 23h51

Caro trabalhador do setor elétrico, quando você , após a privatização , tomar um pé na bunda; faça o que Dilma sugeriu : Se recicle, aprenda uma nova profissão. Se não conseguir, você ainda poderá dirigir Táxi ou um Uber !

    Ajax

    24/08/2017 - 08h59

    Não consigo entender como que um jornalista tem a coragem de postar isso. Será que você não enxerga! O trabalhador do setor elétrico esta nos alertando quanto ao risco que estamos correndo. É inadimissivel o que esta acontecendo no nosso querido Brasil. Acorde faça jus a sua função. Precisamos de você. Afinal somos todos brasileiros.

FELIPE VICENTE

23/08/2017 - 22h31

PREZADO SENHOR JORNALISTA MIGUEL DO ROSARIO,
PEÇO-LHE QUE DÊ UM TRATAMENTO JORNALÍSTICO ADEQUADO PARA DIVULGAR OS CONCEITOS APRESENTADOS DE FORMA AUTÊNTICA POR NOSSO COLEGA TIAGO

Almir Dall Alba

24/08/2017 - 01h18

A esquerda infantiliza a política, a existência humana se resume a eterna criancice que perfecciona um eterno pai dos pobres, a esquerda tira qualquer resquício de brios que a pessoa pode ter


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