A militante feminista Drica Madeira denuncia, em artigo enviado ao Cafezinho, o desmonte das políticas para mulheres perpetrado pelo PMDB no interior do Rio de Janeiro.
Não dá para trapacear na política para as mulheres porque ela é nossa!
Por Drica Madeira
Certa vez eu fui ao programa de televisão da Ana Maria Rattes, em Petrópolis, falar sobre o trabalho realizado pelo Centro de Referência e Atendimento à Mulher – Tia Alice, o CRAM, e falei sobre os projetos que tínhamos apresentado ao governo federal, àquela época, ainda contava com a Secretaria de Política para as Mulheres, antes do golpe dado pelo PMDB – partido do desmonte dessas e outras políticas públicas, partido do também atual prefeito de Petrópolis, Bernardo Rossi.
Lembro-me de ter dito à Ana Maria, uma das minhas referências no movimento de mulheres, que seríamos uma das únicas cidades beneficiadas com esta unidade móvel de atendimento às mulheres em situação de violência doméstica, que quando o ônibus lilás chegasse poderíamos atuar em muitos bairros, em conjunto com escolas e PSF’s.
Aproveito esta oportunidade para resgatar um pouco da história deste equipamento, nosso ônibus surgiu na Marcha das Margaridas, em 2009, foram as trabalhadoras rurais, conhecidas pelo carinhoso apelido de margaridas, em homenagem a Margarida Maria Alvez, que solicitaram a SPM como forma de aproximação das políticas de enfrentamento à violência um equipamento que pudesse atender as mulheres do campo e da floresta.
Para cada estado foram disponibilizadas duas unidades dentro do Pacto Nacional de Enfrentamento à Violência, isso também aconteceu aqui no Rio de Janeiro, nosso município em articulação com a deputada federal Jandira Feghali, uma das maiores feministas deste país, relatora da Lei Maria da Penha não poupou esforços para que Petrópolis tivesse seu próprio ônibus e assim, em Junho de 2016 recebemos nosso ônibus lilás!
As petropolitanas vibraram, como é característico das mulheres que enfrentam, desde sempre, violências de todas as ordens para se manterem de pé, no quarto, no parto, na casa, no casamento, na política, na vida pública.
Enquanto coordenadora do CRAM estive em muitos outros programas de TV, dividindo com a sociedade petropolitana assuntos sobre atendimento às mulheres do município, a pauta sempre gerou um bom bate papo nos programas de TV’s locais, jornais, blogs, no mês de Março, por ocasião do Dia Internacional da Mulher, em Maio, pela visibilidade Lésbica, em Julho, falávamos das Mulheres Negras, em Agosto, por ocasião do sancionamento da Lei Maria da Penha, em Novembro, 16 Dias de Ativismo.
Somos muitas mulheres a falar, nossos assuntos também são muitos e isso é ótimo! Nos últimos anos temos nos mostrado preocupadas umas com as outras e temos ouvido muitos aplausos pelo trabalho que realizamos, independente de governo e partido, porque, uma coisa é certa, quando temos espaço, colocamos para quebrar!
Sobre o lamentável tratamento que o prefeito deu a “reentrega” do ônibus lilás, (uma espécie de reinauguração promovida pela atual gestão ao equipamento que já estava sendo utilizado pela população) devo confessar que fiquei surpresa, segundo o que disse o prefeito: “o ônibus fez algumas ações e depois ficou parado” e coube ao seu governo consertá-lo.
Caro prefeito, digo sem medo de errar: o ônibus não esteve quebrado, a mesma presidente do CONDIM, que hoje milita ao seu lado, aprovou o itinerário do ônibus em reuniões do próprio CONDIM e, por vezes, esteve com a equipe técnica em atividade durante o segundo semestre do ano de 2016.
Por favor, não traga para o combate e enfrentamento à violência contra as mulheres a pequenez da política feita pelos homens durante séculos.
Marias e Clarices sabem e todas as mulheres que tiveram na audiência pública na Câmara de Vereadores, além daquelas que precisaram e não foram atendidas que seu governo, até o mês de Maio, não viabilizou equipe mínima necessária para o atendimento àquelas que são agredidas e não têm a quem recorrer.
Prefeito, talvez, o senhor não saiba o quão importante é ter um serviço desta natureza funcionando ativamente e de forma qualificada no município que dirige, talvez sua assessoria não tenha lhe passado os dados do Instituto de Segurança Pública, do Dossiê Mulher, talvez o senhor nunca tenha ido a uma Conferência de Mulheres, a uma Delegacia de Mulheres, a uma Casa Abrigo, talvez o senhor nunca tenha escutado sua vizinha pedindo ajuda e, possivelmente, no seu mundo, as princesas não devem aparecer de olho roxo, talvez, elas estejam sempre à procura de príncipes encantados.
Para terminar, gostaria de lhe perguntar, prefeito, quanto tempo mais o ônibus ficará parado?
Sabemos que agora sim ele precisará de conserto, já que sofreu uma batida ao sair da Casa da Educação Visconde de Mauá, local aonde esteve estacionado antes do espetáculo invectivo, com certeza, será necessário reparar o dano.
Estamos todas na expectativa de que o enfrentamento à violência doméstica e familiar contra a mulher tenha um CRAM atuante e possa contar com sua unidade móvel equipada para o trabalho que se destina.
Porque, segundo o Instituto Segurança Pública (ISP), no Estado do Rio de Janeiro, a cada 12 minutos uma mulher é vítima de agressão física, 2 mulheres procuram uma delegacia por dia para fazerem registro de assédio, do total dos registros de ocorrência de agressão de 2016, 64% das vítimas eram mulheres.
Sendo assim, senhor prefeito, é importante deixar claro que as políticas de combate e enfrentamento à violência contra as mulheres são urgentes e absolutamente necessárias e, ressaltar que quem faz essa política acontecer são as trabalhadoras, estudiosas, militantes e especialistas dessa área.
Drica Madeira é Feminista e Mestre em Direitos Humanos.