Hoje eu me deparei com um texto no blog do Nassif, assinado pelos economistas Leonardo Guerra e Günther Borgh, comentando a tal “conta petróleo”, que teria ficado positiva nos primeiros sete meses do ano. Fui pesquisar melhor o assunto e vi que essa conta-petróleo é um dado que a imprensa brasileira vem divulgando sem oferecer mais detalhes ao público e sem pedi-lo também ao governo.
No sistema Alice, o banco de dados oficial do Ministério da Indústria e Comércio Exterior, aberto e público, não encontrei nenhum superávit.
Ao contrário, no item 27, que inclui todos os itens de combustíveis minerais (petróleo, derivados, gás), há um pequeno déficit de 53 milhões de dólares. O déficit caiu muito sobre o ano anterior, mas ainda é um déficit.
No item plásticos, por sua vez, há déficit de mais de 1 bilhão de dólares.
Se alguém me informar onde posso encontrar mais detalhes sobre a tal conta-petróleo, ficarei grato.
Enquanto isso, vamos analisar outras coisas.
Analisando os dados de comércio exterior, achei coisas muito interessantes. É uma pena que a imprensa brasileira seja tão ruim. Sua obsessão eterna por conspirações judiciais, agenda única no Brasil desde 2006, não ajuda muito a criar uma atmosfera de interesse por debates, artes e negócios.
Os brasileiros talvez ficassem contentes em ser informados sobre a sua própria economia, ao invés de serem marionetes de golpes de Estado.
Além disso, tal “conta-petróleo” é uma simplificação. É mais interessante saber quais países exportaram petróleo e derivados ao Brasil, quais importaram nosso petróleo, quais derivados exatamente a gente comercializa, etc, informações que a imprensa brasileira, por preguiça pura, sonega a seus leitores.
O Cafezinho tentará suprir essa lacuna.
O principal derivado de petróleo importado pelo Brasil é o óleo diesel. Na verdade, é o produto que mais pesa, de longe, em nossa balança comercial.
Nos primeiros sete meses de 2017, o Brasil importou 2,8 bilhões de dólares em óleo diesel.
Já na exportação, o Brasil obteve uma performance formidável nos últimos sete meses: exportou 10,76 bilhões de dólares em óleo bruto de petróleo, um aumento de 117,9% sobre o ano anterior.
Qual o país que mais elevou suas compras de petróleo brasileiro? Os Estados Unidos. O Tio Sam importou 1,6 bilhão de dólares de petróleo bruto brasileiro, nos sete primeiros meses do ano, 181% a mais que no ano anterior. Em volume, as importações norte-americanas do petróleo bruto nacional cresceram 94%, um aumento maior que o registrado pelas importações chinesas.
Os EUA estão aumentando suas compras de nosso petróleo bruto, o qual refinam, industrializam e nos revendem a preços muito mais elevados.
O petróleo bruto tornou-se o terceiro item da nossa pauta de exportação, depois da soja e da carne.
Entretanto, os Estados Unidos não iriam deixar que o Brasil invadisse impunemente aquele que ainda é o seu principal negócio: o petróleo.
Ainda mais agora, que eles voltaram a ser os maiores exportadores mundiais de derivados e precisam de mercados em expansão. Foi isso que a Lava Jato, em primeiro lugar, e o governo Temer, em segundo, ofereceram aos americanos: um grande mercado cativo para as multinacionais ganharem dinheiro com a venda de derivados, em especial o óleo diesel, cujo mercado os próprios americanos construíram no Brasil, ao orientarem nossa política de infra-estrutura, durante o regime militar, para que desinstalássemos nossas ferrovias e vinculássemos todo o nosso sistema de transportes ao uso de caminhões de carga.
Na tabela abaixo, eu listei os principais produtos norte-americanos exportados para o Brasil. A maior parte deles são derivados de petróleo.
Em primeiro lugar, está o Óleo Diesel, principal combustível usado no transporte de cargas no país. Também é um dos principais combustíveis usados nas chamadas Usinas Termoelétricas…
E agora a principal surpresa: o óleo diesel, nos últimos anos, tinha participação em torno de 7% nas exportações dos EUA para o Brasil.
Em 2017, porém, essa participação pula para 16,5%.
O óleo diesel exportado para o Brasil é o principal produto da ExxonMobil e Chevron, multinacionais norte-americanas que já tinham forte influência no governo Obama e que, na administração Trump, ocupam os principais cargos do Executivo.
Elas são as principais ganhadoras do novo cenário político e econômico do Brasil pós-Lava Jato e pós-golpe.
As exportações de óleo diesel dos EUA para o Brasil experimentam um crescimento muito forte a partir de março de 2016. No acumulado de sete meses de janeiro a julho, bateram um recorde histórico para o período: US$ 2,4 bilhões.
Os EUA estão controlando as importações brasileiras de óleo diesel de uma maneira impressionante. Segundo dados oficiais, este valor representou 86% de todas as importações brasileiras de óleo diesel (gráfico no alto do post). E isso ao mesmo tempo que o governo brasileiro determina que as refinarias nacionais tenham o seu índice mais baixo de produção de derivados.
Seguem outras curiosidades que encontrei no banco de dados de comércio exterior do governo.
China e EUA foram responsáveis por 36% das exportações brasileiras, em valor, e por 51,7% delas, em quantidade.
Apenas a China respondeu por 47% das exportações brasileiras, em quantidade. Isso acontece porque a China importa os nossos produtos mais pesados, como soja, ferro e petróleo.
Outro dado impressionante é que o trio soja, ferro e petróleo respondeu por 79% do volume exportado pelo Brasil em jan/jul de 2017.
Observe que o aumento do volume das exportações foi extremamente concentrado no trio soja-ferro-petróleo. Os outros produtos, somados, registraram queda de 10% na exportação deste ano.