Por Theófilo Rodrigues
Duas utopias confrontam-se em ruas, sindicatos, movimentos sociais e grupos de whatsapp: as “Diretas Já” e o “Volta, Dilma!”.
A utopia das “Diretas Já” acredita que o atual Congresso Nacional – o mesmo que na semana passada votou majoritariamente em defesa de Michel Temer – votará para que eleições diretas presidenciais ocorram no início de 2018.
A segunda utopia, a do “Volta, Dilma!”, confia que o Supremo Tribunal Federal – o mesmo que presidiu a votação do impeachment no Senado -, agora promoverá a anulação da condenação da presidenta.
Se o momento é de utopias, por que não pensarmos em uma que possa oferecer uma mudança cultural e permanente na forma como os partidos relacionam-se com a sociedade civil?
Por que não pensarmos na utopia do diálogo?
Hoje, um dos grandes inimigos do país é a falta de diálogo. O debate público está interditado, seja pelo ódio, seja pelas verdades absolutas que não escutam o que os outros têm a dizer.
Por que não pensarmos na utopia das “Prévias Já!” como instrumento para a superação dessa interdição do debate público?
Com as “Prévias Já!”, os partidos de um mesmo campo político poderiam durante alguns meses potencializar o debate na esfera pública acerca de programas e candidatos; mobilizariam eleitores que costumeiramente estão dispersos para decidirem quais princípios programáticos preferem e com quais nomes identificam-se.
Assim como houve de forma inédita na França na última eleição, poderíamos ter no Brasil um grande momento de reuniões politizadas com candidatos de partidos que compartilham minimamente um mesmo campo como REDE, PDT, PT, PSOL, PCdoB, PMB, PPL e PSB.
E – quem sabe? -, sair desse rico processo de engajamento na esfera pública com uma sociedade mais politizada.
Esse processo ocorreria nos primeiros meses de 2018, de janeiro até março. Nele participariam filiados, mas também não-filiados que se identificam com o projeto.
No caso francês, onde as prévias nunca fizeram parte da tradição política, cerca de 4 milhões, dentre os 47 milhões de eleitores do país, participaram do processo de escolha do candidato do campo conservador. No processo de primárias da esquerda, cerca de 2 milhões participaram.
No Brasil, onde o número de eleitores é o dobro do francês, é possível imaginar que as “Prévias Já” mobilizariam cerca de 10 milhões de eleitores, o que seria um número extraordinário para o debate público no país.
A vantagem das “Prévias Já” em relação às duas primeiras utopias é que ela não depende da vontade ou permissão dos adversários, mas apenas dos próprios interessados.
Se essa utopia não se realizar, os culpados serão apenas aqueles que seriam os maiores interessados.
Theófilo Rodrigues é professor do Departamento de Ciência Política da UFRJ.