Os ratos que tomaram o poder vão esticar a corda até arrebentar

03 08 2017 - Brasilia DF Brasil O presidente Michel Temer se pronuncia depois da aprovação no congresso e arquiva denuncia de corrupção que desautoriza o STF da investigaçãoo (Valter Campanato/Agencia Brasil

(Pura tranquilidade após se safar da denúncia criminal. Foto: Valter Campanato/Agência Brasil)

Por Pedro Breier

Tão vergonhosa quanto o arquivamento da denúncia contra Michel Temer, sacramentado ontem pela pior Câmara que o dinheiro pode comprar, é a postura da velha mídia ao noticiar mais um 7 a 1.

A manchete dos sites da Folha e do Estadão informam que o governo mais bandido da história do país vai centrar fogo, depois de sua podre vitória, no maior ataque a direitos de todos, a reforma da previdência. O Globo muda o foco para a Lava Jato, que providencialmente arrumou um jeito de desviar a atenção do absurdo que aconteceu em Brasília.

O tom ameno dos colunistas globais ao analisar o arquivamento da denúncia demonstra, pela enésima vez, que a indignação com a corrupção é apenas uma arma eventual para que os Marinho, Frias, Mesquita e seus comparsas possam interferir no jogo político a favor de seus interesses financeiros. Quando a agenda econômica do governo coincide com a da imprensa familiar, dane-se a roubalheira.

Outro fato que ficou cabalmente demonstrado, ontem, é o monstruoso poder do dinheiro em relação à política. A diferença para o que acontece normalmente é que Temer chutou, ou melhor, bateu um tiro de meta com o balde. Comprou (com dinheiro público, ou seja, nosso) à luz do dia os deputados, distribuindo emendas parlamentares como um Silvio Santos jogando aviõezinhos de dinheiro para a plateia, a fim de que os nobilíssimos congressistas o livrassem de qualquer incomodação.

Tudo isso sob uma cobertura plácida da mídia amiga. Fica cada vez mais óbvio que a postura crítica da Globo é apenas um patético fingimento.

O fato é que os ratos que tomaram o poder descolaram-se completamente da realidade. A desaprovação recorde do presidente sem voto e a desmoralização completa do parlamento são encaradas, estarrecedoramente, como um passe livre para saquear os cofres públicos enquanto destroem o país e investem contra os direitos da população.

De José Roberto de Toledo, do Estadão, aos melhores articulistas da blogosfera de esquerda, o diagnóstico é unânime: isso não vai acabar bem. A nova investida pela reforma da previdência pode ser o ponto de não retorno.

Os ratos ensandecidos que tomaram o poder de assalto vão esticar a corda até ela arrebentar. E a corda, inexoravelmente, em algum momento arrebenta.

 

Pedro Breier: Pedro Breier nasceu no Rio Grande do Sul e hoje vive em São Paulo. É formado em direito e escreve sobre política n'O Cafezinho desde 2016.
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