Lava Jato entra em cena para ajudar Temer (e o golpe), mais uma vez

O golpe tem uma assessoria de imprensa aparentemente sofisticada.

A fórmula, porém, é muito simples. Se houver qualquer risco de imagem, qualquer notícia que possa atrapalhar a “narrativa”, resolve-se com uma nova operação, novo espetáculo e novas prisões.

Eu entrei nos jornalões de hoje para saber como seria a “repercussão” da vitória da impunidade e eis que me deparo com… uma nova etapa da Lava Jato.

Minha concentração mental, que iria se debruçar sobre os efeitos políticos, não apenas os mais diretos, mas também aqueles mais sutis, imponderáveis, ligados à “narrativa”, da vitória de Michel Temer, se desmanchou imediatamente, recompondo-se em seguida para focar não mais na votação de ontem na Câmara, mas na Lava Jato.

Na Folha, o recado é direto: após denúncia, governo quer aprovar reforma da previdência. No Globo, idem, embora apontando que a vitória, por não ter sido tão expressiva como o governo gostaria, põe-se em dúvida a reforma da previdência. Mas essa dificuldade, pode-se resolvê-la com mais algumas operações da Lava Jato, de maneira a aterrorizar mais alguns políticos, obrigando-os a tentarem se salvar ficando ao lado da “força”, ou seja, ao lado do governo e das reformas.

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Spoiler 1: Lava Jato entra em jogo para abafar repercussão negativa de vitória de Temer na Câmara

O sub-Moro carioca, o juiz Marcelo Bretas, que condenou o almirante Othon a 43 anos de prisão, e que comanda a Lava Jato no estado, está cumprindo direitinho sua missão.

No dia seguinte à vitória de Michel Temer na Câmara, cuja repercussão política no imaginário popular seria a vitória da impunidade, o judiciário tratou de agir para apagar os rastros do golpe.

Bretas deflagrou outra fase da Lava Jato prende um ex-secretário de Obras do prefeito Eduardo Paes, com base puramente na delação de executivos da empreiteira.

Além disso, impõe-se ao imaginário popular que o Rio quebrou por causa da “corrupção”, e não porque o núcleo econômico do estado – as indústrias ligadas ao setor de óleo e gás – foi implodido.

Na Folha, vemos, na capa, um grande anúncio do Ministério da Educação, cujo custo poderia, talvez, pagar alguns meses de salários dos servidores e professores da UERJ que estão sem receber.

Miguel do Rosário: Miguel do Rosário é jornalista e editor do blog O Cafezinho. Nasceu em 1975, no Rio de Janeiro, onde vive e trabalha até hoje.

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