Texto: Douglas Finger(UCV) e Tulio Ribeiro (UBV)
Imagens: Coreo del Orinoco (eleitores enfrentam enchente pra votar)
É difícil dissertar sobre o momento atual do povo venezuelano sem se reportar a dicotomia entre as forças políticas internas e externas. Desde a Revolução Mexicana (1911-1940), quando o capital internacional foi praticamente expulso com estatização da exploração de petróleo em solo mexicano, os investimentos migraram para a Venezuela. Foi nesse contexto, que a direção do país deixaria de estar nas mão dos venezuelanos, para estar sob a interferência constante dos estadunidenses que valendo-se de uma aliança com uma elite “criolla” controlou a nação até a revolução bolivariana.
Em julho de 2017 esta relação de poder se reverbera, embora agora não se trate de uma aliança com o governo, mas sim para derrubá-lo, devolvendo as tradicionais elites a administração do país, o que em verdade se trata de uma terceirização, para que novamente a Venezuela se enquadre a cartilha de Washington. Com esse objetivo, a oposição hoje se sustenta com fortes investimentos dos EUA cuja a clara intenção é voltar a controlar a maior reserva de petróleo do planeta.
Retomar o controle do governo venezuelano, também poderia significar a interrupção do ciclo iniciado com a chegada de Hugo Chávez a presidência da Venezuela, que abriu passo a um período de ascensão social e econômica para nossa América, liderada por diversos governos com identificação popular e de que buscavam diminuir a dependência dos Estados Unidos.
A crise de 2008, somada as fortes pressões internacionais e também aos erros cometidos pelos governos progressistas, novamente colocou a América Latina em uma encruzilhada histórica, enfraquecendo politicamente vários desses governos, sendo que alguns deles foram vítimas de tentativas de golpe de estado ou mesmo de golpes consumados.
A Venezuela, em particular, enfrenta desde o falecimento de Chávez, diversos problemas: uma oposição incapaz de conviver em democracia e aceitar os resultados eleitorais, somados a uma queda histórica nos preços do barril de petróleo (de forma induzida), sua principal fonte de ingressos. Diante de tal situação, os níveis de aprovação do governo bolivariano diminuíram a ponto de saírem derrotados das eleições para Assembleia Nacional em 2015. Com maioria parlamentar, a oposição, em vez de trabalhar para melhorar o país, apenas decidiu incrementar o boicote ao Poder Executivo, inclusive defendendo o afastamento de Nicolás Maduro antes das eleições presidenciais de 2018.
Em completo desrespeito ao poder eleitoral, decidiram juramentar deputados que foram julgados e condenados por compra de votos e outros crimes, levando com que o Tribunal Supremo de Justiça declarasse a Assembleia Nacional em desacato. Mesmo sabendo que bastava afastar os deputados ilegalmente juramentados, a oposição preferiu entrar em conflito também com o poder judicial. Não bastando sua atuação completamente a margem da constituição, ainda começaram a incentivar manifestações violentas por todos o país, inclusive pagando a manifestantes violentos para atacarem escolas, hospitais e qualquer instituição vinculada ao governo chavista.
Diante de tão complexa conjuntura o presidente convocou, usando das atribuições que lhe concede a atual Constituição da República Bolivariana de Venezuela, uma Assembleia Nacional Constituinte para que, através da democracia se possam resolver os graves problemas que enfrenta a Venezuela. Repetidas vezes Nicolás Maduro e diversos outros representantes do governo convidaram a oposição a participar, e a mesma se recusou.
Cabe recordar, nas últimas semanas diversos líderes da oposição como Capriles Radonski, Freddy Guevara e Lilian Tintori entre outros discursavam para que as pessoas fossem comprar comida, e estivessem prontas para não sair de casa nos dias prévios a Constituinte e para que 30 de julho realizassem “trancazos”, com objetivo de impedir as pessoas de votar. Sendo que Tintori, pouco depois de dar declarações pedindo para que as pessoas saíssem a protestar, embarcou para Miami e sequer estava na Venezuela no dia das eleições para Constituinte.
Segundo informações, nos estados Lara, Táchira e Mérida houve mais casos de violência, com ataques a seções eleitorais e com tentativas por parte dos opositores armados de trancar ruas e impedir os eleitores de participarem do processo eleitora, ataques que provocaram mortes de pelo menos um guarda nacional, um candidato chavista a Constituinte e vários feridos. Muitas pessoas não puderam exercer seu direito ao voto, e mesmo assim o chavismo fez mais de 8 milhões de votos, sendo uma de suas maiores votações, nos 21 processos eleitorais realizados desde 1998.
A história do tempo presente deveria ter ensinado a oposição atual, que foi governo por 40 anos (1958-1998), a importância de defender a democracia como um alicerce de sua prática. Enquanto ela fosse propositiva, em um congresso no qual tem maioria poderia chegar a conquistar a hegemonia entre os venezuelanos. Ao se perder nos caminhos da violência, voltou a ser refém dos interesses estadunidenses do início do século vinte, adotando um discurso incapaz de alcançar a população. O chavismo, mesmo com dificuldades, continua a governar e agradece os repetidos erros da direita venezuelana.
Douglas Finger é graduado em História pela Universidade de Caxias do Sul(UCS) e Mestrando em História da América contemporânea pela ¨Universidad Central de Venezuela¨(UCV) em Caracas.
Álvaro Nascimento
19/10/2017 - 10h19
Penúltimo parágrafo:
“Segundo informações, nos estados Lara, Táchira e Mérida houveram mais casos de violência …”.
Correto:
“Segundo informações, nos estados Lara, Táchira e Mérida HOUVE mais casos de violência …”
Miguel do Rosário
19/10/2017 - 11h35
Corrigido, obrigado!
brito
10/08/2017 - 17h19
A vontade de votar pra não cair na mão neo liberal
Luciene
09/08/2017 - 18h20
Informativo e didático
Hilton
03/08/2017 - 14h17
Então vai passar a vida cobrando.
EUA quer ser dono do mundo
Kaila
03/08/2017 - 10h59
Eu fico imaginando se Deus cobrar todo mal que
EUA fez com América latina.
Miguel
03/08/2017 - 01h44
Quanta vontade de votar,os facistas vão falar que obrigaram
André
02/08/2017 - 23h49
Eu vejo como a notícia é deturpada na globo.,a tintori
Nem ficou pra eleição..
Acelera maduro
Fernanda Seixas
02/08/2017 - 16h06
O problema é que, não fossem veículos como O Cafezinho e pessoas como os professores, não teríamos informação isenta do que acontece na Venezuela. Fica até difícil ter opinião de fora. Uma coisa é certa, como diria Brizola, sempre que tiver dúvidas sobre que posição tomar, basta saber de que lado está a Rede Globo e tomar a posição contrária. A máxima vale para os EUA também!
Hilton
02/08/2017 - 13h56
Os Estados unidos não tem ética para cobrar ninguém
Maduro dei um show em estratégia.
O povo sai ganhando se livrar desta direita terrorista.
Parabéns ao Cafezinho por postar texto com pessoal da Venezuela.
Está foto diz tudo.
.
Toma essa
02/08/2017 - 12h51
“We know, without any doubt, that the turnout of the recent election for a national constituent assembly was manipulated,” Antonio Mugica, the chief executive of Smartmatic, said in London.
Está aí na fuça dos babacas manipulados…
Camila
02/08/2017 - 16h49
Olha o vassalo do império
Kaila
03/08/2017 - 12h04
Já foi desmentido ,esta turma de notícias falsas
Hilton
06/08/2017 - 23h44
Mais da turma do Bolsonaro
r
02/08/2017 - 11h53
permita discordar do articulista. afinal, aqui mesmo no Brasil, nós temos um governo usurpador que nós identificamos como sendo ditatorial, a despeito de estar usando os princípios constitucionais.
Evandro
02/08/2017 - 12h19
A diferença é que um usurpador e golpista ,e na Venezuela é eleito que convocou eleição
Camila
02/08/2017 - 11h35
Os Estados unidos não praticam respeito a democracia e contam com lacaios na Venezuela e na elite Brasileira.
Viva a política social da Venezuela.
Uma eleição inatacável.
Hilton
04/08/2017 - 00h10
Concordo, está aí a verdade
Viviane
02/08/2017 - 11h24
Os EUA são os que fomentam as ditaduras para ganhos próprios.
Interessante esta análise.
Não vai dar no pig.
Só aqui.
Luiz Carlos P. Oliveira
02/08/2017 - 11h10
Brilhante análise do professor. Mas a midia brasileira e mundial, que é contra o Chavismo, não noticia o que de fato acontece na Venezuela. Por isso é compreensível que ignorantes políticos tenham o chavão costumeiro “vai prá Venezuela, comunista”. Nada pode ser tão estúpido.
Camila
02/08/2017 - 11h37
Concordo .
Evandro
02/08/2017 - 11h41
E ainda tem vassalo dos EUA que criticam a Venezuela.