O deputado federal Jean Wyllys, a quem eu respeito e admiro, escreveu, lamentavelmente, um texto horrível sobre a Venezuela, cheio de todos os vícios, exageros e erros propagados pelo poderoso esquema de comunicação do imperialismo.
Espera-se que, depois de alguns milhões de mortos no oriente médio, em consequência do neoimperialismo americano, que abusou de estratégias midiáticas sórdidas, com apoio de jornais como El Pais, New York Times, The Guardian, Le Monde, BBC, ou seja, com toda a mídia corporativa ocidental, mesmo aquela considerada de “centro esquerda”, além da cooptação de inúmeras “organizações internacionais”, a ingenuidade e desinformação de Jean Wyllys seja um caso isolado…
Se Jean Wyllys quer falar sobre a Venezuela, deve visitar o país, conversar com lideranças da oposição, populares, militantes bolivarianos, autoridades do governo.
Aí sim, poderemos levar a sério a sua opinião.
O tom autoritário e arrogante do artigo, além disso, dizendo, já no título, que a “esquerda não pode apoiar Maduro”, não convence ninguém. Apenas provoca irritação.
O governo da Venezuela pode e deve ser criticado como qualquer governo do mundo. Mas afirmar que há tortura de manifestantes e “mais de 3.500 presos políticos”? Isso é mentira. Ou, o que é a mesma coisa, uma torção muito criativa e emotiva da realidade.
Ora, no Brasil as delegacias de polícia torturam gente e há dezenas de milhares de presos que também, sob alguma ótica, podem ser considerados “presos políticos”. E nem falo de agora, e sim dos governos Lula e Dilma. Não quer dizer que o Brasil vivesse uma “ditadura violenta”, e sim que o Brasil era e é um país ainda com uma arraigada cultura política de violência, como são, infelizmente, todos os países latino-americanos.
Entretanto, deixe a direita venezuelana chegar ao poder para ver o que é tortura, o que é repressão e o que é ditadura…
Transcrevo o artigo de Jean Wyllys, publicado no Facebook do deputado. Em seguida, acrescento alguns comentários interessantes que foram feitos na própria página dele.
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A ESQUERDA NÃO PODE APOIAR MADURO
Por Jean Wyllys, em seu Facebook
A situação da Venezuela é catastrófica, uma verdadeira tragédia humanitária. A ditadura de Nicolás Maduro, cada dia mais descontrolada e sem limites, reprime as manifestações com uma violência inusitada, cercea as liberdades públicas e avança sobre os outros poderes, eliminando os poucos resquícios de institucionalidade que ainda restam no país. Ontem, na eleição sem participação da oposição para uma Assembleia Constituinte considerada ilegal pelo parlamento e pela própria procuradora-geral da República (nomeada por Hugo Chavez), por volta de 90% da população decidiu não votar. E a resposta do governo foi “maquiar” os resultados depois de horas sem saber o que dizer, mentir ao mundo e ameaçar com um processo de cassação contra a procuradora e com enviar os deputados da oposição para a cadeia!!
Enquanto isso, nas ruas, a repressão estatal e paraestatal provocou mais de dez novas mortes. Desde o início dos protestos contra Maduro, já são mais de cem pessoas assassinadas, a maioria jovens.
A “constituinte” de Maduro é a última loucura de um regime que está podre há tempos. Foi convocada pelo presidente sem a aprovação do Congresso, sem a consulta à população e com um bizarro sistema eleitoral que garantia que, mesmo que a oposição participasse da eleição e tivesse muitos mais votos que o oficialismo, o partido do presidente teria uma ampla maioria na assembleia constituinte. Ou seja, era um jogo de cartas marcadas. O objetivo era substituir o atual parlamento, com maioria da oposição, que venceu por ampla maioria as últimas eleições que Maduro permitiu, porque as seguintes foram suspensas.
Foi por isso que a imensa maioria da população não foi votar ontem nessa farsa de eleição com partido único, apesar das ameaças do governo contra servidores públicos e beneficiários de programas sociais. Enquanto a maioria dos centros de votação estavam vazios, a polícia e as milícias do governo (os “coletivos” que patrulham as ruas em motos e fortemente armados) reprimiam brutalmente os protestos cidadãos.
HÁ MUITOS ANOS que eu digo que o governo venezuelano é indefensável. Comecei a falar isso quando a maioria da esquerda brasileira (inclusive a maioria do meu partido) defendia Nicolás Maduro. Fui muito criticado e insultado nas redes por isso, mas os fatos comprovaram que eu estava certo. Maduro é um ditador e nós da esquerda não podemos ser cúmplices de um ditador ou ficar calados diante da censura à imprensa, a perseguição contra os opositores, os presos políticos, os torturados, os assassinados.
Não há simpatia ideológica que justifique nada disso, e também não há motivos para ter simpatia ideológica com um regime que, além de ser antidemocrático (e isso deveria bastar para ser contra), também é corrupto, ineficaz e, apesar da enorme renda petroleira recebida pelo Estado venezuelano durante anos, levou o país ao caos econômico, o desabastecimento, a falta de comida e remédios e taxas de inflação e violência inéditas no continente.
Dizer tudo isso, como eu digo há anos (basta usar o Google para ler meus textos anteriores), não significa apoiar a oposição de direita da Venezuela. Como em todos os países, a oposição de lá é diversa e há setores de ultradireita (inclusive alguns que no passado se envolveram em tentativas golpistas), liberais progressistas, neoliberais, social-democratas, setores de esquerda, ex-chavistas e até marxistas. O que unifica os protestos na rua é a luta contra a ditadura, mas os programas para o dia depois são diversos e, quando a democracia for recuperada (quando o governo permitir eleições livres), os venezuelanos vão decidir. Cabe a eles decidir!
Denunciar as violações aos direitos humanos cometidas pela ditadura de Maduro, como eu faço, não me cega para, nem me faz negligenciar as violências insufladas e praticadas por setores da oposição a seu governo. Há manifestantes anti-Maduro vitimando fatalmente a sociedade civil que ainda apoia o governo ditatorial, embora também seja óbvio que este tem maior poder de fogo e, por isso, as vítimas fatais entre os manifestantes da oposição são em maior número. Além disso, o dever de fazer uso legal e responsável da força é do Estado, que é quem deve garantir a proteção dos direitos humanos. Tampouco ignoro que parte da oposição à ditadura em que se converteu o governo de Maduro é composta de uma elite egoísta e irresponsável que, com o objetivo de controlar a principal riqueza do país (o petróleo) e privatizar sua exploração comercial, sabotou economicamente a Venezuela, precipitando o país no abismo em que hoje se encontra. A resposta de Maduro a isso não poderia ser pior: instalar uma ditadura violenta!
Àqueles que, sempre que eu falo das violações aos direitos humanos na Venezuela, me respondem que eu estou “reproduzindo o discurso da mídia hegemônica”, eu recomendo que leiam o que diz Anistia Internacional (“Na Venezuela se viola toda a gama dos direitos humanos: econômicos, sociais, culturais, las liberdades fundamentais, o direto à associação, a liberdade de expressão”), a ACNUR (segundo a entidade, de nenhum país chegam tantos pedidos de asilo como da Venezuela), a CIDH (estima que na Venezuela há mais de 3500 presos políticos), o Comitê contra a Tortura da ONU (desde 2014 denuncia casos de tortura contra manifestantes, inclusive mediante descargas elétricas) e até a própria procuradora-geral, Luisa Ortega, uma ex-chavista que hoje denucia os assassinatos de opositores e disse que no país “se violam os direitos humanos como nunca antes na história”.
Não há justificativa para que a esquerda se cale diante dessa desumanidade. E estou falando, inclusive, do meu próprio partido, o PSOL, que muitas vezes (com a minha oposição pública, porque eu não me calei) apoiou Maduro. Qualquer nota oficial do PSOL defendendo Maduro não me representa (NUNCA me representou e eu já esclareci isso muitas vezes ao longo dos últimos anos) e a repudio absolutamente. O partido deve fazer uma autocrítica clara, profunda e sincera.
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Alguns comentários na página do deputado:
Diogo Costa O deputado Jean Wyllys está lamentavelmente muito mal informado. A convocação da Assembleia Nacional Constituinte não precisa da aprovação do parlamento, nem do Tribunal Supremo nem do Conselho Nacional Eleitoral para ter validade. Segundo a própria Constituição venezuelana, é uma atribuição do presidente da república (ou de outros poderes, mediante condicionantes) a convocação da Assembleia Constituinte. Não há a menor dúvida em relação a isso. Vejamos o que está escrito e expresso na Constituição da Venezuela a esse respeito:
“[…] Capítulo III
De la Asamblea Nacional Constituyente
Artículo 348. La iniciativa de convocatoria a la Asamblea Nacional Constituyente podrá hacerla el Presidente o Presidenta de la República en Consejo de Ministros; la Asamblea Nacional, mediante acuerdo de las dos terceras partes de sus integrantes; los Consejos Municipales en cabildos, mediante el voto de las dos terceras partes de los mismos; y el quince por ciento de los electores inscritos y electoras en el registro electoral. […]”
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Vinícius Carvalho Esse texto do Jean Wyllys representa tudo o que não presta e o que tem de pior nos dois mundos: direita e esquerda. É ONGueiro e Cirandeiro à esquerda e Neoliberal à direita.
George Soros, Luciano Huck e João Dória agradecem.
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Daniel Kenzo Que incoerência! Denuncia o golpe no Brasil e apoia os golpistas na Venezuela. Queria uma ditadura como a da Venezuela, em que a população é convocada para eleger uma assembleia Constituinte.
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Adriano França Fernandes Respeitosamente, considero que você está absolutamente errado. Primeiro que 8 milhões de eleitores não podem ser desconsiderados e esse número é chancelado por entidades observadoras internacionais. Mesmo perante o boicote e terrorismo praticado por extremistas.
Tá faltando observar o fator estruturante da geopolítica, que permite traçar paralelos na AL e no Mundo. O caso venezuelano, em que pese más decisões de maduro, e erros de intensidade variada, é o interesse pelo Petróleo que faz os EUA se aliarem a setores da oposições venezuelana que são ultra semelhantes aos nossos patos verde-amarelos. Mas mais violentos. eles matam pessoas, explodem bombas letais contra os policiais não é de hoje.
Até a linguagem dos cartazes e certas clivagens que atacavam Dilma, atacam Maduro. O Imperialismo e sua máquina de propaganda atuam pesadamente, com impactos nas demais mídias e ONGs suspeitas e parciais, como Human Rights Watch OEA servem para alimentar essa máquina. Os EUA, a Globo, a Fox, a CNN e outros não se caracterizam por desejar o bem de nenhum povo e nem deixam de exaltar ditaduras quando lhes convém.
É como foi aqui com Dilma, não tem nada a ver com corrupção as elites lá querem retomar o que não conseguem no voto. Os vassalos do império, todo imundos e com indicadores de miséria e conflito social bem piores que a Venezuela, como o governo Temer, o governo Santos (Colômbia), o governo Peña Nieto (México) atuam para aumentar a desestabilização. É a mesma estrutura das revoluções coloridas, da Primavera Árabe, é tudo fake. Parece que essa sua análise é baseada só no que a mídia hegemônica diz, e isso é preocupante. Abaixo, um link interessante sobre a multiautoria e multicausalidade da violência letal nesta quase guerra civil.
A diferença da Venezuela para o Brasil é que lá o STF funcionou e impediu mais um golpe da direita, lá eles têm um exército que tem consciência de seu papel, diferentes das nossas FFAA aqui. E por aí vai.