Gleisi Hoffmann expõe contradições de golpistas sobre a Venezuela

Gleisi Hoffmann, presidente do PT e Mônica Valente, secretária de relações internacionais do partido, escreveram um artigo sensacional, cheio de informações que a mídia sonega sistematicamente sobre a Venezuela e seu processo político.

O texto expõe, com clareza constrangedora, as contradições dos golpistas brasileiros, que se posicionam contra um processo democrático em outro país, que consulta o povo, enquanto avançam sua agenda autoritária aqui, sem jamais ouvir a população e as forças sociais organizadas.

O governo nascido do golpe já é, de longe, o mais rejeitado da história do Brasil. Essa é a consequência do golpe: um país instável politicamente, débil economicamente, com perdas violentas de softpower (e portanto perdas geopolíticas e econômicas). Um país que nem os próprios brasileiros nem o mundo respeita mais.

Essa é a consequência de um golpe articulado por um judiciário ensandecido de egoísmo de classe, associado a uma mídia profundamente antinacional e antipopular, que conseguiram, de alguma forma, assumir o controle, via chantagem e pressão, sobre os setores mais corruptos da política parlamentar.

É um alívio constatar que o PT se posicionou de maneira firme em favor da democracia venezuelana. E um exemplo para outros partidos.

No site da Rede Sustentabilidade, quase só há notícias sobre Marina: Marina Silva apoia isso, Marina Silva apoia aquilo.

No site do PSOL, não encontrei nada sobre a Venezuela – se houver alguma coisa, me avisem. Mas descobri, após consulta ao Google, que uma das correntes do PSOL, a CST, é violentamente antichavista e contra a Constituinte. Não por menos, sua posição ganhou destaque – ontem – no blog de Lauro Jardim, da Globo.

O Cafezinho, naturalmente, apoia que a Venezuela saia da crise pela via democrática, consultando os cidadãos. Por isso, apoia o governo eleito do país e as soluções democráticas que vem adotando.

Eu só faria uma observação crítica a Gleisi Hoffmann, que estendo a todos os parlamentares da esquerda. A mesma energia que investem para produzir e publicar artigos na Folha, poderiam usar para produzir e publicar na mídia não-corporativa. Não sou contra publicar artigos na mídia corporativa. A esquerda tem de se comunicar mais e melhor com todos os públicos.

Mas observem bem: é preciso se comunicar com TODOS os públicos.

Produzir e publicar artigos na mídia não-corporativa seria uma maneira sincera de valorizar os veículos que constituem a única resistência concreta, diária, para a distopia totalitária midiático-judicial para a qual o golpe vem nos empurrando.

De resto, trata-se, como já disse no início do post, de um belíssimo petardo contra as contradições dos golpistas. A democracia tem de ser defendida aqui e lá fora. É preciso, portanto, defender a Constituinte venezuelana e Diretas Já no país. É um petardo tão bom, aliás, que eu repito as críticas que fazia à Dilma: por que não fazer isso todos os dias? Por que não apostar pesado na inteligência, a única arma que os golpistas jamais poderão nos roubar?

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Convocar o povo para decidir seu futuro

Por Gleisi Hoffmann e Mônica Valente
30/07/2017 02h00

Adeptos da tática \’black bloc\’ fazem barreira de escudos em manifestação opositora na capital venezuelana
A convocação de uma Constituinte na Venezuela tem sido motivo de crítica por parte da oposição do país e do governo sem credibilidade e sem voto do Brasil.

A votação deste domingo (30) naquele país escolherá representantes regionais e de vários setores profissionais, entre eles pescadores e empresários, estudantes e trabalhadores urbanos e rurais, pessoas com deficiência e aposentados.

Mais de 52 mil venezuelanos se inscreveram para concorrer às 500 cadeiras, segundo o Conselho Nacional Eleitoral. O que há de ditatorial num escrutínio direto? Voto é voto, regional, setorial ou nacional.

A Assembleia tratará de temas diversos, como a formulação de um acordo de paz entre governo e oposição, um novo e fundamental modelo para acabar com a dependência do petróleo sobre a economia local, a consagração de direitos sociais, democracia participativa, modificações no sistema judicial, a identidade pluricultural, os direitos da juventude e até medidas para proteção ambiental.

Todas as mudanças terão de ser posteriormente aprovadas em referendo pela população. Mais uma decisão popular, o que parece não ser do agrado do governo ilegítimo do Brasil.

Ao convocar o povo para decidir sobre seu próprio futuro, o presidente Nicolás Maduro afrontou os interesses de quem, invariavelmente, se posiciona contra o uso dos recursos do petróleo na área social.

O governo Maduro, como todas as gestões, tem erros e acertos. Pode-se gostar ou não dele, mas foi eleito pelo voto popular, tem mandato até 2018, como era o de Dilma.

Há pelo menos dois anos, resiste aos golpes da oposição, a qual iniciou um violento processo de desestabilização política que mergulhou a nação no caos. Assim, os opositores de Maduro alimentam uma polarização que deixou mais de cem mortos, de ambos os lados.

Nós, do PT, desejamos que essas divergências possam ser dirimidas de forma pacífica. Outros, infelizmente, apostam no isolamento da Venezuela e no acirramento de seu conflito interno.

Nicolás Maduro não personifica os fardados de alta patente que assombraram nosso continente nos anos 1960 e 70. Seu partido venceu 17 das 18 eleições desde 1998, quando Hugo Chávez ganhou pela primeira vez a Presidência.

Suas atitudes, inclusive, contrastam em muito com a atual experiência de alguns vizinhos latino-americanos, que viram a democracia ruir após golpes parlamentares ou judiciais patrocinados pela união entre as elites econômicas e os partidos conservadores.

O plebiscito organizado pela oposição recentemente não seria possível em uma ditadura sanguinária, conforme seus detratores afirmam que é o governo de Maduro.

A exemplo do que ocorre em outros locais, a elite venezuelana também não quer dividir o bolo com os mais pobres, algo representativo da herança cultural e da colonização dos povos do continente. No entanto, precisará de votos para impor sua agenda diante do governo Maduro.

Aqueles que, aqui no Brasil, clamam por democracia na Venezuela deveriam começar a clamar por democracia também no nosso país, uma vez que ela foi usurpada por um golpe parlamentar que arrancou uma presidenta inocente e legitimamente eleita e que mantém no poder um corrupto comprovado, com altíssima rejeição popular.

Antes de bisbilhotar na casa dos outros, cuidemos da nossa. Na Venezuela, como no Brasil, a solução é o voto.

GLEISI HOFFMANN é senadora (PT/PR) e presidenta do PT. Foi ministra da Casa Civil (governo Dilma)

MONICA VALENTE é secretaria de Relações Internacionais do Partido dos Trabalhadores

Miguel do Rosário: Miguel do Rosário é jornalista e editor do blog O Cafezinho. Nasceu em 1975, no Rio de Janeiro, onde vive e trabalha até hoje.
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