(Foto: Beto Barata/Fotos Públicas)
“Farinhas do mesmo saco”
Quando o ex-atual-reabilitado senador, Aécio Neves foi desmascarado pelas gravações da Polícia Federal, onde apareceu muito mal na fita, depois de ter feito a “molecagem” de submeter Dilma Rousseff ao impeachment, sem que houvesse crime que o justificasse, petistas olhavam para os adeptos do “mineirinho”, com cara de: “bem que avisamos”.
A esta altura, os que tiraram dos armários as caçarolas “Tramontina” e nelas bateram em suas sacadas de vidro fumê, forte o bastante para fazerem barulho, mas com o cuidado suficiente de não marcar o teflon do fundo, quedaram-se taciturnos e silenciosos. Trancaram as caçarolas, e tiraram da caixinha um velho chavão: “são todos farinha do mesmo saco”. Era o máximo que conseguiam repetir como argumento para tal derrocada.
A frase, do tempo da “zagaia de gancho” – só para reproduzir outro chavão da época -, tinha um subtexto. Um dar de ombros, infantil: “pouco importa, não acreditamos mesmo em política…” Não tinham nem vontade, nem sequer argumento para defendê-lo. Preferiram escapar pelo “popular” e genérico.
No que acreditavam e acreditam, é nos seus dogmas de classe média, defensora de suas parcas conquistas, incluso aí o poder aquisitivo de ter um conjunto Tramontina nos armários da cozinha (desculpem o merchandising). No que acreditam, é que precisam defender os interesses de um mercado que regula os juros das suas prestações, mas os coloca rumo a Miami nas férias, mesmo que seja em financiamento feito em dez vezes. E quando dizem que os políticos “são iguais”, têm respaldo na preguiça de pensar, no desinteresse pelos rumos, de fato, do país. Enrolados em bandeias, foram às ruas gritar pelo Brasil, mas o que defendiam, mesmo, era não ter que sentar ao lado de um pobre, no avião. O que os moveu foi o ódio e a identidade de classe, e não a “ideologia” do candidato. Por isto, pouco importava para eles o destino que deveria ter (mas não teve), o tal senador.
Diferentemente dos “paneleiros”, hoje a oposição têm motivos de sobra para, ela sim, sacar o tal chavão. O que se avizinha em nosso horizonte é a saída de Michel (mesmo depois de desembolsar os nossos bilhões para emendas “redentoras”), e a substituição pelo presidente da Câmara, Rodrigo Maia. Defensores das mesmas teses e reformas contra os trabalhadores, amigos do mercado financeiro, e entrosados com a Fiesp, esses, sim, são “farinha do mesmo saco”.
* jornalista e colunista do Cafezinho.