(Foto: Maria Lima)
Muito se especulou, nos últimos dias, sobre uma suposta “guerra” entre Globo e Michel Temer.
Para ser franco, eu nunca acreditei muito. Sempre me pareceu que a Globo tentava “driblar” as narrativas, ou seja, ela faz um movimento para um lado, e vai para o outro.
O objetivo da Globo, porém, nunca mudou: aprovar a reforma trabalhista e implementar um neoliberalismo radical no país, com privatização de todos os serviços públicos, incluindo saúde e educação.
Isso não é novidade. A elite brasileira sempre tentou fazer isso e nunca deu certo. O país se tornou profundamente desigual. A miséria, a violência urbana, o caos administrativo, o analfabetismo funcional, o recrudescimento de doenças graves, sempre foram a consequência desse tipo de orientação política.
Na verdade, é um tipo de política que não visa o bem do povo brasileiro, mas a elite não se importa com isso, já que, frequentemente, nem reside no Brasil. Ou então reside em ilhas de luxo completamente apartadas da difícil vida cotidiana dos brasileiros.
Dito isto, quero deixar registrado aqui que o Jornal Nacional, ontem, prestou grande serviço a Michel Temer. O bloco dedicado ao governo federal foi-lhe amplamente favorável.
Talvez o “ataque” da Record à Globo, mais a ameaça, por parte do governo federal, de executar as dívidas fiscais e bancárias do grupo, tenha surtido algum efeito.
Se for isto, se Temer e Globo fizeram as pazes, é uma pena.
A única coisa boa de toda esse miséria política que vivemos é assistir, comendo pipocas, os donos do poder se engalfinharem, torcendo para que todos se autodestruam.
Entretanto, um eventual acerto entre Globo e Temer também é bom para deixar as coisas mais claras.
O poder não está apenas no Planalto. O golpe é liderado por um consórcio de forças: Globo, poder judiciário, Fiesp, que se esforçam para controlar, milimetricamente, os movimentos da gang política que eles levaram ao Planalto.
De todos esses grupos, todavia, o papel da Globo me parece o mais determinante. Porque ela é quem tem o poder de impor as narrativas que controlam emocionalmente a população.
Temer se beneficia também do profundo desgaste do judiciário, cujos movimentos erráticos, desequilibrados, perseguindo uns e protegendo outros, e em ambos os casos, na perseguição e na blindagem, passando dos limites, produziram enorme irritação em setores sociais de heterogêneas orientações políticas e ideológicas.
A própria entrevista de Rodrigo Maia, presidente do congresso nacional, e possível sucessor de Temer no caso de derrota do presidente na Câmara dos Deputados, foi feita de maneira a afirmar a sua lealdade ao presidente.
Além disso, alguns fatos recentes mudaram a conjuntura:
- A condenação de Lula desviou a atenção da opinião pública por vários dias. E continuará desviando por tempo indeterminado. Ao mesmo tempo, as reações fortes em favor de Lula por parte de movimentos sociais, partidos de esquerda, intelectualidade, somadas à força do ex-presidente nas pesquisas, criam uma onda que leva a classe média conservadora e a mídia a voltar à sombra fresca do golpe.
- A aprovação da reforma trabalhista provou à Globo e às forças do golpe que Michel Temer tem plena capacidade de fazer o serviço sujo. A vantagem, para os movimentos sociais, é que as reformas propostas por Temer (assim como o impeachment de Dilma foi marcado pelo protagonismo de Cunha) serão marcadas pelo desprezo generalizado pelo atual presidente.
- A Globo pode ter se assustado com os “ataques” da Record e o espantalho da “delação de Palocci”, e com as ameaças de Temer de mandar executar as dívidas fiscais e bancárias do grupo. E decidiu recuar. Bandidos só respeitam outros bandidos por medo.
- A vitória de Temer no CCJ deixaram claro que derrubar o presidente numa Câmara de Deputados onde ele goza de folgada maioria, e que ele pode comprar com relativa facilidade, devem ter feito a Globo repensar sua estratégia de substituir Temer por Rodrigo Maia.
- Os efeitos dialéticos dessa nova conjuntura, porém, é que congresso e globo serão arrastados cada vez mais pelo profundo ojeriza que a população sente pelo governo Temer, e isso pode beneficiar Lula.