(Na foto, Cunha durante a votação do impeachment. Assim como foi usado para levar adiante o golpe, hoje é usado, pelas mesmas forças, para manter pressão sobre Michel Temer, obrigando o governo a correr contra o tempo para aprovar mais reformas antissociais, que saciem a sede de sangue da mídia empresarial).
(Abaixo, o texto enviado hoje para os assinantes do Cafezinho Spoiler, nossa análise política diária, em duas edições: a 1ª enviada às 07:30 am, a segunda às 9:30 am. Para assinar, cadastre aqui seu email. É gratuito.).
14/07/2017 7:30 am – – Mal se recuperava da ressaca pela vitória da aprovação da reforma trabalhista, a grande imprensa teve outra alegria, a condenação de Lula.
A pauta da imprensa então são os dois assuntos, tratados de maneira muito previsível.
A Folha publica análise bizarra de Carlos Ari Sundfeld, que chama a decisão de Moro, destroçada por inúmeros criminalistas do país, como “técnica”, e que será difícil contestá-la. Sundfeld é um professor de direito administrativo da PUC-SP que Folha e Veja convidam sempre que precisam de um tucano para corroborar suas teses. Em debates sobre o impeachment, por exemplo, chamavam-no para avalizar as teses de Janaina Paschoal e Miguel Reale Jr.
Na era tucana, Sundfeld tinha como missão defender o governo FHC. Na época, sua opinião era sempre no sentido de que as denúncias contra tucanos não tinham base.
A Folha, nos últimos dois dias, já deixou bem claro de que lado está: em favor de Sergio Moro, e não vai deixar que seus leitores tenham acesso a uma visão crítica e plural da sentença.
Um membro da Transparência Internacional, organização notoriamente criada pela CIA, aparece nas páginas da Folha, com destaque na capa, dizendo que a condenação de Lula mostra que “nem poderosos” ficarão impunes…
No Valor, há uma matéria sobre a delação de Cunha, aquela que vazou para a Folha antes de existir. A reportagem diz que os investigadores não sabem se irão aceitá-la ou não: dizem que aceitarão uma das duas: ou de Cunha ou de Lucio Funaro (doleiro), e com isso pressionam ambos a oferecerem o que o “mercado” de delações deseja.
Funaro contratou o advogado Antonio Figueiredo Basto, antigo conhecido da Lava Jato curitibana, especialista em “ajeitar” a delação do cliente ao gosto dos compradores do MPF.
O Globo hoje publica editorial no qual afirma que a reforma trabalhista proposta por Michel Temer beneficiará o emprego formal. O texto começa chamando as senadoras de oposição de “bolivarianas”, por causa de seu protesto contra a reforma.
Uma enquete na Veja sobre o destino de Lula onde já votaram 125 mil pessoas, perguntando se o ex-presidente deve ser preso ou eleito presidente, dá uma vitória de 75% a 25% a Lula.
A vitória suja de Michel Temer na CCJ da Câmara, ganhando uma eleição na base da compra de deputados via emendas eleitorais e por uma troca maciça de membros da CCJ, não é motivo de editoriais furibundos da mídia.
A depender do plenário, Temer fica. A vitória da reforma trabalhista saciou um pouco a sede de sangue dos deuses vingadores da grande imprensa. Eles dão a entender que, se Temer prometer mais vitórias como essa, poderá esticar o seu mandato.
O “placar” da Folha, que diz ter conversado com todos os deputados, é fortemente favorável a Temer. A oposição só tem 179 votos, no momento, dos 342 necessários para autorizar uma investigação contra o presidente, obrigando-o a se afastar.