Por Chistiele Dantas, Especial para o Cafezinho.
Não é novidade para nenhum brasileiro em sã consciência que a Rede Globo trabalhou, desde sua criação, para atrapalhar o desenvolvimento de nossas instituições democráticas. A Rede Globo é uma das principais responsáveis pela ausência do movimento da História, do acontecer transformador, que nunca alvoreceu na realidade brasileira; da Revolução em sentido lato. Seu fundador, Roberto Marinho, conspirou em 1965 para impedir a realização de eleições diretas. Em 1989 a emissora abraçou a campanha de Collor e se utilizou de nefastos subterfúgios para destruir a campanha de Lula. Agora, depois de tributar em favor do golpe que derrubou Dilma, um representante do Grupo, Paulo Tonet (vice-presidente de relações institucionais), recebeu Rodrigo Maia em sua residência, num encontro que antecipa a queda de Temer, pautando as eleições indiretas e urgência das Reformas.
São três tempos de nossa História marcados pela presença de uma instituição que se arroga o direito de interferir no destino de uma nação inteira, em nome de sua subserviência ao imperialismo estadunidense. O Tio Sam investiu milhões de dólares na criação da Globo e contou com o apoio dos militares que viram no veículo o potencial para disseminar uma ideologia de Estado anti-progressista, e, paradoxalmente: nacionalista e entreguista.
Em 1965, ano seguinte ao golpe militar, o embaixador dos Estados Unidos no Brasil, Lincoln Gordon, enviou a seus superiores um telegrama relatando a interferência de Roberto Marinho em decisões tomadas pela cúpula do governo, em nome da renovação do mandato do ditador Castelo Branco. Roberto Marinho atuou como representante da cúpula junto ao presidente para persuadi-lo a prorrogar seu mandato. O dono da Globo defendia uma emenda constitucional para permitir a reeleição de Castelo com voto indireto, com receio de que a eleição direta alçasse ao governo uma liderança de esquerda.
Nas eleições de 1989, Fernando Collor de Melo, foi apadrinhado por Roberto Marinho, que colocou sua máquina de propaganda para projetar o candidato desconhecido, chancelado pelos partidos de direita, que assim como o lacaio dos imperialistas, pretendiam afastar – novamente – o perigo vermelho. O primeiro ataque à campanha de Lula foi o circo midiático construído a partir do seqüestro do empresário Abílio Diniz, fato que associou o Partido dos Trabalhadores à ação guerrilheira, identificando a legenda como principal articuladora do seqüestro. Junto aos pertences dos seqüestradores foram “plantadas” bandeiras e faixas da campanha petista. Como se não bastasse esse golpe baixo, o último e famoso debate entre Collor e Lula foi manipulado pelo núcleo de jornalismo. O debate foi editado para favorecer o candidato da elite branca. Anos depois, o segundo homem da Globo, o diretor Boni, reconheceu que Collor contou com total apoio do aparelho ideológico, em suas palavras: “Todo aquele debate, foi, foi… não o conteúdo. O conteúdo era do Collor mesmo. Mas a parte, vamos dizer assim, informal, nós é que fizemos”.
Nesta semana, foi noticiado pela Folha, que após se encontrar com Temer, Rodrigo Maia se reuniu – secretamente – com Paulo Tonet, representante do Grupo Globo, para tramar a queda do presidente. Maia tomou café com o atraiçoado, almoçou com os mafiosos da Globo e jantou com os conspiradores que o ajudarão a editar mais um capítulo da novela, enredada na intriga e na conspiração.
O poeta Cazuza anuncia cantando que O tempo não para. No Brasil, o tempo não para, mas ao mesmo tempo, não passa, pois o passado de arbitrariedades engendradas por interesses espúrios, e expresso pela constante presença do patrimonialismo, se atualiza na cultura política, como entoa a canção, “eu vejo o futuro repetir o passado, eu vejo um museu de grandes novidades”. Tal situação estacionária, de colossal inércia, é o retrato torto pendurado na galeria de nossas misérias. O encontro do provável futuro presidente da República com o garoto de recados da Globo é a certeza de que estamos parados no tempo.
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