O Triplex de Outros Trópicos
Por Grijalbo Coutinho, magistrado do Trabalho desde 1992, mestre e doutorando em Direito pela UFMG
O problema de fictício lugar denominado Outros Trópicos é, de fato e de direito hegemônico da classe dominante, um Triplex, mais precisamente um maldito triplex que arranca ódio em ágoras e logradouros recheados de ignaros e coléricos insuflados por parte de quem é mestre na artimanha de camuflar os seus reais interesses imediatos ou mediatos.
E Não estamos aqui nos referindo exatamente ao badalado Triplex da Jaguatirica litorânea dos bandeirantes, utilizado como hábil manobra de conteúdo simbólico para também escamotear a “res pública” de exceção em voga nos niemeyerianos altos e baixos candangos responsáveis por arrasar ainda mais trabalhadores com as suas deformas ávidas pelo retorno ao século XIX, na relação conflituosa de classe entre o “capita” e os que não apitam.
O problema de Outros Trópicos, é, sem sombra de dúvidas, um robusto Triplex, o Triplex erguido pela gerência governamental dos negócios capitalistas para ampliar e potencializar o aprofundamento das mais variadas misérias sociais. Afinal, essa foi a razão de ser, a essência principiológica do ato consistente no golpe político aplicado contra muita gente honesta e trabalhadora, incluindo parte considerável dos sujeitos amareladamente vestidos como massa de manobra da comunicação “globalizada”.
Sobra reduzido espaço para hesitar em torno na natureza do processo kafkiano em curso. O verdadeiro governo Triplex de Outros Trópicos foi levado ao poder para cumprir a velha missão histórica do sistema econômico do acúmulo de riquezas, encontrando-se, assim, alicerçado nos três pilares fundamentais a seguir indicados:
1) Dizimar mais rapidamente conquistas e direitos sociais da classe trabalhadora e dos demais grupos explorados, oprimidos e discriminados da sociedade tropicaliente, com especial ênfase para os Direitos do Trabalho e Previdenciários, bem como liquidar outras políticas públicas relevantes, sob os auspícios do Estado Democrático de Direito do Capital e do Mercado Financeiro assegurado pela Carta Magna dos Ricos Neoliberais Financistas e Rentistas. Os seus princípios fundantes são recitados em verso e prosa, diariamente, por jurisconsultos, muitas vezes antigos causídicos ou pareceristas formais do grande capital, os denominados constitucionalistas “globalizados”, neoliberais de renome no cenário nacional da cultura jurídica legitimadora da opressão secular de natureza escravista, colonial, hipertardia e dependente.
Esses vaidosos constitucionalistas “globalizados” , os neoiluministas de luzes sociais foscas quando não apagadas, amantes do velho e novo antagonismo social de Casa Grande e Senzala, ficam inebriados quando não excitados com os aplausos fáceis em casas empresariais quando se põem a desancar o Direito do Trabalho com mentiras de pernas curtas e dados comprados por empresários escravocratas. Para eles, o trabalho protegido é o culpado pelas taxas modestas de lucros dos ricos, pela “pobreza franciscana” dos bancos, pela globalização que ainda não conseguiu enxotar todos os trabalhadores para as favelas e pelo atraso do país que merecia ser ainda mais desigual.
Tudo isso, destaque-se, segundo visão dos sofistas escravocratas da pós-modernidade tropicalista, nada mais nada menos do que proeminentes ventríloquos do ideário neoliberal dotados da pretensa sabedoria político–constitucional evoluída senão apenas de uma secular sabedoria antissocial comprometida com os interesses mais retrógrados, conservadores , reacionários e mesquinhos da sociedade.
2) Entregar o patrimônio público e as riquezas nacionais a grupos estrangeiros por valores meramente simbólicos, incluindo um tal abundante e petulante Pré-Sal que teimou em ser por demais saliente, salgado ou azedume para a gente de Outros Trópicos, mas com indescritível sabor de mel de alguma abelha ou de “mamão com açúcar” para o “Deus Mercado”, o mercado financeiro.
3) Auto preservar-se, com a garantia de imunidade aos integrantes graúdos da gerência governamental acusados de graves crimes de corrupção profissionalizada e de longa data, mediante o soerguimento dos dois primeiros andares antes apontados e de larga distribuição de polpudas verbas públicas à velha gutemberguiana oligopolista e golpista, salvo na hipótese de eventual desvio de percurso do referido processo político jamais almejado pelo establishment fugir do script ou do controle do poder repressor da justiça política e assim o obrigar a agir em relação a um ou outro gerente governamental aliado e flagrado com a mão na massa pela sede exacerbada e escancarada pelo vil metal. Em tal hipótese, pode ser viável mudar o síndico do Triplex para tudo continuar como dantes no quartel de Abrantes, provavelmente por morador envernizado de probidade apenas pelo mercado, pois da mesma turma entreguista neoliberal e do mesmo quilate moral do golpista-mor.
Considerando que no mundo tropical tudo começa e termina com o Triplex, na Tríade arquitetônica de Outros Trópicos, contudo, somente podem ingressar e se lambuzar com o inferno alheio três categorias de distintas e bem vestidas pessoas, quais sejam:
I- Homens ricos e ávidos por maior opulência extraída da miséria do povo tropicalista.
II- Agentes políticos acusados de graves crimes contra o patrimônio público, jamais incomodados para valer pelos gutenberguianos tradicionais e os seus parceiros, até porque, diga-se, figuras incumbidas momentaneamente da missão nobre de gerenciar o Triplex de Outros Trópicos, exceto quando os padrões de aparente moralidade restarem destruídos em praça pública.
III- Os donos da velha gutenberguiana de Outros Trópicos, sujeitos para além de neoliberais convictos contra as políticas públicas gerais e o papel Estado como seu formulador, senão pessoas de “bens” (de muitas posses) profundamente “sociais” quando buscam abocanhar verbas públicas para incrementar os seus negócios capitalistas, parcialmente abalados em tempos cibernéticos incessantemente revolucionados, mediante propagandas governamentais intensificadas para provar a honestidade da parceria responsável por estripulias resultantes em kafkiano e bonapartista processo de tomada e gestão do poder.
Por último e para completar o terceiro Tríplex de Outros Tópicos, ou seja, o Triplex do Tríplex do Triplex, existe barulho intramuros de apoio à Casa Grande pós-moderna, agora elevada, sobretudo do ponto de vista linguístico e discursivo, à qualidade de Triplex, pela entusiástica plateia assim composta:
1º) Massa de gente manobrada pela velha gutenberguiana, que acredita no discurso “global” de que a corrupção é obra de uma gerência específica do sistema econômico e pode ser realmente extirpada no âmbito do sistema capitalista, por intermédio de bases éticas, transparentes e civilizatórias na relação entre o público e o privado, sem compreender, portanto, os meandros das campanhas falsamente moralizadoras empreendidas de tempos em tempos, bem como os seus efetivos propósitos políticos, econômicos e financeiros, como sói acontecer na brevíssima e rica história de Outros Trópicos, sempre sob roupagens distintas, evidentemente.
2º) Pessoas identificadas com políticas concretizadoras das mais altas taxas de exclusão social, além de amantes do ódio e da violência contra adversários políticos e ideológicos.
3º) Aparato repressor que se vangloria de ter refundado a República, embora jamais consiga explicar o motivo pelo qual a metodologia eleita para as suas ações não apenas tem sido fator decisivo para conduzir a jovial e desigual Outros Trópicos, a passos largos aos tempos de marcantes contrastes sociais entre a opulência burguesa e a miséria operária, como também ter a onda moralizadora vesga bem articulada, dentro e fora de Outros Trópicos, em aparente paradoxo, assentado no poder político protótipos de imperadores do capital acusados do cometimento de crimes de corrupção ainda mais graves ou mais orgânicos, em comparação com os delitos imputados aos antigos inquilinos despejados do poder e com as biografias de seus personagens nas duas gerências governamentais – antes e após a consolidação do Triplex em Outros Trópicos -.
O clima de normalidade em Outros Trópicos, para os mantenedores e entusiastas do Triplex ali erguido, é impressionante, a ponto de alguns dos sujeitos acusados do cometimento de graves crimes de corrupção liderarem e redigirem quase duas centenas de medidas(artigos de uma legislação trabalhista) para retirar direitos e garantias dos trabalhadores, sempre em clima de urgência, sem serem eles, os algozes obreiros, questionados sobre a sua legitimidade política para condenar à senzala o povo trabalhador que nenhum crime cometeu. Em outras palavras, os réus julgam e condenam sem dó nem piedade as vítimas nesse tribunal surrealista da audácia burguesa tropicalista, nesse verdadeiro teatro do absurdo..
Enfim, Outros Trópicos parece condenada a viver como colônia dependente, repleta de miséria social profunda entre a imensa maioria de sua população, mas com fartura material abundante destinada aos poucos ricos e seus capatazes instalados dentro e fora da estrutura do Estado,. A tríade do Triplex lhe persegue tal como as tretas(farsas) somente se tornam mirabolantes quando executadas por sujeitos igualmente capazes de tornar a realidade uma imitação da arte, da arte da enganação, da máxima exploração obreira e da grossa corrupção suavemente protegida por vários despachantes do capital e pelo uso da desavergonhada justicia política(Kirchheimer) contra os inimigos reais ou imaginários.