Por Wellington Calasans, Colunista do Cafezinho
Foto: Arquivo/Wellington Calasans
A oposição política ao (des)governo Temer (incluo aqui os ativistas de esquerda sem filiação partidária) em muito se assemelha ao narrador dos jogos de futebol pela TV: fala o que todos assistem. Não há hoje nenhuma diretriz para que a maioria insatisfeita da sociedade possa formar uma base de resistência capaz de barrar os avanços seguidos do golpe. Não há um foco definido.
A continuar com esta postura, de mera observadora/narradora distante, estará esta oposição em breve a cumprir o mesmo papel das birutas de aeroporto. Por enquanto, há nos ventos da imprensa, justiça e do atual grupo político no poder um trabalho sincronizado de entretenimento que cadencia os movimentos dessa oposição, mas isso irá mudar com o aprofundamento da crise e aí o povo vai perceber que não tem um líder.
Se as forças progressistas e de resistência não tomarem uma iniciativa, dando um direcionamento ao descontentamento da sociedade, quem vai pegar o vácuo dessa falta de comando será o fascismo, simbolizado na figura bizarra de Bolsonaro. Com números ainda irrelevantes nas pesquisas, este projeto de Trump tupiniquim é a “não política” para os “não politizados”, uma versão moderna e trágica para o famoso “pé torto para um sapato roto”.
O PT que é a maior representação da oposição, assim como em 2014 quando preteriu a fraca Marina Silva e optou por Aécio no segundo turno, incorre no mesmo erro de escolher o adversário. Se naquele ano vimos ter sido um erro ter Aécio como “vice” (segundo colocado), agora temos a repetição do erro na clara, mas não declarada, escolha de Bolsonoro como adversário.
Ao ignorar que a sociedade foi dividida pela Globo e que há uma estratégia internacional com interesses claros de produzir o caos social, as forças da oposição, o PT em especial, não medem o risco que será a tentativa de conter o sentimento crescente de vingança desse povo. Quer por estar envergonhado por ter tirado Dilma para entrar com esses ladões, como por ser bombardeado pelo velho mantra da imprensa de que “os políticos/partidos são todos iguais”, muitos são alienados políticos.
Empurrar o golpe com a barriga para chegar em 2018 como única alternativa é uma estratégia perigosa. O caos social tem sido construído diariamente com o avanço da agenda do golpe. As forças de oposição sequer preparam a sociedade para mostrar que os fascistas assanhadinhos já estão dentro deste (des)governo. O “não debate” produz analfabetos políticos, amplia a ignorância e estes são os combustíveis que alimentam o fascismo.
É preciso que as forças da oposição rompam com o medo histórico da esquerda brasileira de mencionar a palavra mágica: revolução. O acirramento voltará com força total em breve. A volta da divulgação de fake news na velha imprensa e redes sociais é uma prova de que há uma nova lavagem cerebral em curso. O Trump tupiniquim é exaltado ao dizer que sua “especialialidade é matar” e o povo é preparado subliminarmente para desejar a “morte de todos esses políticos ladrões”. Precisa desenhar?