(Foto: Fernando Rodrigues/Poder360 – 1º.jul.2017)
Nada mais sintomático dos novos tempos do jornalismo brasileiro, do que Rodrigo Janot, procurador-geral da república, ser a principal estrela do congresso da Abraji, que é há muitos anos inteiramente controlada pela Globo.
No evento, Janot participou alegremente, falando sobre casos em aberto, violando a ética da profissão na maior cara de pau.
É muito interessante olhar o quadro de patrocinadores e apoiadores da Abraji. Tirando um ou outro site que eles botaram lá nitidamente só para disfarçar (como Nexo: sua presença ao lado dos grandes chega a ser engraçada), os organizadores do golpe estão todos ali.
Há o grande capital americano, representado por várias empresas, a começar pelo Google, o qual, se já foi uma empresa progressista nos EUA, sua postura no exterior é a mesma de todas as empresas norte-americanas: associando-se ao status quo local, jamais às forças do trabalho que lutam para desenvolver o país. A participação das grandes empresas de tecnologia da informação na onda de golpes coloridos no mundo foi desmascarada por Snowden. A NSA chegou a ter, em muitos países, acesso a informações privadas de usuários do Gmail e Facebook.
Em seguida, o quadro de patrocinadores traz, em letras garrafais, a Globo. É sintomático que eles tenham posicionado a empresa norte-americana acima da Globo (no cartaz dentro do evento, ver foto acima).
Entre os apoiadores, não falta nem mesmo o consulado americano de são paulo.
O jornalismo investigativo no Brasil tornou-se uma assessoria de imprensa do Ministério Público Federal. O controle político do MPF, porém, da mesma forma que com o STF, transladou-se para a Globo.
Os barões da imprensa entenderam que era muito melhor pegar a notícia diretamente da fonte, comprando procurador e juiz. É uma maneira de terceirizar a atividade jornalística, com uma grande vantagem: o contribuinte paga o salário de seu colaborador.
Como comprar procuradores e juízes? Ora, com prêmios, sinecuras, entrevistas.
Mala de dinheiro, há tempos, é usada apenas como isca para otário. Não sei como tem corrupto que ainda cai nessa.
Outra maneira da mídia “converter” procurador ou juiz, transformando-o numa espécie de agente duplo, é com ameaças diretas ou veladas. Especialmente com a arma mais letal do mundo moderno: a morte em vida, o assassinato de reputação, o seu, o de sua mulher, a perseguição a seus filhos.
Entretanto, esse último escândalo da JBS, do qual Janot se orgulha, tem dois pontos bizarros, que o jornalismo investigativo deveria mirar: a migração de procuradores para escritórios de defesa, e a corrupção de procuradores.
Tudo isso deveria ser o principal objeto de uma imprensa livre e democrática, porque imagina o perigo: de um lado, um poder cada vez maior para o Ministério Público. De outro, cada vez mais procuradores corruptos, irresponsáveis, messiânicos, pouco amantes da lei, hostis aos movimentos sociais e aos direitos humanos.
A combinação dessas duas coisas já mostrou o resultado: o estado de exceção, a anarquia dos ricos e especuladores, o império dos mandarins. Com toda a ruína, econômica, política, empresarial, sindical, moral, que isso acarreta.
O mandarinato dos procuradores tem essa afinidade com o monopólio da mídia: ambos não querem que nada floresça à sua sombra. Querem reinar sobre escravos submissos e obedientes, mas como isso é impossível acabam por criar enormes desertos à sua volta.
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Janot diz que só prova “satânica” selaria em definitivo ligação entre Temer e Loures
1 de julho de 2017
De acordo com o procurador, ninguém “passa recibo” para esse tipo de atividade ilícita, então o fundamental é “olhar a narrativa” e “apresentar indícios fortes” que liguem o denunciado ao crime.
O Procurador Geral da República, Rodrigo Janot, declarou neste sábado (11), em debate no 12 Congresso da Abraji (Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo), que seria preciso uma “prova satânica, quase impossível” para selar definitivamente a ligação entre Michel Temer e a mala com R$ 500 mil carregada por seu ex-assessor Rodrigo Rocha Loures.
Foi assim que Janot rebateu as críticas de que a inédita denúncia de corrupção passiva contra um presidente em exercício, que apresentou na segunda (26), é frágil —faltaria a “prova cabal” para associar o peemedebista ao dinheiro.
Janot fez um trocadilho com “prova diabólica”, termo jurídico que significa prova excessivamente difícil de ser produzida.
O problema é que ninguém “passa recibo” para esse tipo de atividade ilícita, então o fundamental é “olhar a narrativa” e “apresentar indícios fortes” que liguem o denunciado ao crime.
Já há 20, 25 anos, em começo de carreira na Procuradoria, ele e colegas se questionavam sobre o tema, contou. “Não é possível que, para pegar um picareta, tenho que tirar fotografia do sujeito tirando carteira do bolso do outro. Esse tipo de prova é satânica, quase impossível.”
*Com informações da Folha