A Globo noticiou hoje, em tom de comemoração, que o Brasil é um dos países cuja população mais confia na mídia, segundo uma pesquisa feita pelo Instituto Reuters.
(O link da pesquisa original, que é muito interessante e abarca vários temas relacionados ao futuro da mídia, em escala global e doméstica está aqui).
Isso, no entanto, como tudo que a Globo diz que é bom, é uma terrível notícia.
É a prova de que o Brasil é um país de trouxas.
A notícia da Globo, como de praxe, é inteiramente manipulada.
A Globo não informa, por exemplo, que a Finlândia, primeiro lugar no ranking dos países que mais acreditam na mídia, é um país onde os principais meios de comunicação são públicos.
Na Finlândia, a Yle, empresa pública de mídia fundada em 1926, tem quase metade do market share de tv e rádio do país, e uma longa tradição de simpática de causas progressistas e socialistas.
Até 1985, a Yle detinha o monopólio do rádio na Finlândia. É um sistema com vários canais de tv e rádio, abrangendo vários temas e públicos.
Os outros países com alto índice de confiança na mídia também tem tradicionais mídias públicas, além de sistemas plurais e altamente regulamentados, como Alemanha, Portugal, Inglaterra e Espanha.
Em Portugal, os principais e mais respeitados canais de TV são públicos: é o sistema RPT. Só o RPT1, um dos canais da RPT (há vários outros) tem 13% da audiência nacional do país.
Na Alemanha, o sistema ARD, que o Brasil conhece pelos sites da DW (inclusive em português) é inteiramente público. É o ARD, por exemplo, que compra os direitos de transmissão da Copa do Mundo e Olimpíadas.
No Reino Unido, a BBC é o principal canal de jornalismo do país. A Inglaterra tem jornais progressistas históricos, como o The Guardian, o site de jornalismo mais visitado no mundo.
Nos Estados Unidos, onde a maioria da mídia é privada, a confiança na mídia é de apenas 38%.
Na França, que no passado tinha uma confiável tv pública, mas que foi privatizada ao final da década de 80, e cujos jornais de esquerda passaram a ser controlados por grupos financeiros (e que mesmo assim, tem uma mídia infinitamente mais plural que a brasileira), o índice de confiança na mídia é de apenas 30%!
Os números mostram, portanto, uma situação alarmante para o Brasil.
Um nível de confiança de 60% na mídia num país onde a mídia é tão concentrada explica o poder nefasto da Globo e nos faz entender o golpe.
Se houvesse uma classe política decente em nosso país e uma universidade realmente preocupada com o nível de informação do povo brasileiro, a notícia da Reuters seria motivo de grande preocupação, e seriam organizados imediatamente ações para democratizar a mídia nacional.
Abaixo, a tabela completa divulgada pelo Instituto Reuters.