(Quer enganar quem? Foto: Leon Rodrigues / SECOM-PMSP)
Por Pedro Breier, colunista do Cafezinho
João Doria propôs, em 1987, quando era presidente da Embratur, transformar a tragédia da seca no nordeste em atração turística.
Segundo a revista Zebu (edição 58, página 23, neste link), Doria defendeu a redução das verbas que seriam utilizadas na irrigação do nordeste para aumentar as de turismo e “exibir os flagelados da seca porque os habitantes do eixo Rio-São Paulo só conhecem a seca através da imprensa”.
Esta inominável ideia permite-nos vislumbrar o que a ideologia de direita esconde, mas que está lá no fundinho do coração de cada conservador.
É a ideia de que muitos nasceram para sofrer, trabalhar feito condenados e servir, enquanto uns poucos iluminados nasceram para serem servidos.
Toda a balela da meritocracia e o discurso de que o Estado não se meter na economia é melhor para todo mundo serve para enganar trouxa. A visão de mundo da direita não apenas convive bem com a desigualdade social, mas entende-a como essencial para o funcionamento “normal” da sociedade.
Se os candidatos à destra fossem sinceros nas campanhas eleitorais não elegeriam nem um mísero vereador no Brasil inteiro.
Ainda bem que de vez em quando eles não se contêm e fazem na vida pública o que costumam fazer somente na privada, como demonstra gloriosamente Doria.
Ele teve a pachorra de dizer, hoje, que Lula deve poder concorrer em 2018 para perder as eleições e para “não criarmos um mártir e a vitimização que pode eternizar a figura de um mito que não é mito”. “Vamos enterrar o mito, vamos enterrar o Lula”, bradou.
Lula é o cidadão que resolveu levar água e luz para o nordeste, ao invés de turistas, e permitiu que um povo sofrido passasse a ter um pouco, que seja, de dignidade. Não por acaso, o presidente mais popular desde Getúlio Vargas.
É assustador que o prefeito da maior cidade do país apresente sinais tão fortes de megalomania e descolamento da realidade.
O problema, para os aristocratas do século XXI, é que o desejo de liberdade do ser humano, que move a roda da história, é imparável.
O destino inexorável do povo do nordeste e de todos os povos oprimidos do mundo só pode ser um: o da libertação.
Abaixo, notícia sobre a canalhice de Doria no jornal O Globo de 2 de julho de 1987 e notas na Folha de São Paulo e na Gazeta Mercantil: