(Foto: Marcelo Camargo/ Fotos Públicas)
No Valor, que hoje pertence 100% a Globo, abaixo de uma belíssima publicidade da Petrobrás, me deparo com a seguinte matéria:
O artigo de Cristian Klein é uma inteligente análise sobre as agruras e dilemas do PSDB diante da denúncia de Rodrigo Janot contra Michel Temer. Vou resumi-los em algumas frases.
A estratégia de Janot é fatiar sua denúncia em pelo menos três: além da já divulgada denúncia de corrupção passiva, virão ainda duas outras, uma de formação de quadrilha, outra de obstrução de justiça. Com isso, o PGR planeja “cercar e sangrar” Temer.
O PSDB, diz o analista do Valor, está “desnorteado”. Não sabe se fica ou sai do governo. O “custo de apoio” está ficando muito alto, refletindo-se nas pesquisas de intenção de voto, como mostrou o Datafolha de ontem.
É um tanto curiosa a maneira extremamente delicada com a qual a imprensa trata os difíceis “dilemas” do PSDB.
Nenhum dos adversários ou críticos do PSDB jamais ganham qualquer espaço para fazer comentários sobre as escolhas do partido.
Esses críticos do PSDB diriam coisas pesadas, naturalmente. Diriam, por exemplo, que a permanência do PSDB no governo Temer demonstra cumplicidade do partido com a roubalheira e com a corrupção.
O candidato do PSDB à presidência da república, em 2014, foi Aécio Neves, hoje também acusado por corrupção e outros crimes (e não por “convicção” de algum procurador, nem por teorias “explacionistas”, ou coisa que o valha, de algum dallagnol, mas com provas: malas de dinheiro e gravações da voz do próprio Aécio), que também se tornou presidente do partido.
O PSDB, que passou os últimos anos surfando um golpismo bananeiro e um moralismo de ocasião, arrisca-se a cair no mesmo abismo moral no qual já vemos Michel Temer e Aécio Neves em queda livre.
O anúncio da Petrobrás, por outro lado, ajuda a explicar a lhaneza semiótica com que a Globo trata tanto os dilemas do PSDB, quanto a sordidez sem fim do governo Temer.