Os números do Datafolha divulgados hoje provam que a política é um animal selvagem que não gosta de viver dentro dos ambientes domesticados da mídia.
Em condições normais, poderíamos dizer que é muito cedo para uma pesquisa de intenção de voto para 2018.
Mas não vivemos condições normais. Uma pesquisa eleitoral, portanto, num momento tão dramático do país, influencia o espírito nacional mais do que o faria em tempos mais calmos.
Os números do Datafolha mostram Lula firme na liderança, ancorado numa vigorosa recuperação de seu partido, o PT, favorito hoje por 18% da população, contra 5% do PSDB e PMDB.
O principal adversário de Lula hoje não é mais o PSDB, cujos candidatos se estagnaram em terceiro ou quarto lugar na disputa pela presidência, e que sofrerão, cada vez mais, a partir de agora, as consequências das contradições políticas e morais de seu apoio a Michel Temer e a Aécio Neves.
O pior adversário de Lula é o seu alto índice de rejeição, de 46%, segundo o Datafolha.
Por outro lado, os cenários do Datafolha para o segundo turno mostram que Lula explodiu teorias segundo as quais um candidato não poderia ter muito mais que um terço de rejeição, para poder se eleger num segundo turno.
Essas teorias devem ser atualizadas: num cenário altamente polarizado, como devem ser as eleições de 2018, uma rejeição inferior a 50% não impede uma vitória eleitoral. Se metade do eleitorado não suporta Lula, mas os outros 50%, mais um, votam nele, então Lula ganha a eleição.
Vale observar que a rejeição de Lula já foi maior: chegou a 57% às vésperas do impeachment de Dilma Rousseff, quando Sergio Moro vazou, criminosamente, os áudios do telefonema entre ele e Dilma, e a Globo e a Lava Jato passaram a bater no ex-presidente 24 por dia, visando neutralizar aquele que seria o único com capacidade política para desbaratar a conspiração golpista.
De lá para cá, a rejeição a Lula vem caindo: chegou a 44% ao final do ano passado, e vem se mantendo nesse patamar.
Para impedir que a rejeição a Lula continue caindo, todavia, o consórcio mafioso entre mídia e judiciário precisa falar de Lula todos os dias, inventando novas denúncias ou arrancando menções ao ex-presidente em delações obtidas sob tortura e chantagem.
Mas aí a máfia dos conspiradores caiu em sua própria armadilha. Ao manter o nome de Lula no noticiário, eles consolidam cada vez mais Lula como o candidato preferido do eleitorado para 2018.
Enquanto a rejeição a Lula fica estagnada ou reflui, a de outros candidatos dispara. Por exemplo, enquanto a rejeição a Lula se mantém estável entre 44% e 46% há mais de um ano, a de Bolsonaro dobrou de tamanho, saindo de 15% em abril de 2016 para 30% hoje. O próprio Sergio Moro, que tinha rejeição de apenas 9% no ano passado, hoje já conta com 22% do eleitorado que não “votaria nele de jeito nenhum”. A rejeição a Moro é maior que de João Doria, que é de 20%, e apenas ligeiramente menor que a de Luciana Genro e Ronaldo Caiado (24% e 23%, respectivamente).
Eu peguei os números do Datafolha divulgados hoje e os cotejei com a pesquisa detalhada feita ao final de abril último. Neste período, nota-se uma consolidação dos números, com redução do número de votos em branco, indecisos e nulos. A crise política está fazendo o eleitor consolidar sua posição de maneira mais antecipada do que em outros momentos.
Eu considerei três cenários de segundo turno, Lula com Doria, Moro e Bolsonaro. Nos três, Lula ganhou dois pontos, e seus adversários também, ou seja, a diferença se manteve estável.
Vamos analisar o cenário mais difícil para Lula: uma disputa no segundo turno com Sergio Moro. Embora improvável, porque dificilmente Moro largaria a magistratura para se aventurar na política, é um exercício interessante.
Observe que Sergio Moro ganha somente entre o eleitorado masculino, morador de grandes cidades do “Sul maravilha” e com renda superior a 2 salários.
Lula, curiosamente, apresenta uma força impressionante entre o eleitorado mais jovem, até 24 anos: tem 45% pontos, contra 37% de Sergio Moro.
Talvez essa força na juventude seja a característica mais interessante a ser explorada pelos planejadores políticos de sua candidatura.