Em sua coluna de hoje, o colunista José Roberto Toledo faz uma denúncia muito grave, embora disfarçada por seu estilo discreto: a Diretas Já defendida por FHC e de alguns tucanos, sob a capa de eleições gerais antecipadas, é uma grande farsa.
FHC sabe que a antecipação das eleições de 2018, envolvendo todos os governadores e parlamentares, é politicamente inviável. Até porque não teria apoio sequer de seus parlamentares e governadores. E apenas por isso FHC a defende: ela ajuda a quebrar um pouco a imagem, do PSDB, de partido aliado do governo Temer, a manter um mínimo de vínculo com a opinião pública, esmagadoramente favorável a novas eleições.
E se, por acaso, a crise continuar se aprofundando e a única saída realmente for novas eleições, diz Toledo, o PSDB poderá alegar que ele também a apoiou.
No entanto, é o que está implícito no texto de Toledo, o PSDB não encetará nenhuma energia real na construção de um consenso em favor de novas eleições.
Ou seja, é um discurso de mentirinha. Para enganar os trouxas.
Toledo considera, todavia, que nenhum grande partido, incluindo o PT, está interessado, realmente, em eleições antes de 2018.
Pode até ser. Não sei o desejo “secreto” do PT. Mas o fato é que partido dos trabalhadores está, na prática, investindo tempo e energia na defesa de eleições, e seus simpatizantes, militantes, eleitores ou ex-eleitores de esquerda, estão se mobilizando com muita força por eleições diretas.
Não se pode dizer nada parecido da “base social” do PSDB, cujo núcleo hoje é o eleitor que batia panelas para Dilma e participou das manifestações do impeachment. Esse setor social está pendurado exclusivamente na interminável novela da Lava Jato, cujo roteiro é escrito dentro do Projac.
Além disso, quando se olha para os candidatos dos respectivos partidos, PT e PSDB, as pesquisas indicam que o primeiro tem um candidato forte e o segundo, não.
O título do texto de Toledo, porém, e sua comparação – um tanto forçada – com as eleições na França, não tem nada ver com seu próprio raciocínio.
As eleições francesas dão oportunidade para muitas reflexões, e não necessariamente ruins para a esquerda, apesar da derrota histórica do partido socialista.
O aspecto positivo das eleições francesas é que ela prova a capacidade do eleitor contemporâneo de surpreender os partidos tradicionais e criar, quase de um dia para outro, uma nova força política.
O vai e vem da política francesa acontece a sua revolução de 1789: é típico da cultura francesa o pêndulo entre esquerda e direita, frequentemente de maneira radical.
A novidade, de qualquer forma, não foi tanto a derrota do partido socialista, que era esperada em virtude do desgaste político de vários anos de hegemonia no Executivo e Legislativo, somado à perda de todo contato com a juventude e com a classe trabalhadora, a novidade das eleições legislativas francesas foi o recuo além do esperado da extrema-direita.
O movimento França Insumbissa, encabeçado por Melenchon, que teve uma boa votação no primeiro turno das eleições presidenciais, apesar do desempenho pífio nas eleições legislativas, consolidou-se como principal força de esquerda no país, após empatar, em número de votos, com o famigerado Le Pen. Com uma diferença óbvia: enquanto Le Pen não tem apoio de nenhum economista sério, nenhum intelectual importante, nenhum artista, e suas manifestações populares são pequenas e envergonhadas, a França Insubmissa tem apoio de vários economistas, vários intelectuais e tem ficado a frente de manifestações cada vez maiores, com grande número de jovens, convergindo com uma revolta cada vez maior da classe trabalhadora francesa. Se o governo Macro não entregar melhorias econômicas substanciais, ele terá dificuldades crescentes de se opor às forças das ruas.