(Na foto, dois empregados da Globo)
Eu quero pedir desculpas aos petistas presentes ao vôo de Miriam Leitão. Provavelmente não disseram nada demais à jornalista e foram vítimas de uma campanha de difamação sórdida, que contaminou até mesmo jornalistas de esquerda, como este que vos fala.
O meu post em defesa de Miriam Leitão, conforme os que o leram na íntegra, traz inúmeras ressalvas ao possível exagero ou distorção do relato por parte da jornalista. Mas isso não foi suficiente, porque as ressalvas deveriam ter vindo no início do artigo, como premissa a todo o raciocínio.
Eu o escrevi, porém, com base numa preocupação. Independente de sua veracidade, ele representava um risco que eu precisava afastar imediatamente, que era atrair violência fascista contra o campo popular.
Miriam Leitão foi irresponsável, como de praxe. O que temos testemunhado, nos últimos anos, não são violências de “petistas” contra jornalistas, e sim de fascistas contra petistas e pessoas de esquerda em geral. E não são apupos politizados e quase delicados, como os que enfrentou Miriam Leitão durante o vôo da Avianca, mas ofensas pesadíssimas, ameaças de morte, law fare, espancamentos, invasões e depredações de sindicatos e sedes de partido. Recentemente, essas violências evoluíram para crimes contra a vida de alguns companheiros do MST.
O texto de Leitão ignora tudo isso e, por isso, não só é profundamente desonesto, como é cúmplice dessas brutalidades, porque, ao pintar a si mesma, uma jornalista protegida por todos os poderosos do momento, como vítima, ela aumenta os riscos vividos por todas as pessoas que hoje, essas sim, vivem uma situação de extrema vulnerabilidade.
A suposta ironia que ela encontra no fato de ser chamada de “terrorista” por um dos petistas (e tenho certeza de que, se houve essa acusação, é obviamente no contexto de suas análises constantemente alarmistas, quando a economia ia bem, em contraste a seu ridículo chapa-branquismo no momento em que as coisas vão mal, sempre a depender do interesse político de seus patrões) existe, na verdade, como alguém lembrou, por ela trabalhar, hoje, na mesma empresa que sustentou a ditadura que a levou à cadeia.
Reitero, portanto: presto minha total solidariedade aos petistas, não apenas aos do vôo de Miriam Leitão, como aos de todo país, difamados dia e noite pelo campo político do qual Miriam Leitão é uma das mercenárias mais bem pagas.
A esquerda brasileira é, seguramente, a esquerda mais pacífica, bem comportada e educada do mundo. A reação às acusações de Miriam Leitão mostram, inclusive, que ela é, em verdade, um tanto paranoica em relação a isso. A esquerda quer ser educada demais, bem comportada demais, pacífica demais.
A esquerda brasileira – ou pelo menos a sua suposta vanguarda política ou intelectual – tem neurose de bom mocismo.
Mea culpa, mea culpa, mea culpa.
Mas seria injusto, da mesma forma, exagerarmos esse defeito, até porque ele nasce, em verdade, de uma virtude, ou melhor, de um instinto, como eu já disse lá em cima: a preocupação de não estimular um clima de violência política que explode sempre no lado do campo popular.
As particularidades da nossa história política, e os fatos recentes confirmam isso de maneira trágica, nos tornaram uma esquerda extremamente cuidadosa contra o risco de ser descrita como truculenta, e, mediante esse artifício, ser exposta às truculências dos detentores do monopólio da violência.
No Brasil, o sistema de violência estatal se volta, sempre, contra aqueles que a mídia aponta como os “inimigos”: pobres, pretos, sindicalistas, membros de movimentos sociais, simpatizantes de partidos de esquerda, manifestantes contra o status quo.
Se você é um manifestante amigo da mídia, você estará para sempre protegido. Polícia, juízes, mídia, são todos seus amigos e protetores.
Se você não é amigo da mídia, cuidado!
A esquerda brasileira vive um ambiente tremendamente hostil do ponto-de-vista narrativo, porque sofre com uma das mídias mais violentas, fascistas e corruptas do planeta. De maneira que uma simples, educada e necessária manifestação política contra o monopólio da mídia, num vôo com a presença de uma jornalista da Globo, pode ser facilmente transformada em terrível violência verbal de bolcheviques enfurecidos, arrastando até mesmo experientes blogueiros e jornalistas de esquerda.
O caso Miriam Leitão é apenas mais um exemplo de que a grande mídia brasileira é o núcleo do golpe. É dela que partem, sistematicamente, os ataques mais canalhas.
A mídia brasileira não é vítima de nada. Ela é o verdugo mais cruel, brutal e impiedoso do povo brasileiro. O golpe – com todos os seus diabólicos desdobramentos jurídicos, políticos, econômicos e sociais – prova isso.
O principal esforço do campo popular deve ser remover a aura de “invisibilidade” da mídia. Ela deve ser mostrada como o principal partido político a ser combatido, e, portanto, os militantes petistas no vôo de Miriam Leitão estavam ao lado da razão histórica.
Entretanto, pelos riscos e complexidades do tema, deve-se tomar sempre o cuidado de gravar qualquer manifestação contra a mídia.
Os petistas cometeram o erro básico de gravarem apenas vinte segundos de vídeo. Toda a manifestação deveria ter sido gravada. Miriam Leitão apenas esperou dez dias para se manifestar e só teve a coragem de fazê-lo, porque entendeu que, depois desse tempo todo sem publicar nenhum vídeo, os petistas não tinham registro do momento.
Essa é a principal lição desse episódio: gravem sempre, gravem tudo!
PS: por favor, sem xingamentos. Estou tendo que apagar vários comentários aqui.