Manifestação pelas Diretas Já neste domingo, em Porto Alegre
Foto: Movimento Diretas Já
Na manifestação pelas Diretas Já que reuniu mais de 100 mil na Praia de Copacabana, nós aqui n’O Cafezinho analisamos a cobertura do evento pelos jornais da chamada grande mídia. Ontem, foi a vez do Luiz Carlos Azenha, que expôs no Viomundo a maneira “antenada” com a qual a Folha de São Paulo cobriu as manifestações deste domingo com multidões e Salvador em outras grandes capitais do país, entre elas São Paulo, Porto Alegre e Recife.
Abaixo, o texto no Viomundo.
por Luiz Carlos Azenha
Todo o provincianismo de um jornalão paulista, exposto na capa de segunda-feira
Milhares de brasileiros foram às ruas ontem em Salvador, Recife, São Paulo e Porto Alegre pedindo Diretas Já.
A imagem mais impressionante do dia se deu no Farol da Barra, na capital da Bahia, durante o show de Daniela Mercury.
Além de demonstrar que a palavra de ordem ganha tração nacional, os eventos serviram também para demonstrar o provincianismo daquele que se acredita o mais “antenado” dos diários brasileiros, a Folha de S. Paulo.
A capa da primeira edição desta segunda-feira é um primor do paulistismo.
Começa pela manchete: “Gilmar vê pressão sobre o Judiciário”.
De novo, Gilmar Mendes, o ministro tucano do Supremo Tribunal Federal, ganhou generoso espaço para defender sua atuação durante o julgamento da chapa Dilma-Temer no TSE.
Sob a manchete, a notícia realmente “importante” para a Folha: o novo ataque de Geraldo Alckmin e João Doria à cracolândia, agora situada a apenas alguns quarteirões da sede do jornal, que fica na Barão de Limeira, no centro de São Paulo.
Notícia dada com um viés claramente governista: “Nova operação contra o crack veta barracas no centro de SP”.
Notaram? A operação foi contra o crack, a droga maligna. Segundo a chamada, “a partir de agora, diz o poder público, não será mais permitido montar barracas na praça ou em qualquer outro ponto do centro. O objetivo é inibir a presença de traficantes em meio aos dependentes”.
O título sugere a invisibilidade dos dependentes, o texto sugere que a operação foi uma tentativa de protegê-los.
A verdade é que a operação deixará milhares de dependentes de crack expostos ao frio no inverno rigoroso de São Paulo, vagando pela cidade atrás da droga.
É marquetagem fuleira vendida como ação de saúde e segurança da dupla Alckmin-Doria, um regresso aos anos pré-Vargas, de Washington Luís, a quem é atribuída a frase “a questão social é um caso de polícia”.
As Diretas Já foram parar numa foto-legenda no pé da página 6, uma imagem que mostra uma manifestação esvaziada em Recife.
O protagonismo das mulheres e dos negros brasileiros, expressa nas fotos acima — dos Jornalistas Livres, Mídia Ninja e Guilherme Santos, do Sul 21— sumiu. Eles são tão invisíveis quanto os dependentes do crack.
Não por acaso, vivemos no país em que um ministro da mais alta corte fala em “negro de primeira linha” e o Planalto é ocupado pela primeira dama “bela, recatada e do lar”.
É o país em que o povo nas ruas não conta, a não ser quando associado aos interesses da elite econômica, onde literalmente “reinam” os gilmares e suas manobras de bastidores.