Foto: Anderson Riedel/ VPR
Por Tadeu Porto
Assisti o julgamento da chapa Dilma/Temer como quem assiste a segunda parte de Harry Potter e as Relíquias da Morte na TNT. Apesar de saber a complexidade da história, não tem como fugir da tranquilidade de quem já sabe o final, afinal, Temer falou para Joesley que falou para a mídia que falou para mim que ele, o presidente usurpador, teria maioria no TSE (não deu outra).
Bom, tenho que confessar que a minha serenidade não era apenas fruto da do spoiler que recebi e, portanto, me protegeu de surpresas, mas também pois o final que eu sabia era o mesmo que eu queria.
Não escondo de ninguém que, quantitativamente, concordo com Mendes e as figuras “singulares” (como o carrasco Napoleão) que apareceram nesse processo: meu voto certamente seria contra a cassação da chapa Dilma/Temer.
Primeiro, pelo desvio de finalidade. Abertamente confessada pelo Aécio que a ação só foi “pra encher o saco”, sendo o senador mineiro então presidente do partido derrotado nas urnas, a ação não faz o menor sentido do ponto de vista de querer corrigir uma injustiça. Guardada as devidas proporções, se assemelha muito com a abertura do impeachment da presidenta Dilma, que nada tinha a ver com decretos suplementares ou plano Safra, e era apenas um gesto de vingança do ex-presidente da câmara Eduardo Cunha (e que deixa qualquer um indignado).
Segundo, pois seria muito bizarro, com todas as provas apresentadas, querer cassar apenas uma chapa no amplo espectro político-partidário nacional que ganharam alguma função pública nas eleições de 2014. Ou seja, para cassar Dilma/Temer, no intuito de efetivamente mudar a maneira de fazer política no Brasil, os TSE’s nacionais e regionais teriam que, no mínimo, cassar pelo menos uns 60% de deputados, senadores e governadores. É óbvio que uma tarefa desse calão deveria ser feita com ampla participação popular e que alguns tribunais não conseguem exercer tal força em democracias normais.
Ademais, nada justifica deixar uma corte presidida por Gilmar Mendes decidir o futuro do executivo brasileiro. Poderia até ser legal agora, mas o preço pago por fortalecer atores antidemocráticos como o ministro do STF seria muito alto, maior que a satisfação de ver um rato como o Temer cair da cadeira que ele usurpou.
Contudo, apesar do resultado coerente, é impossível não se revoltar com o TSE, simplesmente porque não era para uma ação tão bizarra como essa ter chegado onde chegou. Deixar o país inteiro preso numa pauta de falso combate à corrupção é de uma irresponsabilidade descomunal, que em nada combina com a necessidade que o Brasil passa de uma agenda propositiva.
E, obviamente, quem fez a ação tucana caminhar foi ninguém mais, ninguém menos que Gilmar Mendes, golpista de primeira, que em 2015 queria utilizar qualquer instrumento que tivesse a seu alcance para derrubar a Presidenta Dilma.
Portanto, Gilmar fez uma cagada gigante ao fazer o TSE caminhar com uma ação claramente golpista e, quando precisou limpá-la (pois o Golpe já tinha ocorrido) não conseguiu esconder as contradições que seu discurso e suas tomadas de decisões carregavam.
Em outras palavras, Mendes limpou a “caca” que fez. Mas não conseguiu apagar da memória, de todos que acompanharam tamanha sujeira, o odor insuportável de se querer chegar ao poder à qualquer custo.